Um disco indispensável: O Futuro dos Autoramas - Autoramas (Hearts Bleed Blue, 2016)

Durante os últimos anos, o conjunto de rock Autoramas ganharam visceralidade da parte do público e se mantiveram fieis ao seu estilo e público, não deixando o primor e a forma de fazerem músicas, o principal de uma banda totalmente independente e que há quase vinte anos, mantendo também um respeito pela grande parte da imprensa, tanto a brasileira quanto a estrangeira, que sempre falam muito bem da banda e das músicas que fazem a cabeça de milhões de fãs ao redor do mundo, é claro. Após muitos anos como um power trio, a banda de Gabriel Thomaz acabou se estendendo para um integrante a mais, mas, o que ocorreu durante a nova mudança do grupo foi que a baixista Flávia Couri acabou se casando e foi para a Dinamarca, aonde reside até hoje, e o baterista Bacalhau que estava desde o começo, e tocou bateria em todos os álbuns, teve de conversar sobre a decisão de sair e Thomaz aceitou numa boa os motivos. Enquanto isso, no final de 2014, aos 45 do 2º tempo, o frontman e sua companheira Érika Martins, ex-Penélope e em carreira solo, também sendo presentes no projeto Lafayette e Os Tremendões, lançaram através do Soundcloud um EP intitulado 2015, originando o próximo material que viria pela frente como Autoramas brevemente. Sem seus parceiros Bacalhau e Couri, desta vez Thomaz recrutou para a banda, além de sua esposa, o ex-baterista dos Raimundos Fred Castro (tocou na banda desde o início dos anos 90 até 2006 quando a formação sofreu mais outra mudança) e também o baixista Melvin Ribeiro, também uma outra lenda do cenário alternativo e punk pela banda Carbona entre outros tantos conjuntos: com esses três elementos, o Autoramas deixou de ser o tradicional power trio como sempre foi desde 1998, com Gabriel e Bacalhau mais Simone do Vale, baixista que foi até 2008 e que depois Flávia acabaria preenchendo a lacuna na banda até acontecerem os fatos já citados e depois entrar a ex-Penélope para fazer a sua parte como tecladista, guitarrista, percussão e vocais tornando assim uma presença mais equilibrada nos discos e no palco, claro, o fato de estarem casados já é um principal motivo para a dupla se mostrar destacável no grupo e já fazendo estrada durante mais um ano com essa roupagem nova que acaba de presentear seus fãs com mais um trabalho. O material inédito que foi lançado recentemente, intitulado O Futuro dos Autoramas, traz essa conexão que antes acontecera em outros projetos e que somente agora, juntos no grupo, decidiram colocar de vez essa química no mais recente trabalho, de produção da própria banda junto de Lê Almeida e gravado em quatro estúdios diferentes, dentre eles o lendário Toca do Bandido, e também a masterização de Jim Diamond, que trabalhou já com gente do naipe como os White Stripes e os Sonics, além da genial capa que estampa este disco feita por Paulo Rocker mostrando uma versão furutista do grupo: uma Érika como aeromoça ou uma agente espacial, Gabriel como tenente ou uma posição de alto grau militar, o próprio Melvin como atirador e Fred como se estivesse voando com suas baquetas espaciais em forma de armas, algo bem futurista, ficção científica retrô total, pode acreditar.
A faixa que abre o disco, Quando a Polícia Chegar, ainda traz a essência do som dos Autoramas, o peso, a agressividade e o tom cômico-festivo de sempre nas letras, a voz de Érika ganha muita presença nesta faixa, além de ser uma boa escolha quanto no assunto de destacar este tema como um dos principais deste disco, que já nasceu com cara de clássico sem decepcionar ninguém; enquanto na faixa seguinte, eles pegam pesado de vez em Problema Seu o que soa é uma DR (discutindo a relação), isso se nota muito em cada verso da canção como "Com você é sempre: oito ou oitocentos, mas comigo não: são outros quinhentos" e também "O mal entendido entre nós na verdade é você" sem deixar nenhuma pista que passe despercebida ao longo da música; a faixa Verão já traz um clima bem mais apegável do que se espera, mantendo o ritmo do baile autorâmico, com arranjos que soam a cara do grupo; já em O Quê Que Você Quer? a guitarra de Thomaz chega a duelar com as batidas de Fred em certos momentos e que remetesse um pouco também ao grunge dos anos 90, mais precisamente; enquanto em Demais, aqui quem dá a voz é Érika, com sua voz aveludada numa canção de puro peso sem fazer feio, ou seja: aqui nada muda, tudo segue igual agradando nossos ouvidos; ainda dá tempo para curtir baladinhas estilo anos 60 como What You Mean to Me, que chega a lembrar Needles and Pins dos Ramones pela levada, mas que também carrega uma suavidade nos arranjos vocais, muito agradável por sinal; já em Rolo Compressor, ainda temos Érika dando voz a pérolas como esta, soando totalmente cru e com uma intro bem viajandona, refrão pegajoso - tudo isso pra se resultar em canções como essa; seguido de Be My Baby, que pode nos remeter a várias canções sessentistas só pelo tom de baladinha na introdução e o teclado podem nos garantir uma excelente trilha nesta viagem sonora do mais recente trabalho do grupo; se você pensa que acabou, você está muito enganado pois a barulheira continua, e na faixa Jet to the Jungle podemos ver que a banda deixa rastros mais crus e pesados do que nunca ao longo da canção, o que é notável e também destaque para o groove do baixo de Melvin; uma dose de romantismo acaba dando mais suavidade nos versos de A Sua Vinda Até Aqui, aonde o grupo consegue ir além em termos de arranjos, e que soa um pouquinho comercial até, com uma passagem pelo space rock e pela psicodelia experimental em certos momentos instrumentais da canção; a instrumental mezzo surf-rock e mezzo beat-pop sessentista cujo nome lembra um famoso programa de luta televisiva daqueles tempos chamada Telecatch consegue ser uma boa pedrada fundamental para este disco, onde a bateria de Fred Castro dá uma aula de viradas e a guitarra de Thomaz carregada de riffs e fuzzes convertendo-se em uma excelente aula de como fazer rock n' roll da forma mais pura, simples e rápida sem muita firula; a faixa que encerra o disco é uma belíssima faixa bônus, uma versão para Garotos II, grande clássico da autoria de Leoni e que aqui ganha uma versão bem perfeita e que soa até um pouco comercial, que foi gravado ainda em 2014 com Bacalhau e Flávia na banda, fechando com chave de ouro este trabalho sensacional do grupo de rock que segue a levar o melhor do rock brasileiro mundo afora.
Set do disco:
1 - Quando A Polícia Chegar (Gabriel Thomaz/Alvin L.)
2 - Problema Meu (Gabriel Thomaz/Melvin Ribeiro/Érika Martins/Fred Castro)
3 - Verão (Gabriel Thomaz/Alvin L.)
4 - O Quê Que Você Quer?  (Gabriel Thomaz)
5 - Demais  (Gabriel Thomaz/Melvin Ribeiro/Érika Martins/Fred Castro)
6 - What You Mean To Me  (Gabriel Thomaz)
7 - Rolo Compressor (Gabriel Thomaz/Melvin Ribeiro/Érika Martins/Fred Castro)
8 - Be My Baby (Gabriel Thomaz)
9 - Jet to the Jungle (Gabriel Thomaz)
10 - A Sua Vinda Até Aqui (Gabriel Thomaz/Melvin Ribeiro/Érika Martins/Fred Castro)
11 - Telecatch (instrumental) (Gabriel Thomaz/Melvin Ribeiro/Érika Martins/Fred Castro)
12 - Garotos II - O Outro Lado (Leoni)

Comentários

Mais vistos no blog