Um disco indispensável: Chega de Saudade - João Gilberto (Odeon, 1959)

Ele poderia ser mais um entre os honoráveis nomes que agigantaram a bossa nova, mas se não fosse através deste disco, João Gilberto do Prado Pereira de Oliveira, nascido na cidade baiana de Juazeiro no dia 10 de junho de 1931, poderia estar zanzando pelos bares e churrascarias da vida carioca tocando seu violão numa boa e sem muito reconhecimento, mas aí é que você se engana. Graças a este disco que existe Caetano, Chico, Gil, Milton, Tom Zé, os Novos Baianos entre outros, através deste disco e das performances musicais e sua forma de tocar violão mudariam o rumo da MPB. Naqueles tempos, os cantores de rádio eram os ídolos máximos com seus cabelos “gumex” para trás, com bigodinho estilo amante latino e cantavam boleros com um tom forte, conquistando desde as empregadas até o público da Rádio Nacional. João fugiu dos padrões, mostrando-se um exímio e talentoso cantor e violonista que sempre buscava um jeito de mostrar a sua batida “bossa nova”. Porém, só descobriu sua fórmula bossa nova enquanto estava em Porto Alegre no ano de 1955 estudando música com Armando Albuquerque, professor de música, maestro e musicólogo e partiu para a cidade mineira de Diamantina, onde estava sua irmã recém-casada e com uma filha. Ali, descobriu um jeito de cantar baixinho pela acústica do banheiro e o foi desse jeito que aconteceu a origem do jeito “bossa nova” de João cantar e tocar violão. Vai para o Rio de Janeiro em 1957 e conhece Antonio Carlos Jobim, João Donato e outros nomes da cena carioca e ali inicia-se o início de mais uma fase que seria a principal: o surgimento da bossa nova. É creditado como Zé Maconha, apelido dado na época, no álbum Canção do Amor Demais, o primeiro LP de Elizeth Cardoso, na qual apresenta canções da parceria de Jobim com o poeta Vinícius de Moraes.
1959, Rio de Janeiro: o momento exato da bossa nova.
João Gilberto (ao violão), Antonio Carlos Jobim (com as mãos juntas),
alguns amigos e Vinicius de Moraes (atrás, de óculos)
João é convencido por Tom a também mostrar sua voz em registros, embora já havia lançado compactos entre 1952 e 1953 com Russo do Pandeiro. Logo, Tom e João iniciariam os trabalhos durante 1958 e comecinho de 1959 com Milton Banana na percussão e o maestro Jobim nos arranjos e direção musical, além de ter tocado piano e produzido pelo Aloysio de Oliveira nos estúdios da Odeon, no Rio. O disco além das canções de Jobim e Vinicius, como a imortalizante e eterna Chega de Saudade, hino da bossa nova e daqueles novos tempos na música brasileira e Brigas Nunca Mais, também teve Newton Mendonça colaborando com o Maestro em Desafinado, clássica e indispensável nos show de João Gilberto. Além do conhecido sucesso do samba É Luxo Só de Ary Barroso, que João trouxe de volta para o público e que já tinha sido sucesso por Elizeth Cardoso e do mesmo Ary foi regravado Morena Boca de Ouro, o ídolo Dorival Caymmi é reverenciado com uma regravação de Rosa Morena e do clássico Aos Pés da Cruz que já conhecida anos antes na voz de Orlando Silva, Carlos Lyra compõe individualmente Maria Ninguém e com Ronaldo Bôscoli trouxe Lobo Bobo e a bela Saudade Fez Um Samba, canções que mostram um pouco do talento e da forma “bossa nova” de retratar o samba pela dupla Lyra-Bôscoli. João também traz seu lado compositor, como em Bim-Bom, com levada de samba de breque,e a suavizante Hô-Bá-La-Lá, ambas regravadas mais tarde em um medley por Caetano Veloso, um de seus maiores devotos e fãs, no ao vivo Totalmente Demais (1986).
O disco tem tudo o que precisava para ser ouvido naqueles anos, uma verdadeira peça-chave que faltava para uma nova fase da MPB e que mudaria também o rumo de fazer música a partir deste disco, causando uma enorme repercussão que acabaria trazendo inovações naquela época, deixando assim a Música Popular Brasileira ganhar ares novos graças à batida do violão e a suave voz do baiano de Juazeiro que conseguiu aparecer no momento exato em que a MPB precisasse de caras novas que conseguissem trazer coisas diferentes do que eram feitas até então.

Set do disco:
1 - Chega de Saudade (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
2 - Lobo Bobo (Ronaldo Bôscoli/Carlos Lyra)
3 - Brigas Nunca Mais (Antonio Carlos Jobim/Vinicius de Moraes)
4 - Hô-Bá-La-Lá  (João Gilberto)
5 - Saudade Fez Um Samba (Ronaldo Bôscoli/Carlos Lyra)
6 - Maria Ninguém (Carlos Lyra)
7 - Desafinado (Antonio Carlos Jobim/Newton Mendonça)
8 - Rosa Morena (Dorival Caymmi)
9 - Morena Boca de Ouro (Ary Barroso)
10 - Bim-Bom (João Gilberto)
11 - Aos Pés da Cruz (Marino Pinto/Zé da Zilda)
12 - É Luxo Só (Ary Barroso/Luiz Peixoto)



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