Um disco indispensável: O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui - Emicida (Laboratório Fantasma, 2013)

O rapper Emicida conseguiu muito antes da consagração definitiva com o seu primeiro álbum completo depois de duas mixtapes Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro por Comida, Até que Eu Cheguei Longe (2009) e Emicídio (2010); seguido dos EPs Sua Mina Ouve Meu Rep Também (2010) e Dozicabraba e A Revolução Silenciosa (2011) e ter gravado um DVD ao lado do velho parceiro Criolo (antigamente chamado por Criolo Doido) pela Universal Music com direito a participação do padrinho Mano Brown, a lenda viva do hip-hop e do conjunto Racionais MC's, gravado no Espaço das Américas, em São Paulo no final de 2012. Enquanto Emicida aproveitava a ascensão do seu sucesso e reconhecimento como rapper e ídolo da nova geração da Música Popular Brasileira, ele trabalhava em mais um material de sucesso que iria abalar tanto a crítica quanto o público e conseguiu mesmo (não tô mentindo, acabei de ouvir o álbum na madrugada e achei muito interessante e do meu agrado). Alguns ídolos do nosso rap o abraçaram muito, como Xis, Marcelo D2, PMC (da lendária dupla PMC & DJ Deco, que já participou dos primeiros discos da banda Charlie Brown Jr.), Ndee Naldinho entre outros, já o elogiaram e falaram muito bem de Emicida, que é presença constante quando se trata em fazer até mesmo uma palhinha com gente do tipo NX Zero em "Só Rezo 0.2" do Projeto Paralelo (2010), disco do grupo de rock que contava com a presença de convidados, a maioria rapper; consagrado até mesmo em festivais independentes e em programas de canais como a MTV, que estava deixando um pouco de abraçar a nova geração depois que surgiu a onda do MySpace e da internet: aliás, seus clipes na internet foram o motivo para ele ser mais conhecido no circuito alternativo do rap e na mídia televisiva, onde é o objetivo mais difícil para um artista do nivel como ele. O álbum é um resultado de encontros com grandes ídolos, parceiros de estrada e gente de alto nível como: Rael da Rima (que depois ficou só Rael), Pitty (que mais fazia dueto do que discos, o que não acontecia desde 2009 com o álbum Chiaroscuro, apesar do projeto Agridoce), Wilson Das Neves (baterista lendário da MPB que participou de trabalhos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso entre outros), Quinteto Em Branco e Preto, dona Jacira (mãe do rapper que está onipresente em quase todo o disco), além de Fabiana Cozza e Tulipa Ruiz. A abertura em Milionário do Sonho é algo que parece soar como se fosse autobiográfico que parece lembrar um pouco a batalha de Emicida para o sucesso, embora ele seja visto como um sujeito qualquer para alguns críticos; já Levanta e Anda, que conta com o velho amigo Rael da Rima, que fala sobre a realidade do povo que vive a batalhar e tentar vencer desafios na vida; Nóiz pode ser um aviso aos inimigos, a tal alta sociedade que menosprezaram o rapper e seus companheiros por nunca terem dado chances à estes que se consagrariam de um jeito mais diferente e com o público comunitário das periferias; Zóião é uma crítica ao tipo metido, garrão, que adora bolar suas maldades e que não quer ver o lado bom da vida; Crisântemo é um conto biográfico onde fala de como aconteceu a perda do pai que nunca conheceu, em especial, da vida que ele levava até morrer antes do próprio rapper nascer, contado pelo próprio Emicida e pela dona Jacira, mãe do rapper que verseja com o filho a cada fim de música; Sol de Giz de Cera pode parecer um pouco uma volta à infância e às brincadeiras e aos contos infantis, a presença de Tulipa Ruiz e de Estela Vergílio, filha do rapper dá um tanto de brilho nesta música; Hoje Cedo é uma prova de como Emicida conseguiu chegar a seus objetivos com desafios, mostrando quem estava preparado para tudo e para todos aqueles que viriam à sua frente e mostrando como o uso da palavra de Deus nos negócios está sendo afetada "A sociedade vende Jesus, por que não ia vender rap, o mundo vai se ocupar com seu cifrão, dizendo que a miséria é quem carecia de atenção." e Pitty caprichando como sempre no refrão; já Trepadeira é a prova de que o Emicida está sempre bem acompanhado: o baterista Wilson Das Neves cantando junto e falando do amor e das plantas à moda antiga, como nos primórdios do samba e de um jeito mais delicado, com um pouco dos versos modernos do rap; Bang! é um tiro no pé de muita gente, mas, em especial, apela um pouco às origens negras e também com um pouco de religiosidade na forma de expressar a crítica social do povo brasileiro hoje evitando que os males tirem tudo o que há da gente "Para que as trevas não levem seu brilho, para que as coisas não saiam do trilho" o que foi um dos meus temas favoritos do meu agrados; enquanto Gueto é um dueto com ninguém mais e ninguém menos do que MC Guimê (quem é esse?!) onde ambos mostram que não estão com medo de nada e nem de ninguém e acrescentando versos de funk-ostentação, batidas de samba e um pouco mais de berimbau; Hino Vira-Lata é mais um jeito de como se mistura hip-hop com samba, no estilo do seu veterano colega Marcelo D2 proclamando com orgulho "Palavra boa é poesia, dá-lhe palma, minha alma é escrava da boemia" entoada em especial pelo grupo de samba paulista Quinteto em Branco e Preto; o mais estranho é em Alma Gêmea, que mais parece aquelas baladas pop de boy-band dos anos 90 com um pouco de versos que atraem e backing vocals ao estilo Boyz II Men e até Backstreet Boys e que também soa um pouco de pagode-mauricinho dos anos 90 e até o grupo Twister (que acabou em 2002, três anos depois de estourarem) e parece que nem ficou perfeito, mesmo com a ajuda do amigo Rafa Kabelo; as parcerias se encerram definitivo com o Samba do Fim do Mundo, junto da sambista Fabiana Cozza é quase uma passagem no tempo do nosso país de mais de 500 anos e das situações que aconteceram no mundo ao longo dos últimos 30 anos, com um pouco dos ritmos de exaltação aos orixás misturado nesse samba; o encerramento é com Ubuntu Fristilli é um ritmo de umbanda com um pouco de rap com batidas de origem africanas e um coro que nos lembra um pouco de Mosca na Sopa, de Raul Seixas. O disco têm um detalhe estranho: em várias faixas, a atriz/poetisa Elisa Lucinda arma uma proesia: mistura de prosa com poesia nas faixas Nóiz, Trepadeira, Bang! e em Ubuntu Fristaili: na verdade, é uma continuação do poema Milionário do Sonho, a cada final da música, e é estranho que valeu a pena os 50 e poucos minutos que eu ouvi. Um salve ao Emicida, ao Felipe Vassão (o cara que fez este disco valer a pena mesmo), ao Evandro Fióti e toda a equipe do Laboratório Fantasma e vida longa ao RETORNO GLORIOSO DE QUEM NUNCA ESTEVE AQUI!!!!!!
O disco tem algumas parcerias que foram caprichantes, mas com o MC Guimê eu não fui muito na onda, não é que eu não tenha gostado, mas eu não me apeguei muito, apesar da mistura com samba, ritmos africanos e de umbanda ter sido caprichosa.
Set do disco:
1 - Milionário do Sonho
2 - Levanta e Anda - participação de Rael da Rima
3 - Nóiz
4 - Zóião
5 - Crisântemo - participação de Jacira Oliveira
6 - Sol de Giz de Cera - participação de Tulipa Ruiz e Estela Virgílio
7 - Hoje Cedo - participação de Pitty
8 - Trepadeira - participação de Wilson Das Neves
9 - Bang! - participação de Adriana Drê
10 - Gueto  - participação de MC Guimê
11 - Hino Vira-Lata - participação de Quinteto Em Branco E Preto
12 - Alma Gêmea - participação de Rafa Kabelo
13 - Samba do Fim do Mundo - participação de Juçara Marçal e Fabiana Cozza
14 - Ubuntu Fristali











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