Um disco indispensável: Insular - Humberto Gessinger (Stereophonica, 2013)

É estranho pensar que muitos artistas não conseguem chegar à meio-século de vida bem preparados para os desafios que virão, alguns chegam tentando mudar com o público, outros saem de cena antes dos quarenta e largam a carreira por um bom tempo até amadurecerem e chegarem à conclusão anos mais tarde que o público precisa dele/dela. Não é o caso de Humberto Gessinger, que têm 50 anos bem vividos e hoje se mantêm numa bem-suceida carreira solo após menos de 25 anos à frente dos Engenheiros do Hawaii e mais cinco anos com o duo Pouca Vogal (2008-2011) junto do ex-Cidadão Quem, Duca Leindecker, apenas dois em palco: como o White Stripes e os argentinos do Vivencia (folk dos anos 70 liderado por Eduardo Fazio e Héctor Ayala). O duo/conjunto Pouca Vogal acabou em 2012 após um show na Bahia, sem conflitos e sem diferenças, a partir daí, Humberto prepararia um material que estava sendo preparado para um possível trabalho solo ou de uma (possível) volta dos Engenheiros, o que não seria mais possível nos planos de Humberto porque isso já houve algumas tentativas de poder realizar, algumas até com Augusto Licks e Carlos Maltz, a formação mais duradoura do grupo (1987-1994). Embora isto não seja motivo de falar demais sobre o Humberto pós-Engenheiros, o que estamos para tratar aqui é sobre seu primeiro trabalho solo, Insular: um disco produzido por ele mesmo, letras boas e mantendo a sua forma de misturar um pouco de tudo do que ele já ouviu e já fez em seus materiais musicais dos Engenheiros, do Gessinger Trio (projeto que poderia ser até quase uma continuação dos Engenheiros em 1996) e do Pouca Vogal: som movido a muita guitarra, letras filosóficas e também um pouco de reciclagem de sonoridades antigas, coisas típicas de um músico qualquer, que atualmente, têm marcado muito os entendedores de músicas e atraído novos fãs da banda.
Humberto começou com o pé direito, na letra de Terei Vivido, que abre o disco com mais de um minuto, o suficiente para proclamar “Provavelmente terei vivido mais da metade da minha vida no século passado” cantando com orgulho de ter vivido metade de sua vida no século 20, muito bem vividos. A sequência fica com A Sua Graça e Bora, que trazem um pouco do que ele já usou e abusou: baixo, guitarra, MIDI pedalboard (teclado que se toca com os pés, utilizado muito por bandas de rock progressivo e por conjuntos de pop e new-wave dos anos 80), viola caipira (?!), bandolim e até acordeon, presentes em algumas músicas. A Ponte Para o Dia soa como uma música perfeita para ouvir no amanhecer ou quando precisa ouvir Gessinger na playlist de seu celular ou MP3 player, vale também perceber que a participação de Bebeto Alves ficou muito mais do que ótima, o dueto com os maiores nomes do rock gaúcho em uma música só; já Rodrigo Tavares, do Esteban e ex-integrante do Fresno por três anos (2008-2011) deu um ombro amigo ao parceiro de Trio Grande do Sul (projeto de Tavares e Gessinger mais Paulinho Tavares no acordeon) na faixa Tchau Radar, A Canção, na qual, os dois puderam fazer de tudo para que essa música ficasse perfeita e fizeram mesmo! Tudo Está Parado é uma parceria esquisita de Humberto com Rogério Flausino, do Jota Quest, aliás, esta música foi lançada pelo Jota em 2011, como parte do material inédito lançado em Folia e Caos, resultado da turnê de quinze anos da banda, e devo dizer que a versão do Gessinger ficou muito melhor que a do Jota Quest e muito original, muito ousada sem aquela de deixar um pouco de pop bem azedo. Outras músicas até que não passaram batido, como Recarga: um pouco de tradicionalismo com a ajuda do músico Luiz Carlos Borges, nosso velho conhecido do regionalismo e ícone do acordeon aqui no nosso Rio Grande do Sul utilizando muitas palavras ou “reutilizando” muitas palavras numa só canção (re)bueníssima; em Milonga Xeque-Mate já é outro caso sobre instrumentista: Frank Solari mostra o que sabe fazer com a guitarra ao lado de Gessinger, afinal, ambos são músicos e têm dotes místicos com seus instrumentos, mas já nesse caso, Frank Solari é um dos mais nomeados guitarristas do Rio Grande do Sul e do Brasil. A música já parece que nasceu para ser clássica, tanto pela letra quanto pelos solos de guitarra de Frank Solari; a faixa-título Insular é uma música curta que nos lembra um pouco Nunca é Sempre, vinheta que encerrava o disco Várias Variáveis (1991); passando para Essas Vidas da Gente segue uma mistura de linha poética típica de Gessinger e um pouco de regionalismo poético com a expressão “prenda minha” como se estivesse conversando com a pessoa amada “prenda minha, foi bom te encontrar...” recheada de romantismo que pode nos remeter a Pra Ser Sincero (O Papa é Pop, 1990) ou 3x4 (Tchau Radar!, 1999) que são as mais românticas dos Engenheiros; já Segura a Onda, DG é uma canção mostrando que o retrato de uma pessoa que fica mais velha quando se vê no espelho embora continue jovem pela idade, algo assim, tem até um pouco de lirismo musical regionalista como nas músicas Recarga, Milonga Xeque-Mate e em Essas Coisas da Vida e contou com a participação especial de Nico Nicolaiewsky, do Tangos & Tragédias que faleceu em fevereiro de 2014 após lutar contra um câncer; para encerrar com estilo, Humberto foi fundo com Plano B e foi até a fundo para mostrar que pode ser normal juntar um pouco de tudo em seu disco e encerrar com um rock gessingeriano: regado de peso, poesia e de tudo um pouco que já se ouviu dele ainda como Engenheiro. Gessinger fez um disco mostrando que rock não tem idade (é a segunda vez que diso isso), e que não tem essa de querer “permanecer mais jovem” ou ter a tal Síndrome de Peter Pan: que nunca envelhece, o que é algo típico de artistas internacionais como Avril Lavigne, afinal, é mais um dos nomes do rock gaúcho provando que continua fazendo o que mais gosta, e é um dos veteranos que prova que idade não têm limite no rock gaúcho: seus colegas Thedy Corrêa, Wander Wildner, Alemão Ronaldo, Julio Reny, Kleiton e Kledir entre outros: após o lançamento do álbum Insular, o loiro mais preferido do rock chegou aos cinquenta anos de vida no dia 24 de dezembro. Vida longa e Insular à este grande mito do nosso rock brasileiro!

Set do disco:
1 - Terei Vivido (Humberto Gessinger)
2 - A Sua Graça (Humberto Gessinger)
3 – Bora (Humberto Gessinger)
4 - A Ponte Para O Dia (Humberto Gessinger) – participação de Bebeto Alves
5 – Tchau Radar, A Canção (Humberto Gessinger) – participação de Esteban Tavares
6 – Tudo Está Parado (Humberto Gessinger/Rogério Flausino)
7 – Recarga (Humberto Gessinger) – participação de Luiz Carlos Borges
8 – Milonga Xeque-Mate (Humberto Gessinger) – participação de Frank Solari
9 – Insular (Humberto Gessinger)
10 – Essas Coisas da Vida (Humberto Gessinger)
11 – Segura a Onda, DG (Humberto Gessinger) – participação de Nico Nicolaiewsky

12 – Plano B (Humberto Gessinger)














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