Artaud - Pescado Rabioso (Talent/Microfón, 1973)

Luis Alberto Spinetta sempre foi um cantor, músico e compositor ousado e transgressor com sua música e que, apesar já ter tido um salto enorme aos 18 anos e, isso se deve a grandes discos da sua carreira, como o primeiro do Almendra (1969) quanto em seus antológicos discos da sua banda Pescado Rabioso, que foi a banda que o pôs como o ídolo maior da nova geração da música argentina. O grupo, originalmente, foi formado por ele na guitarra e voz solo, Black Amaya na bateria, Carlos Cutaia no órgão e David Lebón na guitarra, que no meio de 1972 para 1973 acabou sendo substituído por Bocón Frascino e com estes músicos foi com quem Spinetta conseguiu expandir o protótipo de megagrupo, que já havia existido com Manal (1967-1971) e foi o mesmo Pescado que ajudou o rock argentino a se fortalecer nos anos 1970, já com a existência do pessoal como Vox Dei (que ainda colhia os frutos da ópera-rock La Biblia), Billy Bond y La Pesada del Rock and Roll, Sui Generis (de onde saiu o folclórico e popular ídolo do rock Charly García), Litto Nebbia, Pappo’s Blues, Pastoral (do falecido compositor Alejandro de Michelle), Vivencia, Miguel Abuelo e do estreante León Gieco, um loiro jovem com aparência de um estudante universitário americano, só que vindo de Cañada Rosquín, que futuramente faria um hino multirreligioso “Sólo Le Pido a Dios”. Foi em 1973 que, após o álbum Pescado Rabioso 2, no qual se resultou em um belo álbum duplo que a banda definitivamente se separou na época e com a ditadura militar latina em boa parte dos países (o Chile teria seu país sob o comando do general Augusto Pinochet após derrubar o presidente comunista Salvador Allende naquele ano) e Spinetta viu que era hora de desfazer a banda e de Amaya, Cutaia e Frascino pois estavam prontos para outros desafios fora do Pescado. Foi no meio deste ano em que Spinetta deveria manter o contrato com o selo Talent, um braço para os artistas roqueiros da gravadora Microfón como Pescado Rabioso, embora este disco seja um pouco mais disco solo do que do Pescado pois o primeiro disco solo dele Spinettalandia y Sus Amigos (que, originalmente, foi lançado como Almendra, por erro da gravadora RCA pois o nome Spinettalandia só seria utilizado quando relançaram em CD em 1995) não foi o que ele queria tanto para que o público entendesse-o fora do Almendra. O álbum foi gravado no antológico estúdio ION em Buenos Aires, produzido todo de forma caseira, Spinetta contou com a ajuda do irmão Gustavo e de seus dois ex companheiros de Almendra: Emilio Del Guercio (baixo) e o então baterista do grupo Aquelarre, Rodolfo García. A música Todas las Hojas Son Del Viento mostra um Spinetta mais sutil quando canta e transforma suas canções em hinos inesquecíveis, a música têm a mesma levada acústica de Muchacha Ojos de Papel, canção que imortalizou na história a banda Almendra, a primeira grande banda de sucesso de Spinetta; já em Cementerio Club, que tem um solo blueseiro com um verso profético “que calor fará sem você neste verão” e com um Spinetta mais profundo e melancólico no jeito de cantar. Por já é uma música que nos lembra os poemas-concretos dos irmãos Augusto e Haroldo de Campos, violãozinho e voz: algo típico nos bares e no disco de Pescado Rabioso/Luis Alberto Spinetta; Superchería é uma rock-song com riff típico de músicas dos anos 70 e com mais uma frase desafiadora “Então, para você não existe nem o medo, nem a dor e nem o frio” como se estivesse falando de um bravo herói corajoso e destemido ou, quem sabe, de um viking.
A sequência acústica continua em La Sed Verdadera, com efeitos e samplers mostram sutilezas que se repetem nas músicas anteriores Por e Todas Las Hojas Son Del Viento (embora estas não tenham a presença de samplers); enquanto Cantata de Puentes Amarillas é uma música mais com fases, começa um pouco delicada e acústica e no meio da música chega a um ponto mais pesado e eletrificado de guitarras; enquanto Bajan é uma simples e ousada canção com tons mais simples e populares que já se podem ouvir nas canções mais pesadas do disco e mais simples; A Starosta, el Idiota é uma canção que até tem características mais sutis e estranhas do que qualquer música: um piano sombrio, samplers de guitarras, e sample dos Beatles cantando “She Loves You” e também um pouco de estilo dramático com o piano tocando como se fosse uma canção-tema de um filme de terror com poesia spinettiana. O encerramento fica com Las Habladurías del Mundo, um tanto como se soasse o fim de um espetáculo e o adeus de mais uma fase, a fase Pescado Rabioso. Até hoje se sabe que a banda acabou na época do disco Pescado 2 (1973) e que de alguma forma, ele tentou manter a banda, mesmo que só ele se mantivesse por lá por causa de mais um disco - aquela velha estratégia de cumprir contrato. A capa é bem interessante, o disco e a capa em todo é dedicado ao escritor francês Antonin Artaud, cuja frase inspirou até a capa do disco e o encarte “Por acaso não são o verde e o amarelo, cada uma as cores opostas da morte: o verde para a ressureição e o amarelo para a decomposição e a decadência?”. Ou seja: Spinetta estaria se ressucitando, só que em outra forma, que seria no conjunto Invisible, que resultou três discos, algumas canções conhecidas. A banda foi formada após o lançamento de Artaud e se separou em 1976. O disco é considerado pela revista Rolling Stone (da Argentina) como o número um dos cem melhores discos do rock argentino e o legado musical deste disco permanece mais vivo do que nunca, embora o líder Spinetta já tenha deixado o mundo com um pouco de mais tristeza ainda ao falecer em 8 de fevereiro de 2012, quando se tratava de um câncer.
Setlist do disco:
1) Todas Las Hojas Son del Viento (Luis Alberto Spinetta)
2) Cementerio Club (Luis Alberto Spinetta)
3) Por (Luis Alberto Spinetta)
4) Superchería (Luis Alberto Spinetta)
5) La Sed Verdadera (Luis Alberto Spinetta)
6) Cantata de Puentes Amarillas (Luis Alberto Spinetta)
7) Bajan (Luis Alberto Spinetta)
8) A Starosta, El Idiota (Luis Alberto Spinetta)
9) Las Habladurías del Mundo (Luis Alberto Spinetta)

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