Um disco indispensável: Get a Grip - Aerosmith (Geffen Records, 1993)

No começo dos anos 1990 o conjunto musical estadunidense de hard rock Aerosmith mostrava seguir com tudo mesmo, já reestruturados depois de terem vivido um período de vacas magras no início da década passada, e com a volta de Joe Perry e Brad Whitford após terem deixado. Com um novo empresário e um contrato com a Geffen, o grupo foi decolando aos poucos na nova fase, embora o álbum Done With Mirrors (1985) ainda tenha sido um pouco esquecido pelo público, já ajudou e muito nesse momento, ainda havia espaço de sobra para ajudarem artistas novos como o Run DMC, conjunto de rap que revitalizou um hit da banda, estamos falando de Walk This Way com uma pegada totalmente diferente, mas mantendo aquele peso nas guitarras e, obviamente, o clipe ajudou e muito com isso. Os seus sucessores acabaram sendo responsáveis nesse sucesso da banda, desta vez contavam com um esquema de parecer superprodução de um álbum pop: tendo ali o canadense Bruce Fairbarn como o responsável por captar toda a sonoridade da banda, além do diretor artístico John Kalodner, um time de compositores para ajudar a banda, alguns como Desmond Child, Mark Hudson e Jim Vallance são alguns deles, além dos Margherita Horns, conjunto de sopros que Fairbairn tocava trompete e participavam das músicas do Aero. Uma fórmula dessas que ainda faz alguns de seus singles se tornarem sucessos grandiosos e ganharem clipes muito bem-feitos, mais o fato se terem sido veiculados na MTV diversas vezes. Os álbuns Permanent Vacation (1987) e Pump (1989) se tornaram fortes responsáveis pela nova vanglória dos Bad Boys de Boston, também aproximando eles de um público que na época estava mais afim de ouvir bandas como Skid Row, Bon Jovi, Cinderella - o pessoal do glam metal, com seus cabelos longos carregados de laquê e suas vestes ousadas onde tinham de calças apertadas com qualquer estampa, além de bandanas, brincos e coletes. Já o pessoal do thrash metal, em especial a galera do Slayer e do Metallica, cujos integrantes James Hetfield e Lars Ulrich se conheceram trocando um papo sobre bandas - entre elas o Aerosmith, mas quem teve as honras dignas de também estamparem na cara que foram influenciados pela banda, de dividirem o palco com eles saindo em turnê foram os Guns 'N' Roses, que estavam em voga graças aos sucessos dos álbuns Appetite For Destruction (1987) com boa parte do disco estourado, e o seu sucessor GNR Lies (1988) com seu principal sucesso, a baladinha acústica Patience e aquele assovio mágico da canção que seduz. Ou seja: fecharam os 80 no azul, desfrutando de uma popularidade imensa que não se via desde os anos 70, quando eles tinham lançado clássicos como Toys in the Attic (1975) e o brilhante e inesquecível Rocks (1976) o predileto de muitos fãs. A banda havia recuperado um espaço na mídia e ainda colocou velhos sucessos de volta à boca da galera como no caso de Sweet Emotion, que chegou a aparecer em uma coletânea de 1991 com uma versão estendida e remixada com direito até a videoclipe, que incrível. Até qur chega o momento de voltarem ao estúdio para conceberem mais um material inédito, e 1992 foi o ano de focarem na produção de mais um trabalho, novamente com Fairbarn na produção e tocando os Margherita Horns, o time de compositores iria aumentar, além de Vallance, Child e Hudson, entrariam para o time Taylor Rhodes, Richard Supa, Jack Blades e Tommy Shaw colaborando Tyler e Perry nas composições do álbum. Inicialmente foi gravado em janeiro e fevereiro de 1992 nos estúdios da A&M Records em Los Angeles, e encerradas no período de setembro a novembro daquele ano no Little Mountain Sound em Vancouver, no Canadá, estúdio de Fairbarn e de Bob Rock, produtor do clássico Black Album do Metallica, lançado em agosto de 1991 e se tornando o maior sucesso de Hetfield, Ulrich e cia. até aquele momento. Encerradas as gravações, o grupo lançou seu primeiro single em março de 1993, já dando sinais de que algo novo deles estava saindo e já em 21 de abril daquele ano saía o décimo-primeiro álbum da banda, intitulado Get a Grip, que trazia a icônica capa de uma teta de vaca com um tipo de piercing, fazendo os ativistas dos direitos dos animais se incomodarem com aquilo, embora tenha sido feita no computador (como se o pessoal achasse que era real), mas nada que incomodasse o sucesso da banda.
É necessário lembrar que, no momento em que este álbum estava sendo lançado, o grande estouro da vez era o grunge, oriundo do rock alternativo com álbuns de produções independentes, baratas e que ajudaram a catapultar bandas como Pearl Jam, Soundgarden, Alice in Chains e em especial o Nirvana, os principais ícones do movimento que ajudaram Seattle a se tornar a grande capital do rock naquele momento, porém teve seu auge interrompido após Kurt Cobain, vocalista do conjunto musical Nirvana se suicidar em 5 de abril de 1994 fazendo o grupo acabar por ali. Mas, isso não incomodaria em nada na banda, pois eles sabiam o que estavam fazendo, e com Get a Grip o grupo conseguiu um grande feito, o de venderem mais de 20 milhões de cópias no mundo todo. A vinheta de abertura que leva o nome de Intro, traz o grito de uma ave com uma percussão mandando bala enquanto Steven manda um freestyle seguido de um trechinho de Walk This Way quase como um sample, e em seguida vêm Eat the Rich, um rock totalmente nervoso e a guitarra de Perry mostra não fazer feio aqui - a letra da autoria dos Toxic Twins com Vallance traz uma polêmica em cima da letra, e a música fecha com um arroto; e este tal arroto é que dá a deixa para a faixa Get a Grip, um outro rockão de arrasar e também prova ter um quê de hit, um destaque e tanto no repertório do álbum; já na sequência temos Fever, de pegada totalmente matadora e um solo de gaita envolvente, e o ritmo de Joey Kramer acaba mostrando peso total - a prova definitiva que ele é um dos melhores bateristas de hard rock de sempre; fechando o lado A do disco e engrandecendo o repertório temos a balada Livin' on the Edge, uma das melhores faixas do álbum e a minha favorita do repertório da banda em todo, com direito a um piano de cabaret no meio da faixa, a letra trata um pouco dessa questão de acordarmos vendo o mundo de outras formas, e como diz o título, sobre a questão de viver no limite, e encerra com um riff que parece soar como o final de mais um dia - literalmente; já o lado B do álbum, que abre com Flesh é uma mistura de rock com elementos de música oriental, pois a percussão dá a deixa para o tema trazer todo o bom do Aerosmith que conhecemos e a sonoridade mostrar que a banda não tropeçou feio até aqui; já a próxima faixa não carrega a voz de Tyler, mas sim a do guitarrista Joe Perry, que tem seu momento de brilho cantando a solo em Walk on Down, e ele canta sobre a forma como vemos as coisas quando estamos na pior, andamos meio cabisbaixo, e mostrou fazer bonito tocando e cantando - nada mal para um parceiro tão bom que Steven achou; e a primeira parte do álbum fecha com um senhor convite totalmente ousadíssimo que já aparece até no nome da canção - Shut Up and Dance parece ser um tema com cara de sucesso pop rock dos anos 90, e a banda ganhou um clipe não-oficial em uma performance do conjunto no filme Wayne's World II (Quanto Mais Idiota Melhor 2) que encerra o filme com tudo. 
Já a segunda parte do disco abre com uma das baladas de maior sucesso do álbum e também da banda em todo, Cryin' apresenta um peso cheio de romance e um solo de harmônica forte de Tyler, a música ganhou um clipe brilhante protagonizado por Alicia Silverstone que no final joga-se de uma ponte e usa uma corda para voltar de onde saltou, ajudou a promover o sucesso da música e o álbum inclusive; já na faixa seguinte - Gotta Love It, quase flopa no som do álbum, embora apresente uma carga sonora bem pop na batida, não pareça ser um grande tema, bem mais lado B, para ser preciso; em seguida, a próxima balada de sucesso cujo clipe aparecia Silverstone, desta vez ao lado de uma uma jovem de 17 anos chamada Liv, filha de Tyler, sensualizando total em Crazy, uma das mais bonitas baladas do grupo, e com essa dose de sensualidade proporcionada na música, conquista a todos que ouvem, desde o solo de gaita até a voz rascante de Steven que marca a canção; em diante, a música que carrega também uma energia e traz todo aquele peso pop rock, sem deixar de ser hard - o caso de Line Up, que traz a participação de um artista em voga daquele momento, o grande Lenny Kravitz, que chega a não ter sua voz notada mesmo assim; um tema que não passa batido, ficou de fora da edição original americana (aqui no Brasil apareceu) mas no todo é curtinha (3 minutos e 38 segundos) estou falando de Can't Stop Messin', de parceria com os Toxic Twins mais Jack Blades e Tommy Shaw, é um rock que funciona na fórmula dos temas mais pesados da banda pra garantir; a música que aparece a seguir é outra das maiores baladas de sucesso da banda, estamos falando de Amazing, que fala um pouco sobre os excessos da vida, que no começo é bom, mas acaba tendo que pagar uma hora ou outra, e essa balada rendeu um clipe com a mesma Silverstone - envolvendo um rapaz apaixonado e jogos de realidade virtual, e o melhor arranjo deste álbum com até orquestração, encerra-se com uma vinheta radial que lembra a dos anos 40 e 50 narrada com um excerto de Who Threw the Whisky in the Well com Tyler dando sua última deixa "Remember: the light of the end of the tunnel maybe you, good night!" (Lembre-se: a luz do fim do túnel pode ser você, boa noite! - tradução livre), mas ainda não acabou, a faixa que encerra mesmo o álbum se chama Boogie Man, um tema instrumental que apresenta um solo de guitarra e um baixo que se destaca muito fechando com tudo este trabalho do quinteto de Boston provando estarem com tudo novamente. 
Não precisamos explicar o que aconteceria após o lançamento do álbum: além de uma megatournéé que rodou o mundo todo, fez a banda passar pela América Latina, em especial pelo Brasil em janeiro de 1994 através do festival Hollywood Rock, na Apoteose (Rio de Janeiro) e no estádio do Morumbi (São Paulo), tendo como bandas de abertura Poison e os nossos Titãs, e a apresentação do quinteto de Boston levantou poeira nas duas edições do festival em SP e RJ logo de cara, deixando até um gostinho de quero mais para o público, voltaram apenas em 2007. 25 anos depois de seu lançamento, não podemos deixar de negar a importância desse álbum para a carreira da banda e sendo o seu melhor momento na década com aqueles clipes protagonizados por Silverstone que passavam muito na MTV e o peso carregado nas suas baladas  que atravessam gerações.
Set do disco:
1 - Intro (Steven Tyler/Joe Perry/Jim Vallance)
2 - Eat the Rich (Steven Tyler/Joe Perry/Jim Vallance)
3 - Get a Grip (Steven Tyler/Joe Perry/Jim Vallance)
4 - Fever (Steven Tyler/Joe Perry)
5 - Livin' on the Edge (Steven Tyler/Joe Perry/Mark Hudson)
6 - Flesh (Steven Tyler/Joe Perry/Desmond Child)
7 - Walk on Down (Joe Perry)
8 - Shut Up and Dance (Steven Tyler/Joe Perry/Jack Blades/Tommy Shaw)
9 - Cryin' (Steven Tyler/Joe Perry/Taylor Rhodes)
10 - Gotta Love It (Steven Tyler/Joe Perry/Mark Hudson)
11 - Crazy (Steven Tyler/Joe Perry/Desmond Child)
12 - Line Up (Steven Tyler/Joe Perry/Lenny Kravitz)
13 - Can't Stop Messin' (Steven Tyler/Joe Perry/Jack Blades/Tommy Shaw)*
14 - Amazing (Steven Tyler/Richard Supa)
15 - Boogie Man (Steven Tyler/Joe Perry/Jim Vallance)

* faixa não-disponível na edição original (EUA), mas contém na edição mundial (Brasil inclusive)

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