DIPO Indica: 15 álbuns para curtir na quarentena

Fala, galera! Como estão vocês? Beleza moleza? Bom, vamos direto ao assunto: sabemos o pânico que está sendo com a pandemia do coronavírus/Covid-19... e com as diversas medidas de prevenção como a de SEMPRE lavar as mãos, cobrir a boca ao tossir, e também uma das mais exigidas até pelos chefes de governo (além da OAS) é a de FICAR EM CASA para evitar o risco de contrair o vírus. Sim, alguns dos grandes comércios e até o transporte público em alguns locais estão fechados, embora mercados sejam uma das únicas exceções porque o povo precisa manter sua casa abastecida de alimentos, produtos de limpeza, porque em tempos de quarentena, a casa deve manter-se bem organizada. E, para a galera que está de quarentena, decidi basicamente criar uma lista de álbuns para se descobrir enquanto se está em casa.
"Mas, por quê mais outra lista dessas de indicar sons a descobrir e curtir na quarentena?" Bom, o negócio é simplesmente esse: precisamos ajudar a moçada a encontrar uma série de sons diferentes - ok, com alguns artistas conhecidos, mas alguns títulos que não são tão falados e merecem uma audição que seduza a gente ir mais fundo pela obra de alguns artistas - conhecidos ou nem tanto. Assim como andam indicando bons filmes, artistas seguem atraindo seus fãs por homeconcerts transmitidos por redes sociais como o Instagram, Facebook e YouTube. Para dias de quarentena ficar ótimos, vai aí uma breve lista dos álbuns que estou a indicar, a pesquisa foi bem de leve, comecei com 50 títulos em mente (pensem bem na situação!), mas decidi ir somente por 15 obras de arte, conhecidas ou ainda prestes a serem descobertos. Então,disfrutem estas dicas incríveis.
E a lista não está ordenada, portanto é aleatória, ou seja, pode ser vista até a critério do leitor.
Cream - Fresh Cream (1966)
Começamos esta lista com um emblemático álbum de estreia do power trio britânico formado pelo baixista Jack Bruce, o baterista Ginger Baker, e, o "God" Clapton por trás dos acordes nas cordas mágicas da guitarra. O encontro deste trio não teria sido por coincidência: Jack Bruce e Baker não se entendiam desde que integravam o Graham Bond Organisation (GBO) e várias molecagens como sabotagem de equipamento, iria ser difícil para ele, mas o essencial era a cozinha que o trio fazia junto. Se formos ouvir o repertório do álbum de estreia, vemos aqui uma bela união de blues e jazz com o mais ácido rock, dando a entender que faziam um blues puramente elétrico. A compensar de falar demais, ouçam "Spoonful" de Willie Dixon, o momento drum hero de Baker em "Toad", a incrível releitura de "Four Until Late" de Robert Johnson onde a guitarra chora pra valer, e também de "Rollin' and Tumblin'" de Muddy Waters. Sem desmerecer o clássico hit da banda "I Feel Free", um rock de primeira com uma levada matadora e um dos melhores momentos da cozinha. É um verdadeiro workshop de blues elétrico à inglesa. Não se arrependam de ouvir!


Egberto Gismonti - Sonho 70 (1970)
Não conseguia escolher entre tantos títulos brasileiros um álbum que todos conheçam, mas fui com leveza entre os títulos quase conhecidos do público de hoje. Este, que é o segundo álbum do genialíssimo Egberto, é um belo conjunto de melodias resumido em 9 faixas brilhantes que trazem uma fusão brilhante. A capa, um retrato psicodélico seu já é literalmente um convite ao "sonho" musical propagado por ele, já dá esse astral e começamos bem. "Janela de Ouro" é um belo cartão de visita ao universo poético-musical gismontiano, as parcerias com Arnoldo Medeiros em "Ciclone" e "Indi" dão o resultado do belo casamento poesia & melodia. E a faixa "Sonho" que dá o nome ao material, é um resultado impresssionando com uma mistura de jazz e música caribenha com psicodelia, é um convite a sonhar pelo seu som. As outras músicas com poema "Mercador de Serpentes", "Lendas" e "Lírica N° 1" não fazem feio e entregam músicas de corpo e alma, não se enganem ao ouvirem apenas versos entoados de uma forma, mas poesia pura aos nossos ouvidos que merecem tanto em tempos de quarentena.

Steely Dan - Countdown to Ecstasy (1973)
Com um excelente e bem-recebido LP de estreia, o então conjunto de jazz-rock liderado por Donald Fagen (voz e piano) & Walter Becker (voz e baixo) (ou Batman & Robin do conjunto) acerta em cheio nas faixas do brilhante segundo trabalho: com as guitarras de Denny Dias e de Jeff "Skunk" Baxter e a bateria de Jim Hodder, a cozinha deu certo e eles mantiveram uma excelente fórmula de sucessos disco após disco. Sem o vocalista David Palmer, que só participou de "Can't Buy a Thrill" a estreia discográfica dos Dan em 1972, quem faz o papel de bandleader, vocalista em todo o disco é Fagen, e ele manda bem, o groove se faz cristalino em faixas como "Boddhisattva", o primor que fica impresso nos arranjos de "My Old School" e "Show Biz Kids" trazem guitarras afinadíssimas nas melodias, ritmos pulsantes e boas ideias postas em prática. Nem preciso dizer que, com isto, eles foram indo mais além em LPs como "Pretzel Logic" (1974), "Katy Lied" de 1975 e o clássico que fez importância pra forma de fazer uma música no melhor estilo do SD, o brilhantíssimo "Aja" de 1977 onde encorparam para o jazz-rock a pegada disco... mas aí, já é uma outra história.


Chet Baker - Chet Baker Sings (1954/56)
Ok, ok! Já sei o que os nobres leitores irão falar: já indiquei este álbum incrível em uma daquelas resenhas que faço ou fazia (a rotina tem me deixado fora da blogosfera às vezes), mas não dá pra escapar de uma delícia de obra de arte dessas. Ainda mais vindo do lendário trompetista e cantor vindo do Oklahoma que com seu suave cantar nos seduziu a um universo de desamores, solidão e até mesmo quando se estava apaixonado. O problema é que a versão que conhecemos é a junção do álbum original de 1954 com 8 faixas com 6 inéditas gravadas em 1956, mas, mesmo assim, dá pra considerar como uma das melhores coisas feitas na história da música: acompanhado por um super time de músicos da melhor linha jazzística para aqueles tempos, como o pianista Russ Freeman, os baixistas Carson Smith e Joe Mondragon mais o baterista Bob Neel. Na primeira edição com as oito faixas, temos aqui as pérolas "But Not For Me" dos irmãos Gershwin, a belíssima "My Funny Valentine" e "There Will Be Another You" garantindo que haverá outros lábios a beijar e outros dias, mas nenhum lábio como o de uma certa moça. E ainda temos de 1954 "I Fall in Love Too Easily", o hino dos desiludidos, dos que se apaixonam facilmente por pessoas capazes de partirem os corações. Das faixas de 1956, pérolas como "That Old Feeling" e "I've Never Been in Love Before" mostram velhas sensações de quem nunca esteve apaixonado antes e se apaixonará pela voz aveludada de Chet que influenciou João Gilberto e alguns nomes da música em geral.


Terreno Baldio - Além das Lendas Brasileiras (1977)
Alôôôôôôôôô Warner Music Brasil! Vocês mesmo! O que passa na cabeça de vocês que ainda não colocaram esta delícia de álbum em digital? Um disco conceitual baseada no folclore tupiniquim que merecia todo seu louvor e culto dentro do universo cult. Poxa, isso é lastimável... lastimável mesmo. Até a Rhino lá nos EUA faria uma edição em CD toda luxuosa e comportada para destacar a importância deste álbum. Lá vai: esta banda de rock progressiva daqui deste Brasil que canta e que é feliz (mesmo com outros sentimentos incertos em tempo de coronavírus) teve a célebre ideia de juntar personagens antológicos ainda nos anos 1970, mais precisamente no ano do vômito punk e do glamouroso embalo discothéque, meu amor! Sim, em pleno ano de Pistols, Clash, Ramones, Donna Summer, Chic e Bee Gees, o pessoal daqui grava canções com toque puramente da nossa terra canções sobre "Caipora", "Saci-Pererê", "Lobisomen", "Curupira", "Iara" e uma instrumental de nome "Negrinho do Pastoreio", personagem do popularesco folclore gaúcho. O destaque que deixo aqui nesta breve análise é a interpretação para o tema de Francis Hime e Chico Buarque "Passaredo" que faz essa junção de folk com progressivo e MPB pura nos arranjos.

Vitor Ramil - Ramilonga, A Estética do Frio (1997)
Para a geração de sulistas que sempre conseguiram a ousadia de casar o folclore gaúcho com a MPB e sons latinos, isto é uma tradição na chamada MPG (Música Popular Gaúcha) - movimento surgido em meados dos anos 1970 com nomes de peso como Nei Lisboa, Carlinhos Hartlieb (1947-1984), Hermes Aquino, Raul Ellwanger, Nelson Coelho de Castro, Gelson Oliveira, Sérgio Napp, Cláudio Vera Cruz, Bebeto Alves, os integrantes do conjunto Almôndegas após o fim do conjunto, como Pery Souza, e os irmãos Kleiton & Kledir - e, o irmão dos dois últimos, Vitor Ramil. Vitor ficou uns anos sem gravar música depois do LP "Tango" em 1987, e reapareceu em 1995 com um CD intitulado "À Beça", que saíra em uma edição limitada com uma revista de música publicada em Porto Alegre ao mesmo tempo que publicara sua novela ficcional "Pequod". Com seu quinto álbum, ele flerta com a estética nativista raiz nas 11 canções de "Ramilonga: A Estética do Frio", e dispensa em boa parte das canções o acordeom tão popular na música nativista, mas traz o harmônio e o sitar. Do folclore uruguaio, ele converte o poema "Milonga" em uma obra de arte, o mesmo faz com "Memória dos Bardos das Ramadas" de Juca Ruivo, e conseguiu fazer um belo trabalho com as poesias de João da Cunha Vargas (1900-1980) no caso de "Último Pedido" que encerra o álbum, e ainda "Gaudério" com um belo arranjo mais "Deixando o Pago", esta que Ramil acertou em cheio ao musicar. Ainda musicou do português Fernando Pessoa (1888-1935) a bela "Noite de São João" e de sua autoria temos "Ramilonga" e a conceitual "Milonga de Sete Cidades (A Estética do Frio)" na qual ele conta sobre ter concebido-a em 7 cidades: Rigor, Profundidade, Clareza, Concisão, Pureza, Leveza e Melancolia. Um disco de MPB com ares puríssimos do Rio Grande do Sul feito para todas as tribos sulistas, dos cults e indies aos gaudérios raízes.
  
Steve Miller Band - Circle of Love (1981)
Pela primeira vez, TEMOS O SMB NESSE BLOG!!! Bom, descobri este álbum meio que por acaso numa destas descobertas que são mais coincidências do destino, pois descobri a faixa-título deste como base de referência da canção "Engaña" de Gustavo Cerati, do álbum de 1999 Bocanada. E então, me aprofundei neste álbum, era o décimo-primeiro LP do conjunto estadunidense, e o primeiro desde "Book of Dreams" - já que apenas a coletânea de grandes sucessos foi editada entre estes dois LPs. O que temos aqui é um AOR da melhor qualidade, sem muito exagero, e podemos notar no hino que abre o álbum "Heart like a wheel" com um dos melhores momentos guitar hero deste álbum, assim como "Baby Wanna Dance" um clássico que chega a reviver os dourados anos dos primórdios do bom e velho rock and roll pela levada e até o título. A suavidade presente na faixa-título, com vocais à la Beach Boys, o solo de guitarra meio sintetizado dando a impressão de ouvirmos uma coisa mais voltada ao soft-rock misturado com new wave, e o álbum ainda fechava com "Macho City" uma suíte musical roqueira de 16 minutos (!!!) que ocupava o lado B do álbum: vá por sua conta e risco, é como uma jam session onde misturam elementos pop com psicodelia e progressivo pelos sintetizadores e que termina com ruído de chuva. É um excelente álbum, vá e ouça sem medo.

Johnny Cash - With His Hot and Blue Guitar (1957)
O vozeirão do Arkansas, antes de ser aclamado como o Homem de Preto, fez de tudo para chegar ao status de ícone do country: trabalhava desde pequeno em campos de algodão, viu seu irmão sofrer um acidente ao ser puxado por uma serra de madeira e morrer semanas depois - o maior choque da vida dele, serviu o Exército alemão e casou-se com Vivian Liberto, mudando-se para Memphis, no Tennessee onde trabalhava vendendo ferramentas e estudava para ser locutor de rádio, fora que ainda ensaiava com dois amigos que conheceu por lá como o guitarrista Luther Perkins e o baixista Marshall Grant e quem sabe tentar a sorte na gravadora Sun Records, onde tinha dentre seus contratados o célebre Elvis Presley, que estava de saída do selo de Sam Philips para assinar com a multinacional RCA Victor, e logo Johnny Cash ganhava seu lugar no sol de Memphis: primeiro foi fazer um teste, e Philips pediu que voltasse pra casa e pecar, para depois voltar com uma canção que vendesse. E em 1955 gravou um compacto que foi o seu nascer artístico, e dois anos depois editou seu primeiro álbum completo, que o apresentava como um gigante mesmo - "With His Hot and Blue Guitar" é o seu cartão de visita para o mundo através dos hits como "I Walk the Line" que o imortalizou como uma lenda, ao lado de "Folsom Prison Blues" surgida das lembranças de quando descobriu o documentário da famosa prisão enquanto servia na Alemanha,  "Cry! Cry" Cry!" e também "Country Boy" mais "So Doggone Lonesome" e interpretações de canções como "Rock Island Line" de Leadbelly e "Doin' My Time" de Jimmy Skinner - ah, este disco ajudou Cash a logo conseguir um contrato com a Columbia Records, onde ficou até 1986.

Fito Páez - El Amor Después del Amor (1992)
Passaram-se quase nove anos que o jovem músico apaixonado de Rosario saiu do anônimo para tornar-se um dos gigantes do rock argentino, e foi só ter um destaque acompanhando Charly García na tournée de "Clics Modernos" e o acompanhado no álbum "Piano Bar" que demonstrou estar mais além do que se pensava. Com o álbum "Del '63" nascia-se ali sua trajetória individual, passou os anos 80 em voga com discos de sucesso, mas ficou mal quando a Argentina sob o governo de Menem andou mergulhando numa amarga crise, e já fizera "Tercer Mundo" em 1990 antes de mudar-se para fora do país e voltou com o disco acontecendo e estando de volta devido à promoção e o sucesso. E com isto, dois anos depois, sai aquela que tornou-se sua magnum opus total: o clássico "El Amor Después del Amor", com produção autoral e 14 faixas imperdíveis. A começar pela faixa-título, com um ar totalmente pop para os padrões internacionais, carregado de soul pelo arranjo de metais e até os vocais de Claudia Puyo, intercalada por um rock onde Fabiana Cantilo e Celeste Carballo cantam os versos de "Dos Días en la Vida" inspirada no filme "Thelma & Louise", além de criações como "Pétalo de Sal" com a guitarra de Luis Alberto Spinetta, "Sasha, Sissí y el Circulo de Baba" além da belíssima "Un Vestido y Un Amor" surgida quando conhecera a sua então amada Cecilia Roth, o soda Cerati fez-se presente como guitarrista em "Tumbas de la Gloria" outro hit do álbum. Dois figurões e amigos de estrada do poeta rosarino batem cartão em "La Rueda Mágica": logo o seu mestre Charly e Andrés Calamaro dão um toque mais rock and roll que a música já tinha. Ainda temos também a canja célebre da saudosa voz de trovão da música argentina Mercedes Sosa (1935-2009) na célebre "Detrás del Muro de Los Lamentos", um grande clássico do cancioneiro que manteve mais conectado a tucumana com o rosarino. E os últimos dois temas mantêm a beleza poética-musical de Páez "Brillante Sobre el Mic" feita para sua ex, Fabi enquanto já namorava Roth e era sobre a própria cantando, e o encerramento com "A Rodar Mi Vida" conclui com uma energia incomparável, não à toa se tornou um dos álbuns mais vendidos na música argentina até hoje e Fito interpreta parte do repertório até hoje.

Charly García - Clics Modernos (1983)
E como falamos de Fito e rock argentino, vou mais além: o seu mestre, seu sideman nos primórdios de carreira que decolava em uma brilhante carreira solo que prossegue nos dias de hoje - o dono do mais famoso bigode bicolor do mundo da música, mister Say No More, El Aguante: don Charly García, o próprio. Em 1982, o Serú Girán deu uma trégua sem muito alarde (ou com) depois que o baixista Pedro Aznar foi estudar música nos EUA e atuar com o grupo de Pat Metheny. Charly aproveitou e gravou dois discos, o primeiro foi a trilha sonora do filme "Pubis Angelical" seguida do magnificente "Yendo de La Cama al Living", na qual contou com canções como "Superhéroe", "Yo No Quiero Volverme Tan Loco" com León Gieco, "No Bombardeen Buenos Aires" usando a metáfora da Guerra das Malvinas que acontecia e "Peluca Telefónica" tendo Spinetta e Aznar juntos. O destino novamente reuniu Aznar e García em 1983 quando o último foi para os EUA comprar sintetizadores e produzir um material, e foi para New York gravar no lendário Electric Lady com o engenheiro Joe Blaney e tendo a canja do baterista Casey Scheurell e do guitarrista Larry Carlton. É de Carlton os riffs em "No Soy Un Extraño" sobre a visão de um exilado de volta à Argentina, da nostálgica e profética "Los Dinosaurios" e da soturna realística "Plateado Sobre Plateado (Huellas en el Mar)" que falava de uma das práticas dos militares argentinos de atirarem corpos em pleno voo. Além de "Bancate Este Defecto" que ironizava os padrões de beleza e as cirugias plásticas, "Dos Cero Uno (Transas)" que falava da sua mudança artística - o corte de cabelo, o som que fazia, além da isolação "No Me Dejan Salir" com direito ao grito de James Brown, enfim... um clássico do rock argentino da melhor qualidade que continua atravessando gerações.


Emmylou Harris - Pieces of The Sky (1975)
Lá nos primórdios da década de 1970, um jovem chamado Gram Parsons após ter deixado as terras francesas onde chegou a "trabalhar" nas gravações do aclamado álbum dos Rolling Stones, o duplo "Exile on Main Street", voltou aos EUA e montou uma nova banda chamada The Fallen Angels, na qual descobriu através do amigo Chris Hillman uma moça recém-divorciada, com uma filha pra criar e que voltara a morar com os pais chamada Emmylou Harris, que participaria do conjunto de Parsons como vocalista de apoio e participaria dos álbuns do mesmo, começando pelo "GP". Em 1973 já fazia dupla com ele nos vocais, se tornando sua sidewoman - poderiam ter virado quase um Sandy & Junior do country-rock estadunidense, se Parsons não tivesse morrido após sofrer uma overdose de morfina e tequila em um motel no Joshua Tree, e com o álbum "Griveous Angel" pronto para ser lançado e que saiu postumamente em 1974, ano em que Harris lança sua (re)estreia individual, pois já gravara um disco antes em 1968, o renegado "Gliding Bird", e com a ajuda de gente como o então novo marido e produtor Brian Ahern na guitarra e baixo, o guitarrista James Burton, o baixista Duke Bardwell, o tecladista Glen Hardin e o baterista Mark Cuff além de Linda Ronstadt nos vocais. Interpretações feitas com a alma, arranjos de uma perfeição, nada que deixe a desejar, interpretações soberbas para "For No One" dos Beatles, "The Bottle Let Me Down" de Merle Haggard, "If I Could Only Win Your Love" dos Louvin Brothers, a brilhante e raiz "Coat of Many Colors" de Dolly Parton e um momento autoral para Harris em "Boulder to Birmingham" na qual ela expressa seus sentimentos após a partida de Parsons, seu parceiro e mentor musical. Uma bela homenagem que merece e muito ser bem ouvida com o coração. OBS: quando o LP foi lançado, ela ainda participou dos vocais de apoio do álbum de Bob Dylan, o aclamado e ousado "Desire" editado no começo de 1976.


Los Shakers - La Conferencia Secreta del Toto's Bar (1968)
Durante os anos 1960, o que não faltava eram bandas de rock que imitavam a sonoridade e o visual dos Beatles, e lá no Uruguai houve um caso bem famoso de um conjunto que parecia uma réplica "criolla" do famoso quarteto de Liverpool formado pelos irmãos Fattoruso, Hugo e Osvaldo - vocais e guitarras, Roberto "Pelín" Capobianco no baixo, violoncelo e bandoneon e Caio Vila na bateria. Eles surgiram com "Break it All", o hit de 1965 que aconteceu pelo eixo hispânico da América do Sul e depois mostrando influências do tango, do jazz, candombe e acreditem se quiser - samba e bossa nova, eles absorviam como esponjas e traziam essas influências para dentro do LP, o que era favorável para quem buscava ouvir algo diferente do tradicional beat. A partir do ano de 1967, eles começam a buscar um amplo segmento de música feita a nuestra manera, ou seja, do jeito deles, e voltam a Buenos Aires depois de uma fracassada passagem por Venezuela e a tentativa de promoverem uma canção no Brasil. Com isto, "La Conferencia Secreta del Toto's Bar" apresenta uma característica que se tornou muito comum nos projetos dos Fattoruso, como o grupo Opa. Ao ouvirmos logo de cara o medley "La Conferencia Secreta del Toto's Bar" com "Mi Tía Clementina" podemos sentir que os Shakers estavam ficando musicalmente universal, e com "Candombe" eles assumem sua faceta uruguaia, com o gênero afro-uruguaio muito influente em Montevideo, o pop barroco fluindo à moda uruguaia em "Una Forma de Arco Iris" e ainda invocam uma dose forte de acidez sonora em "B.B.B. Band" um dos destaques do LP, e ainda pérolas como "Oh Mi Amigo" e "Señor Carretera El Encantado" provam que os Shakers foram tão atemporais dentro do eixo Uruguai-Argentina a ponto de fazerem um "Sgt. Pepper's" para chamarem justamente de seu. Osvaldo está orgulhoso no paraíso, por ter construído uma história tão incrível com Hugo, que ainda faz suas criações sonoras ainda por aqui. E na onda deste LP deles e do que vinha sendo feito mundo afora, na América do Sul grupos como Los Gatos, Almendra, El Kinto, Aguaturbia, Los Jaivas e no Brasil o pessoal dos Mutantes em especial já botavam a gente pra viajar de vez numa eterna viagem sonora latina.

Carminho - Carminho Canta Tom Jobim (2016)
Dá pra falar infinitas vezes sobre quantas pessoas já revisitaram a obra do nosso Maestro, desde nomes como Sylvia Telles, Elizeth Cardoso, João Gilberto e a turma da bossa nova, gente do exterior como Sarah Vaughan e Frank Sinatra até os sertanejos Chitãozinho & Xororó buscaram darem suas vozes e releituras diferentes para o cancioneiro jobinesco, e, nos últimos anos, dou aqui meu destaque para a portuguesa Carminho - dona de uma voz sedutora, traz um canto da sereia único, sem comparação. Leva-nos musicalmente à terrinha-mãe com gostinho dos vinhos do Porto, do pastel de Belém, do futebol do Sporting e Benfica e inclusive dos fados coimbrãs entoados pelas ruas portuguesas. Com três CDs aclamados bravamente pela crítica e público, em 2016 nos surpreendeu ao lançar o seu songbook jobinesco, e, dá pra sentir que, aqui, ela faz uma boa interpretação acompanhada de belos arranjos - com o violão de Paulo Jobim e seu filho Daniel ao piano, Jacques Morelenbaum (Ira!, A Barca do Sol, Caetano Veloso, Julieta Venegas) ao violoncelo e Paulo Braga na bateria - um quarteto que é a nova encarnação da Banda Nova que esteve ao lado de Tom (Daniel, neto do Maestro, ainda era pequeno) durante 1 década até sua partida em dezembro de 1994. Aqui temos belas interpretações para "Inútil Paisagem", "Wave" com um arranjo primoroso, e o disco rende belos momentos "com uma ajudinha dos amigos", mas amigos brasileiros: o encontro de divas em "Estrada do Sol" onde Marisa Monte (que já participara de uma faixa do antecessor "Canto" em 2014) faz com que sentimos onde elas acertam em cheio na hora de cantarem, assim como em "Modinha" onde Bethânia dá uma canja a nível que este disco merece, assim faz Chico Buarque em "Falando de Amor" onde a conexão musical unindo tugas e brazucas segue a dar certo. E o que falar de "Sabiá" com a nossa diva-mor do teatro, cinema e TV brasileira, Fernanda Montenegro recita versos de "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias antes da música? E ainda sobra um momento para ela cantar algo jobinesco na língua de Shakespeare, sim, "Don't Ever Go Away" a adaptação para "Por Causa de Você" onde ela se mostra bem até em inglês. Nada mal, embora seja um songbook diferente dos outros sem "Garota de Ipanema", "Águas de Março", "Chega de Saudade", "Estrada Branca", "Outra Vez", "Chovendo na Roseira" dentre outros, ela escolheu um bom repertório neste, e, quem sabe, role um volume 2 com o que ficou de fora... quem sabe, né Carminho?

Focus - Moving Waves (1971)
Parei pra fazer esta lista e, como disse antes, vieram 50 títulos em mente, no final foram escolhidos os 15 definitivos: o segundo trabalho desta banda holandesa de rock progressivo foi uma delas, e olha que não foi difícil chegar à conclusão de que merecia indicar para a quarentena. O grupo vinha desfrutando de um prestígio na cena prog europeia - já que o rock progressivo era um gênero totalmente inglês, pelo fato de Yes, Genesis, King Crimson, Emerson Lake & Palmer e Pink Floyd serem de lá e as bandas mais conhecidas, o quarteto que tinha o tecladista, flautista e vocalista Thijs Van Leer, o guitarrista Jan Akkerman, o baixista Cyril Haverdams e o baterista Pierre Van Der Linden cruzaram Europa e mundo afora durante uma parte dos anos 70 com seu prog viajandão de primeira. O segundo LP foi considerado um grande sucesso para banda e explico aqui o porquê de ser um álbum tão bem popular entre o público cultuador de prog e rock psicodélico: a faixa de destaque, um prog-tirolês-do-crioulo-doido chamado "Hocus Pocus" com duração de 6 minutos e 45 segundos, com uma bela levada matadora de guitarra em que Akkerman arregaça total, as batidas pulsantes do Van Der Linden e... Thijs Van Leer solando nos órgãos, flauta e no tirolês improvisado, com direito a scats e falsetes, outro nível mesmo. Mas temos também a bucólica "Janis", a obra de arte em forma de canção "Focus II" e a suíte progressiva "Eruption" com seus mais de 23 minutos de duração ocupando todo o lado B (sim!) dividida em 15 partes envolvendo personagens do imaginário grego como Orfeu e Eurídice - mais surreal e viajante impossível, uma das partes de "Eruption" foi usada futuramente como sample de base para a faixa-título de "Bocanada" o vanglorioso álbum solo de Gustavo Cerati. Cante se puder os "ioi roi roi roi roi roi roi... po po"entoados por Van Leer dentro de casa como se estivesse num show.

John Mayer - Heavier Things (2003)
Ok, podem parar tudo. Vou começar a defender John Mayer como um dos melhores guitarristas que eu já ouvi dos últimos anos, embora seja visto por muitos como cantor e instrumentista medíocre, eu o considero como um músico talentoso e compositor de mãos cheias que conquista fãs e garotas (Jennifer Anniston e Katy Perry que o digam) através de belas canções blues-pop-groselha de uma qualidade muito fácil de ser reconhecida ao sintonizarmos nas Antenas 1 da vida, óbvio. Com "Heavier Things", ele consegue com louvor a proeza de mostrar-se novamente como um guitarrista e cantor sem deixar nenhum rastro de mediocracia que parte da crítica volta-e-meia, e isso é notório em "Clarity" o grande hit do álbum, ou seria "Bigger Than My Body"? Não importa. O que importa é que tanto em uma quanto na outra, John Clayton Mayer acertou em cheio na hora de misturar poesia com arranjos fluindo soft-rock com R&B da sua maneira, e é soft-rock puríssimo sim, bom pra quem gosta. Um pedido casual em forma de canção como no caso de "Come Back to Bed" não prejudicaria um coração apaixonado, ainda mais com esse toque bluesy mais profundo. Mas, o grande hit mesmo deste álbum está em um conselho de JM para que os pais cuidem das suas filhas, porque um relacionamento pode afetar suas futuras relações quando adultas - é esse o enredo de "Daughters" com leveza acústica, acompanhado de uma percussão marcante e o piano embalante. Enfim, doe a quem doer, John faz o trabalho da sua forma e os ouvidos deliciantes por sua voz e guitarra o agradecem, e nós agradecemos aos deuses da guitarra e da música pela existência dele e o blues contemporâneo têm um bom herdeiro.

BONUS TRACK
Rita Lee & Tutti Frutti - Fruto Proibido (1975)
Mais um disco pra essa lista da quarentena? Sim. Um extra, uma faixa bônus? Sim, "sertícimo" porque o blog é meu e eu sei bem o que fazer ou não, aí fica a meu critério... bem assim. O disco "bonus track" que eu decidi escolher foi a definitiva volta por cima de uma das maiores artistas desse país, que, depois de sair dos Mutantes em 1972, teve uma reviravolta quase flopada com o duo folk-bixo-grilo Cilibrinas do Éden com Lucia Turnbull, a fã que virou parceira musical até a junção de Luís Sérgio Carlini, Lee Marcucci e Emilson Colantonio no que se tornou o Tutti Frutti - o grupo de apoio da senhora rock Brasil. Com o álbum "Atrás do Porto Tem Uma Cidade" editado em 1974, mesmo com as faixas "Menino Bonito", "Mamãe Natureza" e também a ode ao cogumelo alucinógeno "Ando Jururu" (depois revisitada 23 anos depois com os Raimundos), Madame Lee sai da Phonogram onde estava desde 1968 com os Mutantes e vai para a Som Livre, onde torna-se a artista best-seller da geração 70. Na nova casa, comandada por João Araújo (pai do futuro cantor Cazuza), ela teve mais espaço para poder fazer o que pudesse (mesmo com a Censura pegando no pé de toda e qualquer manifestação cultural/artística), ela acerta em cheio nos hits, um convite e a porta de entrada em "Dançar Para Não Dançar", a história de quem dá uma volta por cima em "Agora Só Falta Você" numa pegada puramente roqueirona à la Stones, o blues "Cartão Postal" feita com Paulo Coelho - autor também de "Esse Tal de Roque Enrow" o hino das mamães caretonas que não entendiam quem ou o que era o rock, a mágico-astral "O Toque" com a presença do ex-incrível Manito mandando ver no sax em "Roque Enrow" e órgão Hammond B3 na já citada "O Toque". Além do hino autobiográfico "Ovelha Negra", que se tornou sua marca definitiva, a rebelada que foi viver ao seu modo e fazer o que sabia fazer de melhor. Esse disco, inclusive, com a produção do inglês Andy Mills - que trabalhava na equipe de Alice Cooper e acabou ficando aqui -, antecedeu a fórmula de sucesso dos hits que ela iria compor mais adiante com Roberto de Carvalho (em 1975 ainda era tecladista do Jorge Mautner e integrava a banda de Ney Matogrosso) que fez o legado de Lee ficar maior

Comentários

Mais vistos no blog