Um disco indispensável: Merry Christmas - Mariah Carey (Columbia Records, 1994)

Dezembro, mês de festas, de reunir os familiares - sejam os que estão mais perto da gente, os que vêm de longe, aqueles tiozões chatos que adoram forçar graça, aguentar até mesmo aquelas músicas que alguns nem suportam mais. É época de provar ao Papai Noel que foram bons menin@s e que merecem ganhar presentões natalinos ou seja: quem obedeceu papai e mamãe, mostrará dign@ de receber os brinquedos que tanto desejam. E é a famosa época de exagerar na comida, fugir da dieta (quem faz flexível até se salva) pra depois do 1° de janeiro falar que está cumprindo a promessa de emagrecer. E é a época em que as poucas lojas que ainda resistem em vender CDs expõem os célebres títulos natalinos (aqui no Brasil já estamos acostumado com o famoso clichê que todos sabemos qual é), algo raramente pensado com mais caráter e foco comercial - os discos natalinos nem sempre tiveram forte apelo comercial no nosso país, mas nos EUA é muito comum esse formato ser mais destacado e facilmente repercutido, sempre atraindo multidões para embalar a noite de celebração do nascimento de Jesus Cristo, que veio ao mundo para espalhar sabedoria, amor e divulgar os ensinamentos de Deus. Ok, vamos buscar entender bem como funciona: os caras já buscam produzir o trabalho em um período antes, provavelmente até setembro ou outubro - quando já começa a época de enfeitar as lojas e as ruas da cidade com a temática natalina, e as vitrines já são recheadas de vários produtos. Na velha América, já se gravam canções natalinas desde a década de 1930, mas, compilar tudo em um simples álbum começou mesmo em fins dos anos 40, e foi já graças aos long-playings natalinos, como Christmas Song by Sinatra (1948) onde uma das maiores vozes do século XX trouxe seu espírito natalino, e dali em diante o modelo foi servindo como exemplo para que, a cada vez que estivesse cerca dos festejos dezembrinos, os artistas já levassem as mensagens de esperança, fé e de Jesus através de seus trabalhos especiais. Muitos destes nomes aclamados da música popular são muito conhecidos, dentre eles James Brown, Barbra Streisand, Neil Diamond, Billy Idol, Jackson 5, Doris Day, Andy Williams, Hall & Oates, Michael Bublé, Bob Dylan e o exemplo mais famoso, o mais inesquecível dos discos natalinos, obviamente, é o de Mariah Carey! Sim, ou pensam que a gente não deixaria de destacar mais uma vez neste blog a voz, o charme e o talento desta moça incrível de Long Island depois que apareceu discretamente como uma nova faceta do pop, com um estilo vocal indescritível e de poucas aparições midiáticas no começo, tornou-se logo de cara uma grande artista com seu primeiro álbum, que levava o nome de Mariah Carey, e emplacando logo de cara sucessos como Vision of Love, Love Takes Time, Someday e também There's Got to Be a Way e logo de cara vendeu mais de 15 milhões de cópias mundo afora, tornando-se um grande fenômeno mundial naquela época. Em 1991, o brilho da sua estrela foi crescendo mais ainda, chegando logo ao sucessor Emotions, como uma forma também de homenagear a Motown, gravadora importante da soul music fundada em fins dos anos 1950 e lançadora de artistas como Stevie Wonder, Diana Ross, Marvin Gaye entre outros - e a influência do estilo da gravadora de Detroit de fazer soul é notório em canções, e dando destaque para If It's Over mais Can't Let Go, Make It Happen e também a faixa-título ajudaram a bater outro número, o de 27 semanas consecutivas no top 20 dos álbuns. A consolidação dela como artista de palco é através do EP do MTV Unplugged, onde podemos ver que, fora dos estúdios ela ainda se sobressai muito até na hora de interpretar um clássico dos Jackson 5 como no caso de I'll Be There. Mas, o auge só aconteceu pra valer mesmo quando ela edita seu terceiro álbum de estúdio Music Box, um grande momento da carreira dela - quando ela começa a crescer mais e mais artisticamente, o disco foi movido pelo lendário hit Hero, e a regravação de um tema semiobscuro dos anos 70: Without You, de Harry Nilsson, um cantor inglês popular da época em que MiMi ainda era uma pequena criança. O sucessor acabou surgindo entre o período que promovia Music Box e as ideias de um material futuro, planejado para ser lançado em outubro, mas só foi revelado o que seria este álbum através da Billboard: um álbum natalino.
Mariah "Noel" dando uma pausa na entrega dos presentes
Sim, um álbum natalino! E com um pé bem no gospel, pelo fato de Carey sempre ter mostrado-se verdadeiramente uma mulher de fé, conectada a Deus e com influências do gospel em muitas de suas canções na qual coloca até esse lado espiritual para dentro das canções. Juntando-se ao seu mais fiel escudeiro desde 1990, o pianista, compositor e produtor Walter Afanasieff - com quem compôs 3 das 10 faixas, e produziu boa parte deste trabalho, ao lado dos dois estava também o guianês Loris Holland, que tocou órgão Hammond e piano, e músicos como o tecladista Greg Phillinganes, o baixista Randy Jackson, David Cole, Robert Civillés, o guitarrista Dan Huffs entre outros. Com o nome de Merry Christmas, este incrível trabalho chegou às lojas dia 1° de novembro de 1994 levando muitos a garantirem suas cópias para poderem embalar a noite de Natal pelos lares estadunidenses afora. O álbum já começa com um clássico quase onipresente dos repertórios natalinos, que é a famosa Silent Night (aqui ganhou a versão de nome Noite Feliz) com uma sonoridade totalmente gospel, aproximando também da sonoridade R&B total com um coral que ajuda mais na grandeza desta versão; adiante, temos aqui aquela que é considerada a mina de ouro do período de festas, a que quase nunca pode faltar nas programações de rádio - sua criação (e de Afanasieff) All I Want For Christmas is You, basicamente o carro-chefe e faixa de grande destaque do álbum, com um clima bem voltado para o soul e o R&B bem dançante, fiel ao estilo dos anos 60 notando os ares retrô e funciona muito bem aqui como uma canção celebrativa, e sendo presente em eventos ocasionais até hoje; outra velha conhecida do cancioneiro natalino presente é O Holy Night, talvez uma das mais antigas do repertório pelo fato de ter sido composta pelo francês Adolphe Charles Adam (1803-1856) por volta de 1847 e adaptado em inglês por John Dwight Sullivan (1813-1893), e mantendo esse clima mais gospel em toda a música, desde o arranjo instrumental (o piano em especial) até o coro que faz presença no refrão; adiante, seguindo toda essa beleza sonora do disco natalino, ainda podemos contar com uma bela criação dos anos 60 chamada Christmas (Baby Please Come Home), gravada por Darlene Love e composta por Jeff Barry e Ellie Greenwich mais o lendário (sem esquecermos o lado polêmico) produtor Phil Spector, criador do estilo Wall of Sound dessa época, que tinha um quê de pop original da época mantido na versão de Mariah que não faz feio, e trata sobre alguém que pede a pessoa amada que volte logo nesse momento de festa e união, nada mal mesmo; ainda temos aqui outra criação da dupla Afanasieff & Carey envolvendo amores (ou desamores) de Natal, e quando pegamos os primeiros acordes de Miss You Most (at Christmas Time), na qual a cantora fala sobre um amor que perdeu muito nas festas natalinas, que traz aquele ar mais das canções românticas, com um piano que reina soberanamente e uma base bem melódica, e sua voz brilha como nunca por aqui, impressionando a todos nós; a próxima faixa é outro clássico vindo antes do século XX, mas bem antes mesmo, refiro-me a Joy to The World, criação do teuto-anglo Georg Friedrich Händel (1684-1759) com a letra do teólogo, poeta e pregador inglês Isaac Watts (1674-1748) e traz como um louvor sobre a volta de Cristo em pleno fim dos tempos, ao contrário da sua vinda como bebê em um estábulo - só a segunda metade de sua letra ainda seguem sendo usadas, e aqui, o gospel de igrejas americanas ganha a batida dance, como se o louvor invadisse as pistas de dança, e funciona bem até; e, fechando a trinca autoral pra cumprir tabela neste álbum, a celebração do nascimento de Cristo retratada por Mariah e Walter através de Jesus Born on This Day, mantendo essa energia puramente religiosa nos arranjos, o coral ganha um destaque forte e a orquestração dá essa atmosfera que faz a diferença no tema; ainda pelo repertório clássico, ela ainda vai cantando a vinda do Papai Noel à uma cidade qualquer em Santa Claus is Comin' to Town, um clássico lançado em 1934 e que traz ao seu estilo uma celebração à vinda deste senhor que presenteia a todos, o arranjo que traz essa influência do gospel e do R&B muito presente no álbum ainda; adiante, uma junção de dois temas enraizados no gospel e com louvor ao filho de Deus, Hark! The Herald Angels Sing faz a linha de continuar com essa celebração louvável ao nascimento de Jesus, enquanto Gloria In Excelsis Deo vai por essa natureza simples e tradicional e um dos mais conhecidos louvores cristãos de sempre, com piano, orquestra e coros ajuda a abrilhantar como sempre; ainda contamos no álbum com outra bela canção de enaltecimento à Cristo, desta vez Jesus Oh What a Wonderful Child, que carrega detalhadamente um clima bem gospel de igrejas protestantes americanas que dá o trabalho de conseguir manter o espírito natalino tão vivo quanto nunca; fechando o álbum, temos aqui uma canção que mantêm esse clima de louvor, porém num estilo mais acapella chamada God Rest Ye, Merry Gentlemen soa como um louvor profundo fechando a obra natalina da cantora.
Graças a este álbum, ela conseguiu atingir a tradição simoniana de toda vez em que o Natal fica mais perto, as rádios começam a tocar All I Want For Christmas is You e ainda apresentar-se em ocasiões temáticos com essa música, seja em programas de televisão, eventos como os dos parques da Disney ou em locais importantes de cidade, a ponto até desta canção ganhar um livro infantil e até um filme animado com base na mesma - quem acha que aqui ninguém faz de um hit natalino a sua galinha dos ovos de ouro é porque fica com medo de que isto possa gerar um clichê atormentante, tal como fizeram com o 25 de Dezembro da nossa Simone (a ponto de virar chacota só por Então é Natal ser executada em alto-falantes de comércios Brasil afora). Mesmo assim, em 2010 - um ano após lançar Memoires of An Imperfect Angel, ela lançou sua continuação do sucesso de 16 anos atrás intitulado Merry Christmas II You, com um sucesso mediano ao do primeiro, mas nunca desfazendo-se das tradições dos álbuns natalinos, sempre com mensagens importantes. Tudo o que queremos para o Natal é acreditar no melhor para o nosso amanhã.
Set do disco:
1 - Silent Night (Franz Xaver Guber)
2 - All I Want For Christmas is You (Mariah Carey/Walter Afanasieff)
3 - O Holy Night (Adolphe Charles Adam)
4 - Christmas (Baby Please Come Home(Jeff Barry/Ellen Greenwich/Phil Spector)
5 - Miss You Most (at Christmas Time)(Mariah Carey/Walter Afanasieff)
6 - Joy to The World (Georg Friedrich Handël/Isaac Watts/adaptação Hoyt Axton)
7 - Jesus Born on This Day (Mariah Carey/Walter Afanasieff)
8 - Santa Claus is Comin' to Town (John Frederick Cotts/Haven Gillespie)
9 - Hark! The Herald Angels Sing (William Hayman Cummings/Felix Mendelssohn)/Gloria In Excelsis Deo(Tradicional)
10 - Jesus Oh What a Wonderful Child (Tradicional)
11 - God Rest Ye, Merry Gentlemen (Tradicional) - faixa bônus da edição internacional

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