Um disco indispensável: Tuesday Night Music Club - Sheryl Crow (A&M Records, 1993)

Em meio ao sucesso do grunge, da ascensão do gangsta rap e também do crescente boom de bandas alternativas nos anos 90, o pop começava a apresentar novas caras, e uma delas era uma moça vinda de Kennett, no estado do Missouri, uma moça de cabelos longos e cacheados chamada Sheryl Suzanne Crow, nascida em 11 de fevereiro de 1962, filha de uma advogado e de uma professora de piano, que sempre se mostrou apta e talentosa para a música desde pequena, e entrou para a Universidade do Missouri, aonde cursou música e se graduou. Depois de ter se formado, voltou para a sua cidade onde ela trabalhou como professora de música numa escola primária e aos fins de semana, cantava com algumas bandas e logo conheceu um produtor e músico chamado Jay Oliver, que tinha em St. Louis (Missouri/EUA), um estúdio no porão da casa de seus pais. Ali, começou a gravar sua voz para alguns jingles publicitários, dentre eles para McDonald's e a marca de carros Toyota, um começo simples na carreira, mas com algum reconhecimento possivelmente. De 1987 a 1989 ela integra a banda de Michael Jackson, acompanhando na tournée do álbum Bad (o que, para a própria era um momento mágico no palco), e gravando vocais de apoio para artistas como Stevie Wonder, Neal Schon, Don Henley e Berlinda Carlisle, e ainda mostrou seu lado atriz na série Cop Rock em 1990. Com alguns trabalhinhos aqui e ali, ela já vai mostrando também seu lado compositora, levando algumas de suas composições para nomes da música gravarem, e prepara sua estreia em disco, porém, alguns passes quase impossibilitaram que o disco não vesse a luz do sol: o primeiro é que ela estava trabalhando com o produtor de Sting, Hugh Padgham, e seria lançado em 22 de setembro de 1992, mas, ao ouvir o resultado do que se tornou o álbum, ela achou muito superproduzido, liso demais, e o álbum acabou vazando em redes de compartilhamento, com kits de imprensa, e em centrais de fã-clubes. Mas, agora era hora de lançar um verdadeiro álbum de estreia definitivo, mais bem-trabalhado e da forma como ela gostaria. 
Então, ela acabou conhecendo um músico chamado Kevin Gilbert e logo juntou um time de músicos, como eles, Bill Botrell, Dan Schwartz, Brian McLeod, David Baerwald e também David Ricketts e com esse time ensaiavam e gravaram nas noites de terça-feira e isso levou ao nome do autêntico álbum de estreia de Sheryl Crow, intitulado Tuesday Night Music Club, editado em 6 de agosto de 1993 pela A&M Records e com Bill Botrell nas guitarras e produção principal além de assinar canções em parceria com Crow. Bem-acompanhada de um time de músicos escalado, as gravações que ocorreram ainda em 1993, o título mostra uma forma de como Sheryl realmente queria fazer sua música e ajudou a se tornar uma das divas da década. Para abrir logo de cara este álbum temos aqui um tema que já apresenta logo as características de sua sonoridade vintage, Run Baby Run, que carrega uma atmosfera bem característica das baladas, com muitas guitarras e a letra fala de um moça que aprende pouco com o pai, mas que correr é o suficiente na vida; na faixa seguinte a jornada de alguém que deixa a cidade do pecado aonde o universo do entretenimento e das apostas rola solta, e é mais ou menos isso que vamos ter em Leaving Las Vegas, com uma batida mais marcada pelo ritmo e um violão influenciado pelo country e pelo folk como nas suas canções; a canção que vêm a seguir apresenta algo mais delicado no arranjo e um pouco de sentimentalismo versos da canção Strong Enough, na qual ela pergunta ao amado se ele é forte demais para ser o homem dela, carregado de influências fortes do Nashville Sound e do rock setentista, sua principal referência ao longo do disco; no disco sobra tempo ainda para mandar ver em canções embaladas de peso que mostrasse a essência roqueira dos 90, e Can't Cry Anymore é um bom exemplo, traz algo bem do rock alternativo, mas sem fugir do seu ambiente clássico que perdura nas influências; em seguida, a música Solidify apresenta características bem fortes, uma percussão bem embalada e um órgão que, juntos, dão a deixa para ela cantar com uma base bem funky, lembrando um pouco Wendy & Lisa (a dupla que acompanhava Prince na The Revolution) ou algo bem diferenciado, fala de um amor mais solidificado, muito a ver com os estados da água ao lermos alguns versos; logo em seguida, um rock mais norteado para um estilo de rap, The Na-Na Song - apresenta uma coisa voltada à globalização e a cultura americana e elementos de outros países, citando desde o macaroni e os tênis Nike, passando pelo Burger King, Steely Dan, Beatles e Madonna, citando até o cybermundo - email em geral, um rock com uma veia bem a cara dos anos 90 carregado de bom humor pelo que se ouve; saindo do lado mais rockzão básico e indo para uma coisa mais suave e preciso, e No One Said It Would Be Easy soa aqui como uma balada country de uma atmosfera mais doce, não muito, e, ainda que fale de suas ilusões amorosas e seus sentimentos, é de se esperar uma música boa que agrade como o restante do disco; mesmo que o disco não deixe pistas de um tropeço sequer no repertório, Tuesday Night Music Club é um belo de exemplo sobre como uma mulher à frente de um conjunto de AMIGOS MÚSICOS conseguem mostrar uma química perfeita musicalmente e a faixa seguinte, What Can I Do For You é um exemplo bom disso: letras que agradam, um arranjo mantendo fidelidade à sonoridade do disco: do que mais podemos reclamar mesmo? Mas, quem viveu os anos 90, foi para as pistas de dança curtir a noite deve se lembrar de um tema deste disco que fez muito sucesso: inspirado no poema Fun, de Wyn Cooper escrito em 1987, Sheryl fez de All I Wanna Do um dos hinos festeiros da geração 90 e com aquele feeling, o primor da sua sonoridade, acaba sendo o hit das rádios que ajudou a ser notada como uma grande cantora e fazer o disco vender milhões; o que ainda temos de elementos sonoros no disco é modern jazz, presente em We Do What We Can, com um trompete flugelhorn presente, na letra ela canta sobre seu pai Wendell Crow, que toca o tal trompete, e conta um pouco do convívio em família, das lembranças boas ao longo dos seus mais de 5 minutos com suavidade e uma bela mostra de como manter a essência em um disco todo; e, fechando de vez este disco, temos aqui ainda uma pérola que mostra ainda o seu melhor e o da banda em I Shall Believe, sobre alguém em quem ela acredita que ajuda nela quando está na bad amorosa e possa curá-lo de uma dor, e com um tom mais soft, termina assim esse belo disco.
Sheryl acabou conquistando da noite pro dia um público e se tornou uma das estrelas do ano de 1994, numa década em que nomes como Joan Osborne, Alanis Morissette, Liz Phair e mostrou uma grande exposição, com clipes exibidos frequentementes na MTV, estampando matérias de revistas e vindo a ser conhecida até hoje pelo seu talento. A gente ia esperar um tempo para ouvir algo de novo dela, basicamente uns 3 anos, até que em 1996 ela lança seu álbum Sheryl Crow - mas aí já é uma outra história. O disco figura em listas importantes, algumas relacionadas aos anos 90, e também entrou na célebre lista dos 1001 Discos Para Ouvir Antes, uma prova de seu reconhecimento enorme como cantora e compositora ao longo desta década de 90 e ainda na ativa. Para quem fez de uma junção de amigo às terças de noite render um belo disco, nada mal.
Set do disco:
1 - Run Baby Run (Sheryl Crow/Bill Botrell/David Baerwald)
2 - Leaving Las Vegas (Sheryl Crow/Bill Botrell/Kevin Gilbert/David Baerwald/David Ricketts)
3 - Strong Enough (Sheryl Crow/Bill Botrell/Kevin Gilbert/David Baerwald/David Ricketts/Brian MacLeod)
4 - Can't Cry Anymore  (Sheryl Crow/Bill Botrell)
5 - Solidify (Sheryl Crow/Kevin Hunter/Bill Botrell/Kevin Gilbert/David Baerwald/David Ricketts/Brian MacLeod)
6 - The Na-Na Song (Sheryl Crow/Bill Botrell/Kevin Gilbert/David Baerwald/David Ricketts/Brian MacLeod)
7 - No One Said It Would Be Easy (Sheryl Crow/Bill Botrell/Kevin Gilbert/Dan Schwartz) 
8 - What Can I Do For You (Sheryl Crow/David Baerwald)
9 - All I Wanna Do (Sheryl Crow/Wyn Cooper/Kevin Gilbert/David Baerwald)
10 - We Do What We Can (Sheryl Crow/Bill Botrell/Kevin Gilbert/Dan Schwartz)
11 - I Shall Believe (Sheryl Crow/Bill Botrell)

Comentários

Mais vistos no blog