Um disco indispensável: Roupa Nova - Roupa Nova (Philips/PolyGram, 1981)

Ao longo dos anos 80, existiram bandas que marcariam a cena brasileira que agora ditava do nosso rock and roll brasileiro mas uma ficou de lado desse cenário - não pelo fato de simplesmente ter uma linguagem diferente, mas por estar um pouco mais apegado a um pop melódico e adulto, digamos assim. E esse grupo começa com a sua história ainda no final dos anos 60 e também no começo da década 70, com Eurico Pereira da Silva Filho, vulgo Kiko na guitarra mais Paulo César dos Santos, conhecido como Paulinho como vocalista e percussionista e Ricardo Georges Feghali nos teclados junto de sua irmã Jandira na banda Los Panchos Villa animando bailes do Rio de Janeiro, e do outro lado da Cidade Maravilhosa, uma banda também de bailes formada por integrantes da família Cataldo chamada Os Famks, e um dos únicos integrantes da banda que não era da família era Luiz Fernando Oliveira da Silva, o Nando que tocava baixo nesta banda e que acabara convidando Paulinho para a banda e, com o tempo, Kiko e Paulinho partiriam para os Famks e nesta banda havia um tecladista: mineiro de Manhumirim, este um rapaz que vinha do acordeão e formação erudita chamado Cleberson Horsth, e com Osmar nos vocais mais Fernando "Fefê" na bateria e com essa formação, o grupo lançaria seu 1º LP em 1975, que levava o nome da banda. Mas foi só no ano seguinte, a convite de Kiko e Paulinho, que Feghali entraria como o segundo tecladista e vocalista do grupo, já que Osmar partira para os EUA em busca de oportunidades como cantor solo. 
Atrás, da esq. para a direita: Paulinho (percussão e voz), 
Cleberson Horsth (teclados, piano, acordeão e voz) e Serginho Herval (bateria e voz).
À frente, Nando (baixo e voz), Kiko (guitarra e voz) Ricardo Feghali 
(teclados, piano, baixo, guitarras e voz). 35 anos depois, grupo 
Roupa Nova segue se mantendo fiel ao  próprio estilo
em meio a tantas modas. (Foto: Divulgação)
E daí em diante, a formação d'Os Famks começaria a ganhar grandes voos, e Feghali gravaria um compacto com a faixa Rainy Day para a trilha sonora da novela global Locomotivas, mas usando o pseudônimo de Richard Young - algo muito comum de cantores brasileiros usarem pseudônimos em inglês na época. E em 1978 lançam seu segundo e derradeiro álbum sob o nome de Os Famks, com Fefê na bateria, que sairia depois e em março de 1979 entra Serginho Herval, que estava até alguns anos atrás no conjunto A Bolha ao lado de Roberto Lly no baixo mais Marcelo Sussekind e Pedro Lima na guitarra e que rendeu um disco intitulado É Proibido Fumar (1977), e que já estavam separados meses depois. Pronto, ninguém mais entrava nem saía da banda e ninguém mais saía, com o que tinha já se podia resultar em uma das mais emblemáticas bandas dos anos 80: ainda que, no nascer da década, os ainda Famks, trabalhavam fazendo jingles para a lendária e recém-fechada Rádo Cidade do Rio de Janeiro e vendo este potencial todo, o maestro Eduardo Souto Neto indicara o conjunto para Mariozinho Rocha, que trabalhava como produtor e acabou gostando do jingle, e convidou o sexteto para gravar nos estúdios da PolyGram no Rio de Janeiro. Mas uma coisa muito notável era o nome soar pouco comercial demais pra época, sugeriu que mudassem o nome e assim surge o Roupa Nova, com base numa música composta por Milton Nascimento e Fernando Brant, lançado no disco Sentinela (1980) na época.
Contracapa original do primeiro LP do Roupa Nova
(Divulgação/Universal Music)
Com o disco de estreia, o Roupa não faria feio de jeito nenhum, tanto é que logo no primeiro LP, com uma capa bem viajandona e um repertório sensacional, além da produção de Mariozinho Rocha, aqui o disco nos dá o cartão de visitas definitivo para a música do conjunto. O disco abre com o tema Sapato Velho, que por sinal, já nasceu com cara de clássico, da autoria de Paulinho Tapajós e de Mu Carvalho mais Cláudio Nucci, traz uma suavidade aqui movida pela voz de Serginho e com uma introdução recheada de sintetizadores sem esquecer o solo de guitarra poderoso de Kiko tornando a canção mais forte; na sequência temos Pra Sempre, com a voz de Paulnho, dona de uma pegada pop dançante que ainda carregava aquele astral da disco music nos arranjos bom pra curtir nas famosas festas retrô da vida por aí; e a próxima faixa, carrega um ar soft-rock chamada Bem Simples onde Nando fala no refrão "Eu pensei te dizer essas coisas, mas pra quê se eu tenho a música?" que embalou muitos amores e seguem embalando até hoje; logo de cara temos Um Pouco de Amor, onde Paulinho traz uma mensagem meio good vibes sobre a paz e sobre isto que está no título que faltava na época e ainda falta no coração de algumas pessoas nos dias difíceis de hoje; pra continuar o bailado, mais outra de referências funky e disco, chamada E o Espetáculo Continua, simulando algo do vaudeville e no meio da música rola uma discussão entre os integrantes e eles retomam o som da canção, até que percebe-se mais outro erro, daí eles retomam tudo com o refrão encerrando a música; já em Recomeçar, uma balada apaixonante deste disco, que segue sendo executada até hoje nos shows, dona de belos versos e de acordes brilhantes que deixam a canção com um gostinho a mais; e logo adiante, nós ainda temos Tanto Faz, um rock na voz de Serginho com uma pegada totalmente moderna e já nos moldes do que se fazia nos EUA naqueles tempos; e a próxima faixa é Canção de Verão, um dos primeiros hits da banda com um quê de pop tropical, atingindo os ouvidos da geração 80 em tornando-se um clássico da década saudosa para muita gente; ainda podemos ter Feghali dando voz a Quem Virá, uma canção que até chega a passar batido mas não desanima os nossos ouvidos de jeito nenhum, a não ser que você ache um pouco redundante demais as canções do grupo; e pra encerrar este disco, a música que deu origem ao grupo: Roupa Nova, de Milton e Brant, a música aqui ganha potência nos arranjos, mas não deixando todo o primor sonoro que esta banda segue tendo até hoje.
Set do disco:
1 - Sapato Velho (Paulinho Tapajós/Cláudio Nucci/Mu Carvalho)
2 - Pra Sempre (Flávio Venturini/Ana Terra)
3 - Bem Simples (Ricardo Feghali)
4 - Um Pouco de Amor (Luiz Guedes/Thomas Roth) 
5 - E o Espetáculo Continua (Octavio Burnier/Ivan Wrigg)
6 - Recomeçar (Eládio Sandoval/Jamil Joanes)
7 - Tanto Faz (Ricardo Feghali/Fausto Nilo)
8 - Canção de Verão (Luiz Guedes/Thomas Roth) 
9 - Quem Virá? (Ricardo Feghali/Márcio Borges)
10 - Roupa Nova (Milton Nascimento/Fernando Brant)

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