Más - Alejandro Sanz (WEA Music/Warner, 1997)

Saca só: imagina que na década de 1990 a bola da vez era ser de algum país de língua hispânica e fazer sucesso cantando na língua de Cervantes - não importa se sendo do país berço do idioma, logo a Espanha, ou sendo dos países latino-americanos, óbvio. Iniciava-se o grande auge do que podemos chamar ora pop latino, ora pop hispânico, e teve seu salto no escuro ainda com nomes como o queridinho das tiazonas Julio Iglesias, espanhol assim como Raphael, Nino Bravo, Joan Manuel Serrat, e foi expandindo-se com nomes dentro da América como a cubano-americana Gloria Estefan, a boyband portorriquenha Menudo - da qual saiu Robi (Robby) Draco Rosa e, claro, Ricky Martin - os mexicanos Vicente Fernández, Juan Gabriel, e Luis Miguel, o portorriquenho Chayanne, os colombianos Carlos Vives e Shakira, sem esquecer também a presença dos brasileiros no caldeirão do pop latino: em especial Roberto Carlos, Simone e José Augusto fizeram muito sucesso cantando em espanhol. E na mesma Espanha onde também estava acontecendo a movida madrilenha, marcada pela ascensão de grupos como El Ultimo de la Fila, Radio Futura, Duncan Dhu, Hombres G, Los Toreros Muertos e fenômenos mais pop como Alaska y Dinamo, o grupo Mecano e cantores como Miguel Bosé, Joaquín Sabina e passando pelo cinema de Pedro Almodóvar, um marco na cultura pop em todo. Mas, se nesse período em que Almodóvar era o mais badalado cineasta espanhol dos anos 80 e a juventude buscava nas bandas uma cena musical própria, alguns destes jovens se sentiram influenciados pela efervescência cultural dentro da capital espanhola, um deles era o jovem Alejandro Sánchez Pizarro, nascido - obviamente em Madrid no dia 18 de dezembro de 1968, desde pequeno sempre gostou de música a ponto de ter descoberto ao vivo o grande ícone flamenco Camarón de la Isla, do qual é fã e tem como sua grande influência musical, e ainda adolescente chegou a tocar em bandas de heavy metal. Logo no ano de 1989, grava pela Hispavox um longplay chamado Los Chulos Son Pa' Cuidarlos sob o pseudônimo de Alejandro Magno, um trabalho experimental que juntava techno com flamenco, e que teve pouca repercussão - aliás, nem Alejandro gosta de falar desse álbum, mas foi ele que o aproximou de um grande mentor na sua carreira, o produtor musical Miguel Ángel Arenas, também conhecido como Capi, e que viria por uma década ser seu principal parceiro musical - e foi a partir de 1991 que Alejandro Magno se converte no aclamado Alejandro Sanz. Assinando um contrato super importante com a gravadora Warner Music e fazendo parte do casting do selo WEA, inicia sua nova etapa artística com o álbum Viviendo Deprisa que acaba fazendo um sucesso dentro da Espanha com temas como Pisando Fuerte, Los Dos Cogidos de la Mano, Lo Que Fui es Lo Que Soy e claro, a faixa-título, e logo nesse disco ele inicia a parceria com a aclamada empresária Rosa Lagarrigue, cuja agência RLM cuidava também da carreira de nomes importantes como o próprio grupo Mecano. 
Dois anos depois, voltava com tudo no segundo álbum, Si Tú Me Miras, gravado em Londres com o mesmo Arenas na produção e junto de Nacho Mañó teve além de um excelente time de músicos, a presença do lendário guitarrista flamenco Paco de Lucía nas faixas El Escaparte e em Mi Primera Canción, já uma honra e tanto. Mesmo assim, a repercussão nas vendas não foi acima do esperado, apesar de Alejandro ter ido a diversos programas de TV na Espanha a divulgar, a prova de que ele amadureceu muito musicalmente está justamente nesse e no álbum seguinte, 3 - com um novo produtor ao lado de Arenas, o italiano Emanuele Ruffinengo e editado cerca de seis meses após de editar seu primeiro ao vivo, o Básico - onde junta os sucessos dos seus primeiros dois álbuns. 
Com 3, a aclamação fora da Espanha estava vindo pra valer, e sucessos como La Fuerza del Corazón, Mi Soledad y Yo, Quiero Morir en tu Veneno e ¿Lo Ves? fizeram sucesso na Hispanoamérica e levaram ele a gravar um álbum com versões em italiano e em português pro mercado brasileiro onde contamos com uma versão de Si Tú Me Miras chamada Com Um Olhar em que canta ao lado de Paula Toller,  vocalista do Kid Abelha. O sucesso estrondoso de Alejandro nos países de língua hispano-americanas já era popular e ajudou ele a entrar de vez no mesmo time dos bem-sucedidos Gloria Estefan, Ricky Martin, Luis Miguel, Chayanne, Shakira entre outros, aos poucos, o reconhecimento do público latino residente nos EUA também agradava positivamente - o que deve ter chamado a atenção de um velho conhecido nosso, o executivo da Warner latina André Midani, que investia pesado num elenco que ia desde Café Tacvba e Fito Páez até mesmo no próprio Sanz. Com a crista da onda do sucesso de 3, era hora de Sanz voltar aos estúdios e repetir a fórmula e talvez multiplicar novos feitos em sua trajetória e talvez lançar o que viria a ser um divisor de águas e se consagrar de vez, e foi preciso juntar-se novamente a Emanuele Ruffinengo e a Miguel Ángel Arenas e iniciarem as gravações tanto na Itália quanto na Espanha, enquanto na terra da Fellini e Da Vinci os estúdios utilizados foram os estúdios Excalibur Studio e Morning em Milão, na capital Roma o Plastic, e em Madrid (Espanha) foram os estúdios Red Led e Sintonía serviram como lugares para gravarem bases, e contando com diversos músicos, como os italianos Lele Melotti na bateria, Saverio Porciello nos violões, Ludovico Vagnone nas guitarras, o próprio Ruffinengo nos teclados e programação mais arranjos e direção musical, Paolo Costa, além de músicos latinos como o cubano Lulo Pérez nos trompetes e flügelhorn, os brasileiros Alfredo Paixão no baixo e Rubem Dantas na percussão - este último já tocou inclusive com o próprio Camarón no mítico álbum La Leyenda del Tiempo (1979). Lançado em setembro de 1997, o quarto álbum de estúdio intitulado Más logo de cara viria a se tornar o megasucesso de sua carreira e a prova definitiva que Alejandro veio finalmente pra ficar de vez e com um som que fosse universal. Com uma capa onde há várias fotos dele em tons mais azulados em quadrados e uma foto dele de perfil no meio desse quadrado, que dá a impressão de que quer mostrar uma música que inspira e dá a entender que está convidando a um confessionário pessoal dentro de suas canções.
Alejandro Sanz em 1997, o ano que sua música
se consagrou definitivamente
O álbum logo de cara abre com uma megabalada, a perfeita Y, ¿Si Fuera Ella? logo de cara trazendo a história de alguém que não conseguiu superar uma paixão e vê o rosto dela em diversas outras mulheres, e isso vira um tormento até ele chegar a conclusão de que ela sempre esteve acerca dele mesmo em outras mulheres, o piano da introdução serve como uma espinha dorsal da música, além da base trazer uma pegada melódica que funcionou e tanto; a seguir, temos a próxima música que é a amarga Ese Último Momento aborda o momento em que Alejandro descreve não estar mais conseguindo seguir uma relação cheio de problemas e dificuldades, e decide que não tem mais volta - aqui, a canção tem uma sonoridade próxima das baladas italianas da época como as de Eros Ramazotti, Amadeo Minghi, Laura Pausini, além dos coros, o solo de sax intercalado entre guitarras e bateria dá um tom diferente; na sequência, aparece o grande hit deste álbum - sim, aquele que é o hit principal e indispensável no cancioneiro hispânico, Corazón Partío é um daqueles temas em que pra falar de melodramas sobre um romance que se reacende, mas que acaba desandando por falta de fidelidade e expõe o desamor, numa levada que começa com um tom baladista, e ganha toques caribenhos lembrando rumba, salsa e até mesmo o samba (seria por causa dos músicos brasileiros Alfredo Paixão e Rubem Dantas que tocam nesta faixa?), além da forte presença de coros e metais, o violão de outro ás da guitarra flamenca, Vicente Amigo, marca presença nesse grande hit que já teve diversas versões e recentemente o conjunto de pagode Menos é Mais adaptou para o português atraindo um público que pouco conhecia a versão original; na sequência, uma canção que nada deixa a desejar pela sua beleza - Siempre Es de Noche é daquelas canções que parecem descrever uma crônica afetiva de um encontro casual onde para ele, quando está com alguém é a sensação de ser sempre noite - embora que por um só instante, a introdução marcada pela batida estilo R&B com um riff de guitarra que se repete nos primeiros segundos dá essa mudança de direção de sonoridade que complementa o caldeirão de ritmos do disco; o álbum prossegue com uma música que consegue manter toda a sequência de baladas que faz parte do álbum - a doce e inocente La Margarita Dijo No é sobre duas crianças que se conhecem e prometem se encontrar mais adultos, porém, ela acabou não querendo nada e tudo se desdobra, a presença de um coro infantil formado pelo Grupo Folclórico Coro del Valle, formado por crianças espanholas que cantam o refrão mais o violão de Joan Bilbiloni dão uma aparência diferente pra canção; em seguida, aparece Hoy Que No Estás - marcado pela forma como o eu-lírico descreve a melancolia em torno de sua vida por não ter a presença de sua amada, a pegada roqueira marcada pela guitarra na introdução e os solos de saxofone são dignos de arranjos da época; na sequência, com a próxima faixa Un Charquito de Estrellas, temos a história de alguém que se imaginando a encontrar a pessoa amada numa metáfora das estrelas, dos mares, numa pegada que vale a pena destacar o arranjo de Ruffinengo e os teclados que dão ares à beleza musical do tema; adiante, aparece outro grande tema de destaque é a doce Amiga Mía em que Sanz conta a história de alguém que deseja expressar seus sentimentos apesar da relutância em preservar sua relação com sua amiga, a introdução marcada pelos pratos e os teclados dão esse ar de balada nostálgica que ouvimos no rádio de madrugada; para a próxima música, temos mais hit - em Si Hay Dios, uma espécie de questionamento sobre a existência de uma presença divina no meio de tantas decepções pessoais e momentos tristes do eu-lírico, o arranjo que transita entre um soft pop e um gospel marcado pelo coro durante o refrão carregados de suavidade nos vocais; pra encerrar, temos aqui a música que emenda com o final da anterior, Aquello Que Me Diste é a forma de descrever a união de duas pessoas após uma dela dar todo o seu amor a ponto de já querer comprometer a outra sem quererem muito - o final marcado pela aceleração de ritmo faz soar como um rockão que antes de terminar o álbum, é interrompido por sons de vidro quebrando como se o disco anunciasse que acabava por aqui.
Com isso, o sucesso de Más catapultou de vez o nome de Alejandro Sanz a nível mundial fazendo com que o álbum fosse imediatamente um gigantesco sucesso não só na Espanha, mas também na América Latina em definitivo: países como México, Guatemala, El Salvador, Venezuela, Peru, Chile, Bolívia, Colômbia, Uruguai, Argentina e até aqui no Brasil fez suas músicas estarem entre as mais ouvidas e conquistando diversos prêmios e alcançando vendagens que só na sua terra natal passaram de 1 milhão de cópias, ao todo Más já vendeu 7 milhões. Só aqui no Brasil, para ter-se uma noção, só Corazón Partío fez um sucesso gigantesco a ponto de ter ido divulgar em quase todos os programas de auditório dos canais de televisão daqui e entrar na trilha sonora da telenovela Torre de Babel (1998) e Y, ¿Si Fuera Ella? ter também feito sucesso gigantesco por aqui e apareceu na trilha da novela Suave Veneno (1999) e de imediato ganhou os corações brasileiros. Seu sucesso foi tanto, que trabalhou este álbum durante dois anos, ocupando o topo das paradas de álbuns mais vendidos da Espanha (e na América do Sul também) na época, e lotado shows por onde passou, até que chegou a hora de retomar os trabalhos em estúdio com o álbum seguinte, El Alma al Aire (2000), mas aí já é uma outra história. Contudo, a influência deste álbum no cenário pop dentro de seu país e da América Latina segue sendo um fator importante pras gerações atuais a ponto da Rolling Stone espanhola ter incluído na lista dos 50 Melhores Álbuns do Rock Espanhol (coisa deles) e após ter apresentado 20 anos depois uma tour celebrativa do álbum chamada + Es +, digamos que assim como as pinturas de Picasso, Velázquez e Goya, as canções de Alejandro Sanz seguem cada dia mais atuais e atraindo gerações do mundo todo como nunca.
Set do disco:
1 - Y, ¿Si Fuera Ella? (Alejandro Sanz)
2 - Ese Último Momento (Alejandro Sanz)
3 - Corazón Partío (Alejandro Sanz)
4 - Siempre Es de Noche (Alejandro Sanz)
5 - La Margarita Dijo No (Alejandro Sanz)
6 - Hoy Que No Estás (Alejandro Sanz)
7 - Un Charquito de Estrellas (Alejandro Sanz)
8 - Amiga Mía (Alejandro Sanz)
9 - Si Hay Dios (Alejandro Sanz)
10 - Aquello Que Me Diste (Alejandro Sanz)

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