Um disco indispensável: Random Access Memories - Daft Punk (Columbia/Sony Music, 2013)

O ano de 2013 nunca foi tão cheio de discos da música pop, e dentre estes discos o do duo de DJs franceses Daft Punk, liderados por Thomas Bangalter e Guy-Manuel de Homem-Christo, que trouxeram de volta a época dourada da discothèque, com a ajudinha de lendas do pop como o aclamado Giorgio Moorder, o líder do grupo The Strokes, Julian Casablancas e o Midas da música pop: Nile Rodgers, do lendário grupo Chic entre os anos 1970 e 1980 e produtor de discos de Madonna e David Bowie, que também lançara um disco inédito sem precisar aparecer na mídia. Quando se trata dos maiores DJs do mundo, ou se pensa em Avicii, Steve Aoki, Tiesto e até em David Guetta, mas nada comparado ao Daft Punk, ousados e incomparáveis como nunca, conseguiram trazer uma velha sonoridade para um novo público, o mesmo público que os acompanhou desde os 90 quando ainda mostravam suas caras e até durante a expansão em 2002 com Discovery e em 2005 com Human After All, e depois trabalhando em uma trilha sonora para um filme da Disney Tron: Legacy, que acabou mostrando as possibilidades de um disco inédito dos franceses mais cultuados da música pop contemporânea e trazendo um velho jeito de se fazer música pop. Um vídeo na internet com os dois androides-DJs-produtores franceses sem seus mitológicos capacetes na sede da gravadora Columbia, em Los Angeles (Califórnia) se divertindo enquanto apresentavam uma música aos executivos no início de 2013.
O que se esperava de um disco do Daft Punk? Algo típico de seus discos como a reutilização de sintetizadores analógicos, baterias eletrônicas e instrumentos típicos dos anos 70 e 80, seriam necessários num disco retrô, aceito por 95% do público e crítica, que elegeu o melhor disco de 2013? Claro que sim, desde que o público entendesse que as pessoas entendessem o porquê do disco Random Access Memories ter ressuscitado a era da discoteca, os clipes também são criativos como sempre, a turnê do duo está levando multidões pelo mundo afora e com um brilho que só se via lá em 1976 e parou de se ver em 1982 ou 1983, o efeito disco music que abalou as estruturas das danceterias e de milhares de casas noturnas pelo mundo afora, se nos EUA você podia aproveitar a vida no Studio 54, o Rio de Janeiro poderia fazer você cair na gandaia no Frenetic Dancin’ Days, a boate do jornalista musical Nelson Motta, que durou poucos meses naquele ano de 76. Em época de reviver os sintetizadores, sonoridades imortais e trazer algum formato sonoro clássico que é pouco revivido, o Daft Punk conseguiu trazer aquele período de disco, que ganhou impacto maior após o filme Os Embalos de Sábado a Noite, estrelado pelo então galã John Travolta e com a trilha sonora assinada pelos Bee Gees, o mundo todo caiu na onda disco. Desde o pessoal mais roqueiro, como o Kiss (que acusaram de traírem o rock após gravarem “I Was Made For Loving You”, algo diferente do que eles faziam no hard rock), Rolling Stones, o então doido de carteirinha Rod Stewart e até passando pelo Brasil, com ídolos da MPB fazendo discos com músicas mais dançantes, como Gilberto Gil, Rita Lee, Erasmo Carlos, Fagner, Tim Maia e até (olha essa!) Jorge Ben mandaram botar pra quebrar com músicas pra cima cheia de energias nas picapes ou sistemas de som dos DJs nas terras tupininquins: mas aí já é outra história. Quando se trata de sons ousados nas baladas mundiais, o Daft Punk é especialista pois eles começaram com a onda de trazer sonoridades clássicas do pop a partir dos anos 2000. Falarei por aqui das presenças que deixaram o disco mais pra cima e com ares de pop dançante, como a de Giorgio Moroder dando alguns retoques em efeitos numa música-homenagem chamada Giorgio by Moroder, que são nove minutos de pura viagem sonora com aquela sensação de que o guru da disco está mais na música que o Daft Punk juntos; isso porque você não viu o que Julian Casablancas gastou nas cordas vocais para aperfeiçoar a música Instant Crush, que parecia ser uma daquelas canções que você ouve e pensa que é um pop-deprê oitentista na voz e na forma da música e pensa que a presença de Casablancas até deu um brilho especial no disco. Mas o brilho forte foi o que Nile Rodgers, lendário membro do Chic e produtor de gente boa da música pop, que com seu jeito único e poderoso de tocar guitarra e conceber arranjos em Lose Yourself to Dance e Get Lucky, que conseguiu arrasar nas baladas o público e a crítica. Nile, que andava recluso após ter se tratado das drogas e do alcoolismo, disse à Rolling Stone que quando ele queria sair foi quando o pessoal do Daft Punk o pôs de volta. “De onde eu venho, groove é tudo” foi à definição que Nile buscou para falar sobre a forma de fazer um som mais groove, e que o seu tipo de disco music que ele faz é mais baseado em jazz fusion, época em que Nile apareceu e cresceu fazendo discos interessantes e baseados em jazz, fusion e soul. Em Lose Yourself to Dance, ele faz um suingue típico e não é de hoje que vemos um típico riff de black music qualquer: é um riff do Nile com o Guy-Manuel e o Thomas fazendo a parte deles e o Pharrell cantando do seu jeito de sempre. É esse jeito que segue em Get Lucky: suingue, etc. e tal: sem fugir do jeito de reciclar o velho som. Get Lucky já é mais um outro jeito de fazer o público dançar e que conseguiu atrair mais gente para poderem reviver juntos o período discotecário dos anos 70 e 80 com o mesmo Pharrell e o mesmo Nile dando aquela canja para fazer todas as pistas do mundo dançarem, de Saint-Tropez a Ibiza e do Leme ao Pontal (foi muito exagero citar Tim Maia por aqui né?!) e que graças ao videoclipe e também às vendas, fez com que o duo conseguisse manter-se ativo nas pistas até hoje.
Algumas das outras músicas, com as colaborações de Panda Bear (um DJ popular na Europa), Todd Edwards e também do produtor das trilhas dos Muppets, Paul Williams em uma canção de oito minutos onde ele põe a voz como se estivesse acordando em seus tempos áureos quando fez o papel do filme The Phantom of Paradise em 1975: a música Touch é um momento forte para quem já fez as trilhas dos maiores fantoches da televisão americana, criados por Jim Henson; Williams conseguiu cantar com o coração e de uma forma emotiva como se fosse algo muito tocante demais quando a gente ouve, só que movido a sintetizadores e a um trompete anunciando a chegada de algo ou de alguém no meio da música. Enfim, o disco completo é uma viagem (eu disse milhares de vezes) a um mundo sonoro do duo mais poderoso da música eletrônica recheado de sonoridade vintage e ressucitação do velho modo de fazer som como se fazia quando os ainda pequenos Thomas e Guy-Manuel só ouviam no rádio os grandes Giorgio e Nile botar pra quebrar com seus hits dançantes. Simples, ousados e os mesmos recicladores do velho jeito de fazer pop como sempre.
Setlist do disco:
1) Give Life Back to Music (Guy-Manuel de Homem-Christo)
2) The Game of Love (Guy-Manuel de Homem-Christo)
3) Giorgio by Moroder (Guy-Manuel de Homem-Christo) 
4) Within (Guy-Manuel de Homem-Christo/Jason "Gonzales" Charles Beck)
5) Instant Crush - duo com Julian Casablancas (Guy-Manuel de Homem-Christo)
6 - Lose Yourself to Dance - duo com Pharell Williams e Nile Rodgers (Guy-Manuel de Homem-Christo)
7 - Touch - duo com Paul Williams (Guy-Manuel de Homem-Christo)
8 - Get Lucky - duo com Pharell Williams e Nile Rodgers (Guy-Manuel de Homem-Christo)
9 - Beyond (Guy-Manuel de Homem-Christo)
10) Motherboard (Guy-Manuel de Homem-Christo)
11) Fragments of Time - duo com Todd Edwards (Guy-Manuel de Homem-Christo)
12 - Doin' It Right - duo com Panda Bear (Guy-Manuel de Homem-Christo)
13 - Contact (Guy-Manuel de Homem-Christo)








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