Um disco indispensável: A Sétima Efervescência - Júpiter Maçã (Antídoto/PolyGram, 1997)
O Brasil e a música brasileira em si chorou nesta tarde do dia 21 de dezembro pela morte de um gênio, um cara que não há como descrever melhor: Flávio Basso, o nosso querido Júpiter Maçã ou Jupiter Apple veio a falecer no fim de tarde aos 47 anos, um cara que foi responsável por uma nova face da música psicodélica no Brasil nos anos 1990, sofreu uma queda no banheiro e chegou a ser hospitalizado, porém não resistiu e veio a nos deixar logo antes de encerrar o ano 2015. Flávio começou sua trajetória em 1984 como um dos primeiros vocalistas da banda TNT, gravando o disco Rock Grande do Sul no ano seguinte porém acaba deixando a banda e forma com Nei Van Sória e Frank Jorge a banda Os Cascavelletes, que fazia canções totalmente vulgares e com uma pegada de besteirol, nesse meio tempo Frank deixa o grupo e forma o Graforréia Xilarmônica e os Cascavelletes seguiu até 1993, quando Basso decide fazer carreira solo e se convertendo definitivamente em Júpiter Maçã, que fez trabalhos sensacionais. Um desses trabalhos é a sua estreia discográfica já com o seu pseudônimo, chamado A Sétima Efervescência, lançado no ano de 1997 pela gravadora gaúcha Antídoto, selo roqueiro da ACIT com a distribuição nacional da PolyGram tendo Egisto Dal Santo, conhecido como Egisto 2 na produção do álbum e os irmãos Caruzo fazendo suporte, Glauco na bateria e Emerson no baixo, além do próprio Júpiter atacando como multi-instrumentista: nas guitarras, violões, craviolas de 12 cordas, gaita, teclados, percussões, gnomos e bolhas além de uma orquestra e as gravações ocorridas durante o ano de 1996 nos estúdios da ACIT em Porto Alegre. O disco é uma obra impressionante, um resultado impressionante que nos deixa a viajar totalmente no som feito por Júpiter Maçã, com influências que vão desde ao disco The Piper at Gates of Down (1967) da banda Pink Floyd tendo o cérebro principal na época, o doidão injustiçado Syd Barrett passando pelos Mutantes, Beatles e outras loucuras sonoras que entram na salada musical deste gaúcho sensacional que é Flávio Basso, o nosso eterno Júpiter Maçã, autor desse disco que é totalmente indispensável para os ouvidos e para a música psicodélica, é claro, não é à toa que este trabalho sensacional de Júpiter Maçã figura entre os 100 maiores álbuns da música brasileira, lista feita pela revista Rolling Stone no Brasil numa 96ª posição, sendo também uma das breves influências para o novo cenário psicodélico brasileiro atualmente, como Boogarins, O Terno, Van Der Vous, BIKE dentre outras bandas brasileiras.
O disco começa com a clássica Um Lugar do Caralho, obra épica e que traz ares totalmente chapantes aonde Júpiter começa a se soltar de uma forma totalmente diferente, ainda remetendo aos anos de Jovem Guarda pela sonoridade e de poesia totalmente psicodélica; na sequência temos As Tortas e As Cucas, que segue o ritmo e mantêm a sua essência em termos de versos e arranjos, levando você mais ainda para um astral louco e sem fim de caminho nessa viagem louca do som de Júpiter Maçã; em seguida nós temos Querida Superhist X Mister Frog, algo tão ousado e tão simples quanto você poder acordar na vibe dessa música, o que nós ouvimos é algo sem igual mesmo, voltando ao Pink Floyd totalmente psicodélico de 1967 durante a música; quando pensa que tudo acabou, se engane, pois Pictures And Paintings ainda traz uma dose extrema de lisergia sonora de Flávio Basso para engrossar total o caldo, de referências bem originais, algo totalmente indiscretível mesmo; já em Eu e Minha Ex, um quê de originalidade e de influências dos arranjos de Rogério Duprat (1932-2006) não deixam passar despercebido trazendo de volta a era tropicalista nessa belíssima canção; enquanto isso, Walter Victor é a história contada em forma de música, na qual fala sobre um sujeito que ninguém entende o jeitão dele, com um ar bem mais tribal e energético na sonoridade; e a sonoridade beatle traz um ar nostálgico em As Outras Que Me Querem, uma letra na qual ele fala sobre transar com aquele amorzinho num momento atual da vida de uma forma sarcástica, o que é excelente por sinal; a próxima música ainda é mais energética, falando sobre as Sociedades Humanóides Fantásticas, com uma poesia totalmente lisérgica e influenciada por Zombies, Kinks, Iron Butterfly e outras picuinhas psicodélicas da década de 1960/1970, com uma atmosférica que nos remete ao futuro e aos filmes/livros de ficção científica, logo as referências mais aproximadas a Isaac Asimov e a Arthur C. Clarke, logo as principais cabeças do gênero literário; e já em O Novo Namorado, uma canção completa por ser cheia de referências do rock psicodélico sessentista e até da Jovem Guarda, inclusive com um quê de Lafayette no órgão numa letra aonde Júpiter insiste pra garota ficar com ele; a próxima música é Miss Lexotan 6mg Garota, mais uma personagem de criação do Basso na qual fala sobre uma menina frequentadora do movimento hare-krishna que vive tensa e se preocupa com as coisas do coração, numa levada baladista soft-rock de pegada ácida e que até o Ira! regravou mais tarde; a próxima faixa se chama The Freaking Alice (Hippie Under Groove), nada que soe a famosa história de Lewis Carroll (1832-1898) aonde música pede para alguém consumir um cogumelo alucinógeno, com direito a um verso filosófico "toda mutação acaba sendo evolução" logo algo bem possível na realidade; a próxima viagem sonora deste álbum tem sete minutos e se chama Essência Interior, que pode te elevar aos extremos só pelos versos e pela letra, o que se soa muito perfeito por sinal; em seguida, surge Canção Para Dormir, uma belíssima canção de ninar psicodélica com um quê de música andina ou de música mexicana (como você quiser) que não passa batido nem com os contos entoados a cada verso, surpreendente por demais; pra encerrar, a faixa A 7ª Efervescência Intergalática, que é uma viagem completa que encerra de vez o álbum com tudo, já mostrando para que veio Júpiter Maçã. Uma viagem sonora impressionante que merece ser ouvida e reouvida várias vezes, e agora serve também pra matar as saudades de mais um gênio que nos deixou recentemente e marcou de vez a música psicodélica brasileira e a música popular brasileira.
Set do disco:
1 - Um Lugar do Caralho (Júpiter Maçã)
2 - As Tortas e As Cucas (Júpiter Maçã)
3 - Querida Superhist X Mister Frog (Júpiter Maçã)
4 - Pictures And Paintings (Júpiter Maçã)
5 - Eu e Minha Ex (Júpiter Maçã)
6 - Walter Victor (Júpiter Maçã)
7 - As Outras Que Me Querem (Júpiter Maçã)
8 - Sociedades Humanóides Fantásticas (Júpiter Maçã)
9 - O Novo Namorado (Júpiter Maçã)
10 - Miss Lexotan 6mg Garota (Júpiter Maçã)
11 - The Freaking Alice (Hippie Under Groove) (Júpiter Maçã)
12 - Essência Interior (Júpiter Maçã)
13 - Canção Para Dormir (Júpiter Maçã)
14 - A 7ª Efervescência Intergalática (Júpiter Maçã)
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Flávio Basso "Júpiter Maçã" antes de morrer em 21 de dezembro de 2015: ele é dono de uma das maiores obras-primas da música psicodélica e dos anos 90, "A Sétima Efervescência" |
Set do disco:
1 - Um Lugar do Caralho (Júpiter Maçã)
2 - As Tortas e As Cucas (Júpiter Maçã)
3 - Querida Superhist X Mister Frog (Júpiter Maçã)
4 - Pictures And Paintings (Júpiter Maçã)
5 - Eu e Minha Ex (Júpiter Maçã)
6 - Walter Victor (Júpiter Maçã)
7 - As Outras Que Me Querem (Júpiter Maçã)
8 - Sociedades Humanóides Fantásticas (Júpiter Maçã)
9 - O Novo Namorado (Júpiter Maçã)
10 - Miss Lexotan 6mg Garota (Júpiter Maçã)
11 - The Freaking Alice (Hippie Under Groove) (Júpiter Maçã)
12 - Essência Interior (Júpiter Maçã)
13 - Canção Para Dormir (Júpiter Maçã)
14 - A 7ª Efervescência Intergalática (Júpiter Maçã)
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