Os 20 Melhores Álbuns Nacionais de 2015

Pois é, o ano de 2015 vai se encerrando por aqui e cá estamos aqui nessa retrospectiva de poder – com calma – reavaliar o que foi lançado de melhor neste ano maravilhoso. Musicalmente, muita coisa boa nos surpreendeu, desde a boa e velha MPB passando inclusive até pelo sertanejo, muita coisa surpreendeu a todos nós, não importa se você não queria que certo álbum estivesse nessa lista, mas sim que estão por merecerem. Vimos Elza Soares retornar triunfantemente, vimos os Boogarins trazerem um Manual com coisas maravilhosas, vimos Tiago Iorc dizer que “troca likes” em meio à era da comunicação moderna, vimos Facção Caipira e o Homem Bom, vimos Chitãozinho & Xororó interpretarem Tom Jobim com perfeição, Lia Paris soltando seu pop nem tão bubblegum e comercial demais, as gurias do Donna Duo trazendo uma pegada mais brasileira pro público, definindo melhor: vimos de tudo por aqui nesse 2015 em geral. Mas vamos aqui sem ordem de numeração, de forma aleatória, os 20 melhores lançamentos de 2015 da nossa belíssima música popular brasileira, é cada coisa boa que nós precisamos (re)ouvir.


1º) ELZA SOARES - A Mulher do Fim do Mundo

Quem nunca sambou ao som da grande dama do samba e ex-senhora Garrincha, que atire o primeiro objeto reprodutor de música. Elza Soares, grande mulher, grande intérprete da nossa música popular brasileira, está viva e mostrando-se uma cantora pronta para interpretar canções totalmente impressionantes que nunca sairão mais dos nossos ouvidos. Quem ouvir “A Mulher do Fim do Mundo” vai entender o porquê de Elza ter uma das maiores vozes da MPB, é considerado o lançamento mais aguardado e um dos melhores deste ano que foi 2015. Com a produção de Guilherme Kastrup e tendo um time colaborando no álbum, desde Rômulo Fróes, passando por Kiko Dinucci, Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Douglas Germano e Celso Sim os responsáveis pelas canções e pelo som que nós ouvimos em seu mais recente trabalho, aqui vemos uma mulher se reerguer musicalmente e de uma forma tão vangloriosa. O álbum começa com um poema do modernista Oswald de Andrade “Coração do Mar”, musicado por Zé Miguel Wisnik e na sequência temos o samba “Mulher do Fim do Mundo”, um tema aonde ela pede que a deixem cantar e na qual soa totalmente autobiográfico. A violência doméstica é retratada em canções como “Maria da Vila Madalena” aonde a Lei Maria da Penha e também provando que a mulher está pronta pra qualquer desafio, mostrando que marido violento não tem mais vez. Enquanto “Luz Vermelha”, baseada no famoso Bandido da Luz Vermelha carrega essa influência do passado criminoso, com um pouco mais da visão dos dias de hoje. Temos ainda “Pra Fuder”, “Benedita”, “Firmeza?!” complementando mais ainda o repertório e tendo convidados como Celso Sim, músicos do Bixiga 70 nos metais, em “Dança” nós ainda vemos um pouco das raízes musicais da carioca. O repertório se completa em “Solto” e “Comigo”, duas músicas que se convertem até em uma fechando com chave de ouro o trabalho desta grande representante viva do samba brasileiro, da música popular brasileira que ainda tem muito que cantar apesar da idade, segue sendo a rainha para muitos.

2º) TIAGO IORC – Troco Likes

Não. Não culpe Isabelle Drummond e muito menos o álbum anterior “Zeski” (2013) aonde ele acaba dando mais espaço para o idioma português não em seus discos, isso seria considerado uma piada até sem reconhecermos o que fez Tiago Iorc realizar um álbum totalmente “em português” depois de três álbuns em inglês, agora é que foi o momento certo de lançar “Troco Likes”, o álbum no qual ele usa a geração que vivemos atualmente para criticar em meio às redes sociais e o modo em que as pessoas tentam conquistar a fama por meio destas, como o Instagram, o YouTube e o Facebook. A faixa “Alexandria” já nos diz tudo mesmo aonde tem “gente demais com tempo demais falando demais alto demais”, mostrando a mais pura realidade dos dias de hoje. Na sequência temos só hits atrás de hits como “Coisa Linda”, “Amei Te Ver”, “Mil Razões”, “Cataflor” e um pouco do seu inglês em “Till I’m Old and Gray” encerrando o mais impressionante trabalho do curitibano, sendo um dos mais elogiados e bem recebidos por seus fãs.

3º) DONNA DUO – Donna Duo

A paranaense Daniela Zandonai (ou Dani Zan) e a gaúcha Naíra da Motta poderiam soar uma dupla de cantoras-compositoras ao estilo Lennon-McCartney ou até mesmo Fagen-Becker (a dupla por trás do Steely Dan), e desde que se juntaram para formar o Donna Duo elas conseguiram juntar suas referências sonoras, que vão do pop rock e folk ao samba e a música regionalista do Rio Grande do Sul, que é chamado de “pop milongueiro” pelas duas. O álbum delas chegou em um ótimo momento, quando após participarem do reality show Breakout Brasil, da emissora paga SonyTV e na qual levaram o terceiro lugar, ganhando mais fãs do que desde que se juntaram em 2013 e estão aí hoje na estrada e na ativa. O álbum, com seu “pop milongueiro” pode soar chato e cansativo pra você, mas engane-se quando ouvir os versos de “Acordei Te Amando”, ainda há batucada em canções como “Amor Gramatical”, “Dona da Tinta” e “Namora Comigo”. Soa também interessante o resto do álbum e as faixas “Feitiço”, o rock de ares dos anos 50/60 “Clichê” e os coros tradicionais, “Previsível”, “Cafuné” de ares mais bucólicos e sotisficados, seguido do bônus do álbum que é “Chover Gelado”, tema que foi muito tocado quando Dani e Naíra ainda estavam concorrendo no Breakout Brasil e carrega um ar mais pop pela batida. Ótimo por demais.

4º) AVA ROCHA – Ava Patrya Yndia Yracema

Ava Rocha é a melhor tradução para a voz feminina no novo cenário da MPB, e caso queira entender o porquê, ouça seu mais recente trabalho que rendeu a ela um Prêmio Multishow de Melhor Hit em setembro recente e com esse prêmio, a visibilidade de seu trabalho ficou maior ainda. O seu segundo álbum “Ava Patrya Yndia Yracema” traz um repertório maravilhoso, a produção com a assinatura de Jonas Sá mostra um álbum que já nasceu com cara de clássico e isso não é conversa fiada. Uma cantora que traz originalidade, letras maravilhosas e influenciada pelo Tropicalismo, trouxe para nós doze canções com ares bucólicos, que fazem nossos ouvidos se encantar. Vale escutar e desfrutar das canções “Você Não Vai Passar” que levou o Prêmio Multishow na categoria Melhor Hit e carregando originalidade e primor na letra e nos arranjos, e também “Oceanos”, “Boca do Céu”, “Auto das Bacantes”, “Beijo no Asfalto”, “Doce É o Amor”, “Mar ao Fundo” e “Hermética”, os temas essenciais deste trabalho maravilhoso da grande sensação da nova MPB. Genialidade nas letras e nas músicas do álbum é o que encontramos da primeira a última faixa.


5º) CHITÃOZINHO & XORORÓ – Tom do Sertão

45 anos de carreira. Milhões de discos vendidos. Mais de cinquenta sucessos ao longo desta trajetória bem-sucedida. O ano foi deles, dos irmãos de Astorga (Paraná), e do sertanejo em si, quando se via perdermos figuras ilustres do gênero como Inezita Barroso e a garganta de ouro José Rico, a dupla Chitãozinho & Xororó se mostrava com tudo até hoje, fugindo de um álbum com canções que nos lembrem “Evidências”, “Fio de Cabelo” ou “Página de Amigos” e desta vez homenageando o eterno Tom Jobim (1927-1994) em um disco imperdível. Comece a pegar “Águas de Março”, “Eu Sei Que Vou Te Amar”, “Correnteza”, “Chovendo na Roseira” e tire as suas conclusões do porquê de serem a dupla que mais representa a música sertaneja no Brasil e por quê não do mundo todo. A capa traz a versão de uma foto feita com Tom e Vinícius na década de 1960 em que Chitãozinho aparece descalço à beira de um rio e Xororó segura o violão, sendo que na foto original era o Maestro descalço e o Poetinha à vontade com o violão.


6º) BOOGARINS – Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos

O grupo goiano abalou as estruturas do cenário neopsicodélico e da música popular brasileira em 2013 com “As Plantas Que Curam” e desde então não param de agitar por onde passam, embora as rádios sejam avessas ao som que seja feito no novo cenário alternativo da música brasileira, têm conquistado fãs e críticos, e desta vez investiram pesado e conseguiram realizar o seu segundo álbum, intitulado “Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos” ou simplesmente “Manual” lançado em fins de outubro e gravado entre o final de 2014 e o começo do primeiro semestre de 2015 em terras espanholas. O disco não soa ruim não, e o grupo formado por Dinho Almeida, Benke Ferraz, Raphael Vaz e Ynaiã Benthroldo acertaram em cheio no novo trabalho, totalmente chapante e excelente por sinal. Pense o quão chapante é ouvir “Avalanche”, “Falsa Folha de Rosto”, “6000 Dias (ou Mantra dos 20 Anos)”, “Mário de Andrade/Selvagem”, “Sei Lá” que nos levam a uma dose lisérgica do álbum e ao embalo de uma viagem que não tem nem dia nem hora pra voltar.

7º) MAGLORE – III

O trio baiano surgido em 2009 formado por Teago Oliveira (voz e guitarra), Rodrigo Damati (baixo) e Felipe Dieder (bateria) decidiu fazer um álbum que seguisse a agradar o público, como foi em “Vamos Pra Rua” (2013), que tinha sido aclamado por crítica e público, desta vez fizeram um álbum que soasse como clássico, tanto pela sonoridade quanto pela capa, e esse disco se chamaria “III” lançado em junho com Rafael Ramos na produção e sendo recebido por fãs e críticos quando se sabe que dois singles foram lançados antes do disco. Como não falar do novo álbum e esquecer da existência dos sucessos “Mantra” e “Dança Diferente” as principais faixas de destaque, sem esquecer também de “O Sol Chegou” com sua pegada de boas vibrações, o portunhol de “Serena Noche”, a sequência perfeita de “Se Você Fosse Minha” com “Invejosa”, e também o canto falado “O Vampiro da Rua XV” que encerra com chave de ouro.


8º) LIA PARIS – Lia Paris

Paulista formada em moda, a cantora Lia Paris já estava desde pequena a estar entre os microfones e o público, tornando-a mais visível deste jeito. Com vários projetos musicais, dentre eles o Paris Le Rock, aonde carregava um pouco de suas influências como o pop rock e a chanson française, da qual uma de suas maiores referências era a cantora Edith Piaf. Após anos estando envolvida, tanto com os projetos de música - quanto com os de sua marca de roupas para o verão Lia Paris Beachwear, ela acaba indo investir mais em sua carreira solo e tendo o toque de Midas do lendário Carlos Alberto Miranda, ex-produtor dos Raimundos e o resultado não podia dar em outro. Emplacando em sua estreia como solista, aqui ela têm a ajudinha de Marcelo Jeneci em “A Estrada”, “Subentendido” e também na belíssima “Wild Boy”. Enquanto isso ela ainda recebe a ajudinha de Samuel Rosa para conceber a canção “Foguetes” e encerra o álbum com “Sua Constelação” feita em parceria com Edgard Scandurra (Ira!) e Fredo Ortiz. Ainda não esqueci de “Três Vulcões”, “Azul e Flores”, “Tempo”, “Calma” e “Anzol” pra complementar um repertório maravilhoso dessa grande cantora que ainda vamos ouvir muito a respeito dela.


9º) ODAIR JOSÉ – Dia 16

“Odair is back!”.Bem que algumas revistas de música internacional como a NME (Reino Unido) e a Rolling Stone (Estados Unidos) poderiam estampar em suas capas o lendário “terror das empregadas” como foi chamado por Rita Lee em 1976 e sempre lembrado pelo seu cancioneiro brega, que hoje preferiu ser cultuado por uma geração que desprende-o dos assombrosos clichês dados pela imprensa nos anos 70. O retorno dele poderia ser mais destacado e prova disso é o seu mais novo CD de carreira “Dia 16” lançado pelo selo Saravá Discos, do cantor maranhense (e fã) Zeca Baleiro, com um repertório carregado de muito peso, totalmente rock and roll. Não duvide se tu achar um quê do bom e velho rock and roll na faixa-título, mas ainda há um pouco do seu sentimentalismo romântico nas outras canções, e acredite se quiser, o cara tá na ativa com seus 67 anos fazendo o que mais gosta de fazer agradando a todos os fãs não só do brega, mas também do rock brasileiro e da MPB. Ou pensa que ele só foi redescoberto depois que falaram do raro “O Filho de José e Maria” (1977) que sofreu com devoluções e recebeu críticas piores na época? Vai numa boa e não ouça somente no Dia 16.



10º) BIKE – 1943

Pense no astral psicodélico que têm ressuscitado muito nos últimos anos, e repare quais as bandas que fazem parte desse legado e que estão tornando disto são bandas como O Terno, Boogarins e também a BIKE, formada por um conhecido do cenário musical: Julito Cavalcante, baixista do trio Macaco Bong é vocalista e guitarrista na banda. O disco de estreia “1943” já diz tudo, é uma homenagem a Albert Hoffmann, o cara que descobriu a fórmula do LSD, que tomou e depois passeou de bicicleta para descobrir os efeitos e virou a droga dos anos 60 e do Verão do Amor na época áurea da psicodelia. Não é à toa que baseado nas experiências de Julito, o disco nos deu músicas maravilhosas, uma viagem sonora que não têm como voltar com solos chapantes e versos totalmente influenciados por essa onda, basta escutar as faixas “Enigma do Dente Falso”, “Alucinações e Viagens Astrais”, “A Vida É Uma Raposa” e“Filha do Sol”. Já a faixa-título, “Stardust” e “Luz, Som e Dimensão” te levam ao extremo da loucura psicodélica e do universo sagaz da lisergia musical promovida pela BIKE.

11º) SARA NÃO TEM NOME – ÔmegaΩ III

A mineira Sara Braga têm uma forma de fazer música totalmente complexa e que merece ser entendida e muito compreendida por várias vezes por um estilo próprio, e assinando como Sara Não Tem Nome têm uma tradução que já é totalmente instantânea, absolutamente definitiva. O que falar mesmo também de “ÔmegaΩ III”, com uma atmosfera folk pop e também maravilhoso por demais?! Carregado também de uma sonoridade totalmente bucólica e com ares rock, algo que também carrege um quê de MPB, o álbum de produção de Julito Cavalcante (Macaco Bong, BIKE) traz um repertório apaixonante por sinal. Não têm como não se encantar com os arranjos e com as letras das canções do álbum, basta ouvir “ÔmegaΩ III”, “Prision Break”, “Atemporal”, “Páscoa de Noel” e também “Carne Vermelha”, grande destaque deste álbum com uma letra sensacional e o refrão aonde ela assume “eu sou um fiasco”. Vale também dar aquela escutadinha em “Queda Livre”, “Grandma I Love You So” e”We Were Born Dead”, mostrando a criatividade da vídeo-artista revelação musical deste 2015.


12º) JÉF – Interior

O gaúcho Jéferson de Souza, mais conhecido como Jéf, veio de Três Coroas para conquistar o Brasil e isso pôde acontecer graças ao reality show Breakout Brasil, do canal por assinatura SonyTV em 2014, com apenas um álbum intitulado “Leve” e foi com canções do álbum que o gaúcho levou a melhor, um som que cruze entre o indie-pop e o rock mais moderno com um quê de influências que vão dos Beatles aos figurões do rock gaúcho. Após a consagração definitiva com o disco “Leve” e com a vitória mais que merecida no Breakout Brasil na qual seu prêmio era um contrato com a Sony Music e tendo uma grande chance na vida, tudo o que mais poderia fazer era um álbum que ainda carregasse um pouco do que estava fazendo e também com a produção do cabeça principal da banda Fresno. Com releituras de várias faixas suas do primeiro álbum, como “Pra Colar”, “Leve”, “Quando Você Voltar”, “Tão Pra Lá”, “Com Você” e faixas inéditas como “Faz” e “Rema e Acredita” tendo a presença de Lucas nos vocais.


13º) FACÇÃO CAIPIRA – Homem Bom 

A banda carioca de blues-rock vinda de Niterói está com tudo mesmo e não é de hoje que esse pessoal já se destacava com seu som totalmente ácido e totalmente pra cima, tendo Jan Santoro (voz e ressonator), Vinícius Câmara (contrabaixo e voz), Daniel Leon (gaita) e Renan Carriço (bateria) como os caipiras por trás dessa porrada sonora. O primeiro trabalho, um EP lançado três anos antes já mostrava que os caipiras já estavam preparados para tudo e já não bastasse o apoio de quem valoriza a cena musical do RJ e o coletivo Hey Joe, a banda só têm recebido elogios de 2012 pra diante. E em 2014 a banda anunciou o grande projeto: um álbum completo e esse álbum seria “Homem Bom”, com onze faixas mais dentre estas a conhecida “Blues Brasileiro Foragido Americano”, que já havia sido gravada ao vivo no festival do coletivo Hey Joe e executada quando os caipiras tocaram no programa SuperStar, da Rede Globo. Não é à toa que a música já havia se tornado viral entre o público após participarem do reality show, mesmo sem terem passado. Além de “Blues Brasileiro Foragido Americano”, nós temos “Tiro e Queda”, “Dois Pra Lá, Dois Pra Cá”, “Levada”, “Pedrada”, “Ex-Fumante”, “Comédia Romântica”, “Vida de Tralha” e a faixa-título que encerra o disco com tudo. As fotos do encarte são registros da primeira metade do século XX cedidas pelo Instituto Moreira Salles.

14º) LETUCE – Estilhaça

O duo formado Letícia Novaes e Lucas Vasconcellos seguem trabalhando juntos na música, mesmo que os dois estejam separados como casal desde 2013 e desde então foi um período muito difícil para poderem conceberem mais um trabalho desde “Manja Perene” (2012). A volta dos dois ao estúdio mostrou um quê de criatividade no terceiro trabalho “Estilhaça” e o álbum soa totalmente impressionante do começo ao fim, mostrando que ainda estilhaçam musicalmente juntos. Prova disso é um som viajante e calmo em certos momentos, com uma mistura de influências de sonoridades progressivas, psicodélicas com uma coisa bem da MPB atual. Não pense que ao ouvir temas como “Lugar Para Dois”, “Arca de Noé”, “Minha Cara” e “Todos os Lugares do Mundo” você até pode sentir falta do antigo Letuce, mas é só seguir ouvindo o álbum por duas vezes e sentir seus ouvidos “estilhaçados” por este trabalho. A capa, cuja a arte têm como base fotos de Ana Alexandrino lembra um pouco o videoclipe de “Tonight, Tonight” da banda norte-americana Smashing Pumpkins, logo de cara uma ótima influência artística para a arte do álbum.

15º) CÍCERO – A Praia 

Talvez ele não tenha conseguido se manter em uma energia equilibrada e que nos remetesse ao álbum de estreia “Canções de Apartamento”, mas consegue se manter em voga e isso é bom para Cícero Rosa Lins, 30 anos, com dois álbuns de estúdio mais o inédito “A Praia”, lançado em fins de março traz algo mais inspirativo, voltando um pouco ao que seu avô que era de Pernambuco e tinha contato com o mar por ser pescador. Poético, limpo e equilibrado, o cantor não tropeçou muito não, pelo contrário: ele foi tentando rever os erros e conquistando muitos acertos. Se o anterior “Sábado” parecia soar muito que não estava conforme o que o público queria, “A Praia” traz de volta um pouco da visceralidade do seu primeiro álbum. As faixas “O Bobo”, “Frevo Por Acaso nº 2” e “Terminal Alvorada” e a faixa-título carregam originalidade poética e musical, já “Isabel (Carta de um Pai Aflito)” carrega uma influência de “Young Folks” de Peter, Björn and John pela batida e dos coros à la MPB-4 nos arranjos. Vale também dar aquela escutadinha básica em “Soneto de Santa Cruz”, “Cecília e A Máquina”, “De Passagem”, “Albatroz” e “Camomila” sendo uma prova de que Cícero ainda têm sua voz e vez na nova cena da música brasileira.

16º) EMICIDA – Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa...

De volta ao sucesso grandioso que o aclamou de vez em “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui” (2013), o rapper paulista Emicida ataca novamente com seus versos e rimas e soando mais agressivo e crítico do que nunca. O álbum intitulado “Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa...” foi gravado também em países africanos como Angola e Cabo Verde, uma espécie de desenterrada das raízes sonoras de Emicida, que traz aqui não só os problemas sociais mas também o caos, os preconceitos que ainda são vistos em canções como “Casa”, e ainda canções com o pé na África (literalmente) com “Salve Black (Estilo Livre)”, “Madagascar”, “8”, “Mufete” e também sobra tempo pra fazer de “Boa Esperança” um dos melhores temas do álbum. Ainda recebe convidados especiais como no trabalho anterior, como Vanessa da Mata na pop “Passarinhos”, a sua mãe Dona Jacira recitando no final de “Mãe”, e também “Mandume” aonde o rapper não está só: Rico Daslam, Drik Barbosa, Muzzike, Raphão Afrin e o angolano Amiri se juntam nos melhores oito minutos de 2015 na música brasileira. Ah, e é claro, se você não ouviu o dueto com Caetano Veloso em “Baiana” ouça e se encante com essa união de duas gerações da música brasileira, o clássico com o contemporâneo, o tropicalismo com o hip-hop. Uma impressionante obra de arte do rapper que merece ser ouvida por mais e mais vezes, reconhecendo que Emicida é muito mais que um simples rapper modinha que falam por aí e abraçado por gente como Mano Brown. Podes crer, amizade!


17º) ANDRÉ PRANDO – Estranho Sutil 

O estado do Espírito Santo só é lembrado mais por abrigar uma região litorânea que recebe campeonatos de surfe ou vôlei de praia, mas também é o estado responsável por abrigar um ótimo cenário musical (aliás, o mesmo Espírito Santo que foi de onde saiu Roberto Carlos, Nara Leão e Carlos Imperial) e bandas como Manimal, Casaca, a famosa e lendária Dead Fish e agora nos traz um figurão que tá dando no que falar no novo cenário da MPB e esse cara é André Prando. Nascido em Vitória, o responsável pelo álbum “Estranho Sutil”, lançado no início deste ano traz o melhor do seu trabalho que nos impressiona à primeira escuta, desde a primeira até a última faixa. Como não gostar das canções “Amiga Vagabunda”, “Alto Lá” e também compreender a sua forma poética em “Inverso Ano Luz”, “O Circo dos Palhaços Dixavadamente Imorais”, “Última Esperança”, “Linha Torta” e até mesmo “Devaneio” definem um pouco esse “Estranho Sutil” que habita nos versos e nas músicas do capixaba.


18º) GORDURATRANS – Repertório Infindável de Dolorosas Piadas

O duo de noise/shoegaze/experimental carioca formado por Felipe Aguiar na voz e guitarra e por Luiz Marinho na bateria pode parecer uma versão muito diferente das tradicionais bandas de noise rock, o que soa muito bom por sinal. O nome gorduratrans soa meio engraçado, mas também carrega o exemplo de que “bandas diferentes com nomes diferentes” podem fazer um som meio nonsense, mas desde que agrade a todos, o resultado pode ser maior ainda. O álbum de estreia “Repertório Infindável de Dolorosas Piadas”, lançado em setembro, soa tão impressionante, pois o barulho que eles fazem ensurdece e nunca mais sai de nossos sagrados ouvidos. Querem provas? Então tá, vamos dizer que “vcnvqnd” é só uma brincadeira de estúdio e não percebe que por trás de uma simples brincadeira de garotos fazendo música há uma poesia e que “Sozinho e Babaca” não haja nenhum sentido pelos versos, mas vale reouvir e entender por várias vezes. Enquanto isso, a perfeição é muito notada em “Você Não Sabe Quantas Horas Eu Passei Olhando pra Você”, de nome longo e de sonoridade totalmente viajante, enquanto “Confusão” nos remete a um noise mais profundo mais a poesia contemporânea que está onipresente em canções como “Artes” e “Silêncio Ensurdecedor”. A instrumental “Hércules Quasímodo” faz parte desse conjunto de canções barulhentas e totalmente viajantes composta pelo duo carioca Aguiar & Marinho, as cabeças principais por trás do gorduratrans, responsáveis também por um álbum cujo título foi baseado em uma canção da banda Ludovic.

19º) BIDÊ OU BALDE – Gilgongo! Ou, a Última Transmissão da Rádio Ducher

A banda gaúcha se superou de vez em seu mais recente trabalho, passados três anos desde o lançamento de “Eles São Assim. E Assim Por Diante”, agora voltaram em forma de um disco temático, na qual o repertório se situa em torno da última transmissão de uma rádio fictícia antes de ser tomada por uma civilização alienígena tendo Kátia Sumann na locução e convidados como Astronauta Pinguim, Frank Jorge, Renato Borghetti, Plato Divorak, Gonzalo Deniz, o grupo de rap Rafuagi ente outros. Os destaques ficam para além das chamadas da rádio, versões de músicas conhecidas, as inéditas “Fazer Tudo a Pé”, “À La Minuta”, “Quedê-lhe a Sala Especial”, “Final de Novela, - ou Tudo Funcionando Meio Irmãos Coragem”, “Tudo OK” e “O Soul Mentiu Pra Você”, com Daniel Teo no banjo, da banda Gras Fed Youth. Só eles mesmo para nos agradar nas 26 faixas que nos dão uma hora.



20º) FIGUEROAS – Lambada Quente

Pois é, você procura no YouTube um vídeo chamado “Melô do Jonas” e acaba encontrando um sujeito de mullet estilo Chitãozinho & Xororó anos 80, sandálias, camisa aberta até uns dois botões cantando o tal “Melô do Jonas” em um programa de auditório nada comum. O vídeo vai pra internet e o tal sujeito acaba virando mania nacional da noite pro dia: este é Givly Simons, vocalista de uma banda alagoana de lambada chamada Figueroas, na qual conta com uma outra mente por trás do grupo, que é Dinho Zampier, tecladista da banda de Wado. O álbum lançado em fins de abril intitulado “Lambada Quente” é bom, serve pra ouvir tanto num churrasco de domingo quanto num daqueles dias onde você tenta superar o mau-humor, e as faixas “Gatinha Gatinha”, “Lomba da Massa”, “Lambada Quente”, “Bangladesh”, “Melô do HD”, “Fofinha” e até o hit da web “Melô do Jonas” não fazem feio quando se trata de um repertório que nos remete à sonoridade do Pará de Mestre Vieira, Aldo Sena e Edison Wânder feita pelos alagoanos do Figueroas.

Comentários

  1. Boogarins, adorei esse último álbum
    Excelente ����

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    Respostas
    1. "Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos" nasceu pra ser curtido mesmo, Ariadne!

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