Um disco indispensável: Led Zeppelin - Led Zeppelin (Atlantic, 1969)

A década de 1960 entrava em seu fim. O que havia acontecido com o todo o movimento hippie, toda aquela geração que bradava por paz e amor teria um preço e um final dramático. Aos poucos, a psicodelia seguiria como um simples legado da geração que passou, mas ainda havia um pouco dela dentro do rock progressivo, da música experimental e um pouco do futuro heavy metal. O rock começava a ganhar um outro tom, mais cru, sujo e pesado e algumas bandas se tornariam influentes no novo cenário, uma delas traziam quatro integrantes de longas passagens por outras bandas e outros projetos: o cabeça por trás desta banda vinha de passagens por bandas como Crusaders, Red E Lewis & The Red Caps, Jet Harris & Tony Meehan e esteve durante um breve tempo nos Yardbirds: James Patrick Page estava começando a escrever um longo capítulo como guitarrista e começara a fundar uma das bandas mais importantes da história do rock. O outro era um arranjador, compositor e produtor virtuoso, trabalhando ao lado de Andrew Loog Oldham e se tornando um dos excelentes multiinstrumentistas da época, esse era John Paul Jones, aclamado por seus grandes trabalhos. O próximo músico era um baterista que sabia trazer peso rítmico, John Henry Bohnam passou por várias bandas até chegar na Band of Joy onde se cruzaria com Robert Anthony Plant, dono de uma potência vocal impressionante e de belos cachinhos dourados (que poderiam render um apelido irônico aqui no Brasil) seriam parceiros nesta nova grande banda. Como começamos exatamente esta história? Bem, o guitarrista Jimmy Page havia ficado só nos Yadbirds e precisava manter a banda de pé, desta vez com uma nova formação, e participando de uma gravação do cantor Donovan ao lado de Jones, que soubera deste novo projeto do guitarrista. Para que o projeto do New Yadbirds ganhasse corpo, Jimmy Page fora a Birmingham, aonde uma banda chamada Hobstweedle estava tocando, e o guitarrista descobriu uma voz cristalina com espírito de bluesman, esse era Plant e o guitarrista convidara ele para cantar no seu novo projeto, mas Robert Plant também daria uma indicação de peso: o seu velho parceiro de Band of Joy e baterista talentoso John Bonham. Mas, um impasse aconteceu para que o New Yadbirds não seguisse com o nome: o ex-baixista Chris Dreja ainda detinha os direitos do nome e para que não tivessem problemas e conflitos judiciais, Page se lembrou de uma conversa que teve com dois integrantes do The Who - um deles o baterista Keith Moon - sobre o som da banda, e que fez uma breve comparação dizendo que seria pesado como um zepelim de chumbo, e assim nascia o nome que todos nós conhecemos, Led Zeppelin, baseado nos balões do general alemão Ferdinand Von Zeppelin (1838-1917), e com esse nome a banda partiria em turnê nos países escandinavos. A primeira apresentação foi em 7 de setembro de 1968, em Gladsaxe na Dinamarca e dali então, não pararam mais, até que na metade do mês, a banda entrara em estúdio e começaria a gravar o disco que se tornaria a grande estreia da banda, nos lendários estúdios Olympic em Londres, quase todo ao vivo e tendo um período de 36 horas de trabalho com o engenheiro Glyn Johns ajudando Page na mesa de som e o empresário Peter Grant na produção executiva do trabalho.
O disco homônimo só se tornou possível depois que a banda conseguira um contrato com o selo Atlantic Records, responsável por discos de Aretha Franklin, Ray Charles, Buffalo Springfield, The Coasters dentre outros, trazia em seu elenco os mais novos ídolos da música. As apostas estavam deixando a desejar uma média de repercussão, mas o selo dos irmãos Nesuhi e Ahmet Ertegun, amantes da boa música e do futebol. Foi lançado no dia 12 de janeiro, começando bem musicalmente o ano. A capa trazia a imagem de um dirigível em chamas - o Hindenburg, 30 anos antes, com uma adaptação gráfica feita por George Hardie, como se falasse sobre a origem do nome da banda por uma simples imagem. E o nome da banda veio com cores diferentes para países, originalmente havia um azul-turquesa no nome da banda e no logo da Atlantic nas edições inglesas, e o laranja aparecia só nas edições americanas, e um tempo depois consideraram o laranja como oficial. Na contracapa, um clique da banda feito por Dreja. O álbum já começa bem, com uma pedrada de pura potência, a blueseira Good Times Bad Times mostra o resultado que podia dar o misticismo sonoro de Page, o talento de Jones, as batidas de Bonham e a voz de Plant se uniram e deram a esta música um toque de Midas transformando-se no pontapé inicial a uma epopeia sonora que duraria anos fazendo um som de puro peso; já na faixa seguinte, o grupo segue a desfilar canções brilhantes, como esta - Babe I'm Gonna Leave You nos colocam a um ambiente diferente e que nos fazia se encantar; e o disco ainda nos traz algumas pérolas recicladas musicalmente, uma delas é You Shook Me, de Willie Dixon transpõe essa agressividade e a voz de Robert traz provas de que ele canta com a alma e o coração mesmo; e se você ainda esperava coisa ficar maior, você vai sentir os primeiros segundos de Dazed and Confused, o baixo de Jones marca de cara e ainda temos Jimmy Page misturando a guitarra com arco de violino, transformando esta na maior viagem sonora que este disco nos oferece e com um instrumental que impressiona de cara a gente; e a sonzeira segue a rolar solta com uma das canções mais pop, como por exemplo Your Time is Gonna Come, uma música bem mais solta e também enérgica pela levada, tendo vocais no estilo gospel que se destaca na canção; em seguida, nós temos um momento vangloriante, uma canção acústica bem suave, intitulada Black Mountain Side, com uma pegadinha de música oriental e solos de violão que lembram um pouco a Índia até, como se fosse um passeio sonoro por estas terras; e para provarmos que nada é impossível para os sons ultrapassarem barreiras, se prepare para ouvir no volume máximo uma das melhores faixas do disco, esta é Communication Breakdown e sentirá o poder que a música deles tem que nos contagia rapidamente; e mais uma música do grande Dixon é relembrada pelos quatro, e desta vez é I Can't Quit You Baby, que começa com gritos de Plant e vai indo a uma atmosfera totalmente de blues puro, com um solo arrepiante de Page fazendo bonito como sempre; e para encerrar, temos uma das mais longuíssimas deste disco, How Many More Times, que traz uma breve citação sonora (sem créditos) de The Hunter, de Booker T. & the MG's e carregado de peso, mostrando que as portas do heavy metal estavam se abrindo completamente através deste disco.
Não demorou muito e o disco se tornou sucesso mundial, inclusive nos Estados Unidos, onde lotavam casas e se transformavam rapidamente gigantes da música, e aos poucos iam desbancando os Beatles dois discos depois. No início, ele não foi bem visto pela crítica, e demorou um pouco para entenderem o valor deste disco, mas acabou influenciando gente como a banda Aerosmith, que teve o disco como pontapé inicial para que fizessem a música deles anos depois. Existem muitas listas que foram feitas em sites e revistas colocando este trabalho entre os mais importantes: o tabloide britânico The Times em 1993 colocou como o 41º numa lista dos 100 maiores discos de todos os tempos, enquanto a emissora televisiva VH1 colocou na posição de número 43 numa lista com cem discos, em 2007 entrava na lista definitiva dos álbuns do Rock and Roll Hall of Fame, além de estar naquela famosa lista dos 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, organizado pelo jornalista Robert Dimery e não esquecemos dela (ACHOU QUE EU ESTAVA BRINCANDO????), a famosa lista dos 500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos, organizado pela Rolling Stone, na bendita 29ª posição. O disco teve uma extrema importância para o rock and roll e para o heavy metal, transformando esse som deles, pesado como um zepelim de chumbo, em algo mágico e eterno para as gerações.
Set do disco:
1 - Good Times Bad Times (Jimmy Page/John Bonham/John Paul Jones)
2 - Babe I'm Gonna Leave You (Anne Bredon/Robert Plant)
3 - You Shook Me (J.B. Lenoir/Willie Dixon)
4 - Dazed and Confused (Jimmy Page, inspirado em Jake Holmes)
5 - Your Time is Gonna Come (Jimmy Page/John Paul Jones/Robert Plant)
6 -  Black Mountain Side (Jimmy Page)
7 -  Communication Breakdown (Jimmy Page/John Bonham/John Paul Jones/Robert Plant)
8 - I Can't Quit You Baby (Willie Dixon)
9 - How Many More Times (Jimmy Page/John Bonham/John Paul Jones/Robert Plant)

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