Um disco indispensável: Hot Buttered Soul - Isaac Hayes (Stax Records/Enterprise Records, 1969)
No decorrer dos anos 1960, a gravadora Stax Records era uma grande fábrica de sucessos do R&B/Soul na época, era sediada em Memphis, no Tennessee e fundado pelo casal Jim Stewart e Estelle Axton, que se colocarmos as duas primeiras letras dos seus respectivos sobrenomes formavam o nome da gravadora, que, no seu surgimento em 1957 era chamado de Satellite Records. Assim como a Motown, sediada em Detroit no estado norte-americano Michigan, que tinha lá um elenco a peso e que valia ouro - Diana Ross & The Supremes, Stevie Wonder, Marvin Gaye, The Marvelettes, Smokey Robinson & The Miracles dentre outros, a Stax tinha também um cast que se podia considerar milionário depois que se agrandou em 1961, como Rufus Thomas, Booker T & The MG's, The Bar-Kays, o lendário Otis Redding, Wilson Pickett, o bluesman Albert King, a dupla Sam & Dave e também um compositor brilhante, careca, barbudo e quase sempre com óculos escuro: este era Isaac Hayes, dono de uma brilhante trajetória musical e que colocou sua voz não somente a serviço da música negra, mas também se tornaria a voz de um personagem da série animada South Park (sim, o cara já dublou e se você não notou nos créditos, procure ler com mais atenção ou jogue no Google meu amigo) sendo o responsável por dar a voz ao Chef, amigo das crianças desbocadas e que saíra em 2007 após fazerem um episódio zombando da religião do cantor, a cientologia. No ano seguinte, veio a nos deixar em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC) após ter sido encontrado em casa dez dias após o seu aniversário de 66 anos, em 10 de agosto de 2008. Deixou 12 filhos, 14 netos e três bisnetos (ô louco meu! é o Mr. Catra do soul pelo jeito!), além de mais de 20 álbuns de estúdio, somando os três ao vivo e as trilhas sonoras que ele compusera ao longo de sua trajetória musical. Sua estreia foi com o álbum Presenting Isaac Hayes, por um dos selos da Stax - a Enterprise Records, em fevereiro de 1968, e acabou sendo um dos discos com baixa de vendagens, ou seja: não foram muitos que compraram aquele álbum, e ele se viu obrigado a voltar para os bastidores como músico, compositor, arranjador e produtor para decepção do próprio. Aí que o rumo da história mudaria totalmente e conspiraria a favor do músico: com questões envolvendo o acervo e a parceria da Stax com a Atlantic Records, dos irmãos Ertegun, e todo seu catálogo a partir de 1961 teria que perder boa parte e convencer o guitarrista Steve Cropper e o próprio Hayes a lançarem discos solo após um pedido do executivo Al Bell, que como um gênio, teve a brilhante ideia de lançar um catálogo instantâneo de 27 discos e 30 singles (ô louco, bicho!) sendo assim um trabalho de formiguinhas incansavelmente difícil - não para Hayes, que em 1969 se recriara e expandira suas ideias para fazer um disco que se tornaria a trilha sonora do final dos anos 60 regada a muito soul, e se tornaria a ponte para uma nova linguagem do soul/R&B, e peça-chave para trabalhos de Stevie Wonder, Marvin Gaye, George Clinton & The Parliament Funkadelic, Prince entre outros: o original e clássico Hot Buttered Soul, lançado em 23 de setembro 1969, um disco que ninguém esperava nada, mas se tornaria peça-chave para a música que se faria mais adiante.
Mas, para que este disco acontecesse, Hayes disse a Bell que só faria um disco se garantisse a ele todo o completo controle criativo, o que o novo chefão acabou atendendo o pedido e assim feito o álbum, que, reza a lenda de que foi produzido em época de estúdios mortos. Assim que, os trabalhos da parceria Bell/Hayes também trouxeram inovações com as técnicas do engenheiro de gravação Terry Maning e enquanto as bases principais eram gravadas em Memphis, vocais e mixagens e o restante ficaram com o técnico Russ Terana nos estúdios Terra-Shirma juntando os sopros e cordas gravadas mais a mixagem final no United Sound, ambos estúdios em Detroit com Don Davis pilotando a mesa de som e o engenheiro Ed Wolfrum gravando tudo. E tem mais: Manning usou as técnicas de reverberação, que havia sido usada nas produções da Artie Fields nos anos 50 seriam utilizadas nos outros discos do músico. Um som totalmente funk que soava como rock progressivo, músicas longas e arranjos que tinham ares bem inspirativos para um disco como este. As gravações foram durante a primavera e o começo do verão de 1969, tendo Al Bell e o tecladista Marvell Thomas mais Allen Jones envolvidos na produção e sua base musical foram três integrantes dos Bar-Kays que por sorte não pegaram o avião com Otis e recriaram a banda: o baterista Willie Hall, o baixista James Alexander e o guitarrista Michael Toles complementaram o time grandioso que contava com orquestra e coros mais Isaac na voz e nos teclados fazendo uma música de extrema grandeza. Mas, algo é notado em Hot Buttered Soul, a obra-prima do nosso saudoso Black Moses (apelido que se tornaria nome de um disco dois anos depois), o disco contêm 4 músicas, e todas longuíssimas, o que para alguns era coisa estranha pois sendo um disco de soul/R&B, tinha uma atmosfera jazzística que acabou tornando-se presente na sonoridade. Para começarmos a falar deste disco, vamos direto para Walk On By, com seus 12 minutos e 4 segundos, uma releitura do tema de Burt Bacharach e Hal David, recheada de efeitos e de metais bem sofisticados que nos fazem deliciar-se com tanta sensualidade nos arranjos, e se torna um grande destaque do disco, não deixando a gente perder-se no rumo: só ouça e sinta a energia que essa música traz, a faixa seria sampleada anos depois por 2pac Shakur, Notorious B.I.G. e também por Hooverphonic e pelo Wu Tang Clan anos depois, se tornando a queridinha dos samples de hip-hop e dos DJs em especial; a faixa seguinte, tem um nome meio complicado de falar, e que lembra até o Eminem (tentem entender o porquê),os nove minutos de Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic nos apresenta um som cheio de grooves e a guitarra de Toles com muitos wah-wahs não decepciona aqui ao longo do disco e soa como um funk potente para as massas que acabam caindo na onda do groove sem tanta enrolação, o bom é curtir essa viagem sonora do disco, que tornaria-se também reutilizável como sampler para músicas do Public Enemy, The Game e também do N.W.A. entre outros figurões de hoje; o lado B do disco começa com a única música de duração "normal", One Woman é a mais bela canção deste disco e a mais bela narrativa sobre infidelidade que se divide em um conflito: entre a mulher que constroi o seu lar ou a que o leva a errar? E aí fica essa dúvida no ar dos ouvintes do disco; para terminar o disco, mais outra recriação que se tornaria um clássico em sua voz: By the Time I Get to Phoenix, que nos primeiros 9 (!!!!) minutos só temos um Isaac narrando a história da música começando com um verso bem empolgante e suave "I'm talking about the power of love now/I'm gonna tell you what love can do/You know, when they say love makes the world go round/That's the truth..." (Eu vou falar agora sobre o poder do amor/Vou falar sobre o que o amor pode fazer/Você sabe, quando a gente diz que o amor faz o mundo girar/E essa é a verdade...) e essa entrada seria inspiração para Teddy Pendergrass, Barry White (esse era especialista), Marvin Gaye entre outros, e que numa explosão de sons, acaba não decepcionando a gente no final, e seus 18 minutos e 43 segundos de canção, se tornaram úteis aos nossos ouvidos.
O resultado acaba sendo agradável, não deixando a gente se perder no caminho com tanto som puro e original, é um excelente trabalho e que consagraria o Black Moses ao redor do mundo com seu estilo de fazer soul e que acabaria criando uma escola para quem estava afim de transformar o soul em uma delirante viagem sonora que acaba dando pro gasto. De acordo com Pedro Só, na revista BIZZ edição 133 (agosto de 1996) na seção Discoteca Básica a respeito do disco, que a partir que tocavam Walk On By nas rádios, a música negra e os padrões do pop começavam a mudar de vez após este. O disco, para quem acha que não é lá grande coisa (porque mal ouviu direito e nem conhece direito o trabalho dos caras), está em listas de álbuns importantes do soul feitas por revistas e sites especialistas no assunto, além de figurar no livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, prova de que o disco teve seus méritos importantes para contribuir com a evolução da música nos anos 70.
Set do disco:
1 - Walk On By (Hal David/Burt Bacharach)
2 - Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic (Isaac Hayes/Alvertis Isbell)
3 - One Woman (Charles Chambers/Sandra Rhodes)
4 - By the Time I Get to Phoenix (Jimmy Webb)
Isaac Hayes, o homem que inovou o soul no final da década de 1960. |
O resultado acaba sendo agradável, não deixando a gente se perder no caminho com tanto som puro e original, é um excelente trabalho e que consagraria o Black Moses ao redor do mundo com seu estilo de fazer soul e que acabaria criando uma escola para quem estava afim de transformar o soul em uma delirante viagem sonora que acaba dando pro gasto. De acordo com Pedro Só, na revista BIZZ edição 133 (agosto de 1996) na seção Discoteca Básica a respeito do disco, que a partir que tocavam Walk On By nas rádios, a música negra e os padrões do pop começavam a mudar de vez após este. O disco, para quem acha que não é lá grande coisa (porque mal ouviu direito e nem conhece direito o trabalho dos caras), está em listas de álbuns importantes do soul feitas por revistas e sites especialistas no assunto, além de figurar no livro 1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer, prova de que o disco teve seus méritos importantes para contribuir com a evolução da música nos anos 70.
Set do disco:
1 - Walk On By (Hal David/Burt Bacharach)
2 - Hyperbolicsyllabicsesquedalymistic (Isaac Hayes/Alvertis Isbell)
3 - One Woman (Charles Chambers/Sandra Rhodes)
4 - By the Time I Get to Phoenix (Jimmy Webb)
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