Um disco indispensável: A Praia - Cícero (Deckdisc, 2015)

Passados quase cinco anos em que o jovem carioca Cícero Rosa Lins estreou com seu álbum Canções de Apartamento, ele conseguiu fazer muito mais do que apenas cançõezinhas melosas ao violão e sempre querendo se mostrar o tal pelo fato de sua carreira ter sido apadrinhada por nada mais, nada menos do que Marcelo Camelo e Wado. Em Canções de Apartamento, as canções se mostravam numa linha suavizante, com uma batida simples e até para alguns que não curtem a nova MPB e acham as canções sonolentas demais, entenda-se bem que é esse o tipo de artista que o público quer ouvir e apreciar atualmente, embora sempre haja aquele tipo de críticos mais conservadores e que têm as suas próprias opiniões, há algum crítico que ouça e entenda o papel de Cícero na nova cena da MPB. Quase dois anos se separam desde que lançou seu álbum Sábado, já mais diferente musicalmente e poeticamente e desta vez, soa como cada metade dos seus dois discos se juntassem e dessem um resultado de em um só disco: uma metade poética e a outra harmoniosa que juntas trazem um mesmo estilo único e simples de Cícero fazer suas músicas como sempre, contando sempre com Bruno Giorgi na produção e arranjos que por sinal, já soam redundantes demais. Apesar do velho esquema “errando pra não errar”, Cícero poderia ter tropeçado sem perceber nas ideias musicais e poéticas e o público não ter curtido muito o que foi Sábado, o resultado final de A Praia também não é lá grande coisa, mas se vocês quiserem ouvir e curtir tudo bem. Falo como um entendedor de músicas e como pessoa, eu achei ótimo o novo trabalho do Cícero, mas pra quem curte e é fã mesmo, vão vendo bem aonde houve acertos e aonde teve erros, mas não que esteja falando tão mal de seu mais recente trabalho e sim vendo alguns bons e ruins aspectos que se pode notar neste mais recente material do compositor carioca. O título é baseado na origem nordestina de seu avô, pernambucano, que tinha uma relação com a praia, aonde ele passava boa parte de seu tempo cuidando de barcos no litoral do Pernambuco. Mas, nem tudo é praia, sol, sombra e água fresca para o compositor de 29 anos, e quem entender o que eu estou falando, vai entender bem sobre o novo álbum de Cícero, embora ainda haja um pouco de sua sutileza poética e cheia de perfeccionismos, o que sempre haverá em suas canções recheadas de amores, ilusões e tudo o que vocês puderem encontrar nas suas dez inéditas canções, que podem parecer até uma continuação do disco anterior.
Cícero Rosa Lins (foto: Mariana Caldas/Divulgação)
O disco começa de vez em Frevo Por Acaso Nº 2, continuação da faixa que surgiu originalmente no álbum anterior (Sábado), e aqui a continuação soa bem num astral pra cima e cantando no final “eu vou sem culpa” pela Via Dutra com naipe de metais dando um toque bem de marcha-rancho; na sequência vêm a faixa-título, na qual uma batida e um simples piano com uma sequência repetitiva formam a base para esta música e poucos versos numa canção de 3:42 com uma orquestração complementando a música que morre com a parte instrumental; já em Camomila, com uma pegada mais soft-pop com uma base alternativa dos anos 90, algo que se pode ouvir também em Tiago Iorc, Silva dentre outros cantores dessa nova cena nacional; enquanto em De Passagem, o carioca aqui vai mais leve no estilo piano-e-voz com uma percussão e a base no estilo canção de ninar e um acordeom dando um quê mais forrozeiro; em O Bobo, a levada de maracatu com rock que chega a ser algo do tipo Nação Zumbi, mas nada que soe comparativo com o que o grupo já faz e com uma dose de peso na guitarra; em Soneto de Santa Cruz, aqui já se nota um pouco daquela suavidade de sempre, com uma tonalidade simples de bossa nova e vocais que foram multiplicadas em várias camadas, algo mais comum em canções assim; já em Isabel (Carta de um Pai Aflito), com uma batida que lembra a canção Young Folks, de Peter, Bjorn and John com um estilo vocal bem imprressionantes, com vocais de apoio ao estilo MPB4 na canção Roda Viva, de Chico Buarque e um teclado bem retrô; Albatroz já mostra um clima mais de valsa na introdução da guitarra e ainda com um clima bem tribal na parte das batidas, um arranjo já mais equilibrado e com um astral bem alegre, em termos de música; em Cecília & A Máquina, originada de Cecília e os Balões (de seu primeiro álbum, Canções de Apartamento), uma levada instrumental com sons de ondas do mar e apenas um violão e piano soando como uma canção de ninar e Luiza Mayall cantando, aí que soa como a única faixa que Cícero não canta definitivamente; o final é por conta de Terminal Alvorada, com uma abertura melódica ao piano, mas que vai ganhando forças com uma levada de soft-rock e com uma letra bem impressionante, mostra bem um estilo de Cícero e no final, um trompete e um trombone acabam fazendo solos mostrando que o disco acaba por aqui.
O que se pode esperar muito do terceiro álbum do carioca de 29 anos (ele fez no dia 7 de abril) é nada mais, nada menos do que uma continuação de Sábado, embora haja alguns elementos recentes que Cícero acrescentou nas 10 faixas inéditas desse álbum e um pouco daquela sua sutileza na forma de cantar, algo que isso ele jamais vai deixar de colocar em suas músicas e que nos deixarão ainda mais a gente a se encantar sempre pelo seu trabalho e pela sua voz, o que isso já vem acontecendo há quase cinco anos, desde que ele lançou o álbum Canções de Apartamento.

Set do disco:
1 - Frevo Por Acaso nº 2 (Cícero)
2 - A Praia (Cícero)
3 - Camomila (Cícero) 
4 - De Passagem (Cícero)
5 - O Bobo (Cícero)
6 - Soneto de Santa Cruz (Cícero)
7 - Isabel (Carta de Um Pai Aflito) (Cícero)
8 - Albatroz (Cícero)
9 - Cecília & A Máquina(Cícero)
10 -  Terminal Alvorada (Cícero)

*única faixa não cantada por Cícero, mas sim por Luiza Mayall



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