Um disco indispensável: Robson Jorge & Lincoln Olivetti - Robson Jorge & Lincoln Olivetti (Som Livre, 1982)

Quem vê pensa que este disco poderia ter sido um tesouro perdido da nossa música brasileira se os investigativos fãs do vinil, em especial os gringos que sempre levam coisas nossas para divulgar ao resto do mundo, como foi o caso de Noriel Vilela, Di Melo, o próprio Wando e seus primeiros LPs (em especial o de 1975 pra falar a verdade) e também a dupla de arranjadores/compositores/produtores/músicos que fez a cabeça de muita gente e também deu um toque mágico cheio de primor nas canções de vários figurões da MPB como Tim Maia, Sandra (de) Sá, Rita Lee, Marina Lima, Lulu Santos, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Maria Bethânia entre outros: Lincoln Oliveti, um sujeito que estudou música e engenharia eletrônica vindo de Nilópolis, que no início dos anos 70 havia gravado um LP chamado Hot Parade Nº 1 e que brevemente seria considerado o "mago dos estúdios", uma espécie de Quincy Jones brasileiro dos dourados e marcantes anos 80, apesar de ter começado a se destacar como arranjador e tecladista lá pelo final da década anterior e que nos anos 90 teria meio que ficado no ostracismo, seguido da morte de seu maior parceiro, o guitarrista Robson Jorge, que teve problemas com o alcoolismo e vindo a deixar este universo em 19 de dezembro de 1992. Olivetti seguiria entre nós até 13 de janeiro de 2015, quando este ainda estava em plena voga fazendo arranjos e colaborando com grandes artistas do nosso cenário brasileiro musical. Durante os anos 80, Olivetti era muito acusado pelo fato de modernizar a sonoridade da Música Popular Brasileira, a crítica chamou isso de pasteurização, mas segundo Olivetti, nunca quis dar bola para as declarações que faziam sobre ele e o trabalho em conjunto com Robson, e ambos trabalhavam como arranjadores e compositores na gravadora Som Livre naquele momento. Como a gravadora estava aproveitando a nova onda pop da época e o florescer do movimento BRock por todo o país, mas que ainda carregava um pouco da disco music, da sonoridade black e do soul em especial e decidiram compor juntos um disco instrumental que embalou várias festas ao longo dos anos 80, e levando o nome da dupla, com a produção de Max Pierre e uma enxurrada de canções instrumentais feitas pra sacudir os esqueletos, não tem como não ficar parado ao som das 12 canções sensacionais do disco Robson Jorge & Lincoln Olivetti, uma das tantas duplas da moda naquela época, virando uma referência total para quem gosta de (re)descobrir coisas antigas do nosso Brasil musical por aí. Então, vamos lá para conhecer melhor a obra desses mitos que eternizaram o lado mais pop da MPB nos anos 80 e, quem sabe, compartilhar com os seus amigos mais uma grande pérola como esta que ainda merece mais o seu valor pelos jovens de hoje.
O saudoso maestro Lincoln Olivetti (1954-2015) em ação
O disco já começa no pique todo, com Jorgea Corisco - dona de uma pegada que só Robson e Lincoln conseguiram trazer a este disco, já nos levando para uma grande viagem sonora em menos de quarenta minutos de disco; já na faixa seguinte, intitulada No Bom Sentido, a dupla faz uma excelente mistura de ritmos sem tropeçar ou deixar uma curva na linha reta da canção; mas o tema que dá mais brilho pra este disco é Aleluia, cheia de grooves e um naipe de metais embalante, fazendo todo mundo ir pro salão e dançar, além de ter uma base instrumental que é boa pra samplear - como no caso de Marcelo D2, que sampleou a introdução e reutilizou em Dor de Verdade, no seu disco Meu Samba é Assim (2006), procure ouvir melhor e tirar suas conclusões; logo mais adiante, temos Raton, que é uma vinheta cheia de vocais e dona de um primor que nos vai antecipando o que vem por aí brevemente num pique total como só eles faziam; em breve, temos na sequência o funk abrasileirado intitulado Pret-À-Porter, dando aquele gás total pro baile seguir mais agitado do que nunca; logo em seguida, o baile mostra-se com plena força com Squash recheado dos solos de guitarra mais sensacionais que se pode ter ouvido do pop brasileiro daqueles anos 80, sem sombra de dúvidas; logo em Eva, o baile não tem tropeço nenhum e deixa rolar solto, de boas, fazendo a multidão de uma pista seguir o ritmo da música no maior alto astral que se possa imaginar; ainda temos mais adiante Fá Sustenido, sem firulas, a aula de como fazer um popzinho dançante feita por quem entendia mostra onde se pode acertar musicalmente; ainda temos mais outra vinheta, intitulada Zé Piolho, mantêm toda essa essência dos caras, a sacada suingante que deixa tudo isso mais vibrante e mais colorida musicalmente, num sentido agradável de vez; ainda temos uma união de duas sonzeiras da boa: Baila Comigo, de Rita Lee na qual Olivetti participou da música gravada em 1980 como arranjador na época, junto de Festa Braba deixando o primor conservado dos arranjos originais da primeira citada neste medley sensacional do disco; ainda temos Ginga, que é nada mais do que um conjunto de melodias e de ritmos que se unem numa só canção, tornando esse disco mais interessante aos nossos ouvidos, total; pra encerrar, temos Alegrias, que deixa um sinal de que o baile já está acabando, mas deixa um gostinho de "quero mais" pra quem gostou total do som, porém se você acha que os anos 80 tinham só certas coisas que todo mundo já conhece, é porque você ainda não ouviu este disco ainda.
Set do disco:
1 - Jorgea Corisco (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
2 - No Bom Sentido (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
3 - Aleluia (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
4 - Raton(Hermes Contesini/Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
5 - Pret-À-Porter (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
6 - Squash (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
7 - Eva (Robson Jorge/Lincoln Olivetti/Ronaldo)
8 - Fá Sustenido (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
9 - Zé Piolho(Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
10 - Pot-Pourri: Baila Comigo (Rita Lee/Roberto de Carvalho)/Festa Brava (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
11 - Ginga (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)
12 - Alegrias (Robson Jorge/Lincoln Olivetti)

Comentários

  1. eles eram muito pro brasil o mal deles era ser brasileiro hoje os gringos tem uma verdadeira devoção aos 2 em 2016

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    1. sim, na época, a crítica achou que esse processo de modernização seria um mal desnecessário pra MPB, e o LP deles têm um enorme valor nos EUA, Europa, Japão e outros lugares do mundo

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