Um disco indispensável: Sounds of Silence - Simon & Garfunkel (Columbia Records, 1966)

Imagine que dois rapazes, com vozes bem doces que pareciam a de anjos estivessem entrando nas ondas do rádio saudando a escuridão, vendo ela como uma velha amiga, um violão bem soft, e ainda mais - se tornando um sucesso nos anos 60. Já imaginou? Pois é, agora imagine mais de um ano depois esta mesma música tocando no rádio e de repente - cabrum! - uma virada de bateria, uma guitarra que faz parecer uma baladinha roqueira. Foi isso que aconteceu com a música The Sound of Silence, um tema muito conhecido pela frase de abertura "Hello darkness my old friend" utilizada em vídeos quando a pessoa acaba se sentindo sozinha ou está naquela bad, momento triste, e se tornou um meme, havia sido um tema popular ainda no álbum Wednesday Morning 3 AM, até que o produtor Tom Wilson mexesse os pauzinhos na canção que tinha um primor só vozes-e-violão e acrescentou guitarra-baixo-bateria, sem que a dupla Paul Simon e Art Garfunkel, ou melhor - Simon & Garfunkel, notassem isso ou tivessem algum conhecimento, e acabou virando um sucesso maior, é a versão mais conhecida para os fãs, os antigos e os novos. Esta versão com corpo sonoro ganhou as rádios e entrou no disco sucessor do já citado anteriormente Wednesday Morning 3 AM, mas antes, vamos dar uma breve voltinha no tempo para explicar como o próximo álbum do qual estamos falando, nasceu. A dupla, existente desde o final dos anos 50, começou como Tom & Jerry e emplacou um rock na época, chamado Hey Schoolgirl e só vieram a se lançar como Simon  & Garfunkel mesmo em 1963, chamando a atenção de um executivo da Columbia Records, quando ambos já haviam se reencontrado, e gravaram seu álbum de estreia com o tema The Sound of Silence, que no início não havia vingado comercialmente. Simon foi tentar a sorte na Inglaterra no cenário folk em 1965, ano em que os Beatles - literalmente - dominam o mundo e lotam um Shea Stadium na cidade de New York (com um público estimado entre 50 a 100 mil pessoas), os Rolling Stones acabam também conquistando o mundo com o hit (I Can't Get No) Satisfaction e mostrando uma imagem de bad boy, uma versão contrária do bom-mocismo do quarteto de Liverpool e também com o folk elétrico de Bob Dylan que causou no Newport Folk ao colocar uma guitarra elétrica e ser chamado de traidor, tempos depois lança o hit Like a Rolling Stone que acaba se tornando uma das maiores canções emblemáticas da história, e que abre com tudo sua magnus opum - o álbum Highway 61 Revisted, até hoje o mais bem vendido de todos os seus álbuns. Retorna para o seu chão da América ainda nesse ano e descobre que aquela música feita há um ano atrás estourou com uma roupagem instrumental, e decide chamar Garfunkel para retomarem as atividades da dupla e gravando um álbum às pressas, na correria, enquanto a música rolava como nunca nas rádios.
Já abrindo o álbum, temos aqui The Sound of Silence (vulga música do "Hello darkness my old friend...") com aquele violão arrepiante e as vozes harmoniosas e quando o minirrefrão da música é pronunciado pela primeira vez, e no meio do segundo verso, a base acaba engrossando o caldo, e esta base foi acrescentada em junho de 1965 para ser lançada como single - e vingou muito! A próxima música que segue o repertório é Leaves That Are Green, composta por Simon e gravada anteriormente ainda na Inglaterra enquanto ele ainda fazia uma temporada por lá, gravou um álbum chamado The Paul Simon Songbook, e que conta aqui com um arranjo bem peculiar, um piano elétrico dando conta do recado logo na introdução e uma pegada bem raiz da música americana e não decepciona a gente aqui; da safra de composições de Simon temos também Blessed, que mostra um lado mais roqueirão na base, um blues-rock que não prejudica o repertório e faz bonito pra valer, com um toque até de lamento nos versos, onde se pergunta por que Vossa Onipotência (Deus) abandonou o eu-lírico dos versos da canção; a próxima faixa que aparece no repertório é Kathy's Song, outra faixa que também saiu do primeiro álbum solo de Simon, o violão dá um toque bem suave e sem tanto exagero, mas com muita simplicidade no arranjo; no meio disto, o álbum não deixa de desfilar peças sonoras maravilhosas, no caso de Somewhere They Can't Find Me, com cordas que trazem um ar mais primoroso dentro do arranjo da música; para complementar o repertório do álbum, contamos também também a faixa Anji - um tema instrumental de Davy Graham que acaba servindo como um algo mais, que Simon conheceu ainda na terra de origem do futebol e da rainha, e mostrando os dotes como violonista até; já em diante, podemos ter aqui mais outro tema de destaque que é Richard Cory, que traz uma guitarra bem country, e que Simon apenas musicou de um poema do estadunidense Edwin Arlington Robinson (1869-1935) e se transformando num belo tema - sem vacilar conosco, é claro; embora boa parte do repertório constitua-se dos temas gravados no primeiro trabalho solo de Simon, como no caso de A Most Peculiar Man, não é difícil encontrar nestas regravações um tropeço sequer quando se trata de pérolas como esta; outra que também veio originalmente do The Paul Simon Songbook é a belíssima e até um tanto que triste April Come She Will, que trata de um amor que chega e vai sem avisar, se destaca muito o violão bem tocado e harmonioso até, com menos de 2 minutos belíssimos de ouvir; na próxima faixa do álbum, temos um rockzinho bem nervoso até pela sonoridade, que é We've Got a Groovy Thing Goin', apesar da letra ter um clima meio pesado, se salva até pelos vocais e pela energia que a música carrega; e para terminar, temos aqui um dos grandes sucessos que este disco proporciona para a gente, e nós estamos falando de I Am a Rock (vindo do seu Songbook também), a história de um sujeito com quase nenhum sentimento e solitário, que evita o amor, e mesmo assim, que conquistou ouvidos ao redor do mundo.
Set do disco:
1 - The Sound of Silence (Paul Simon)
2 - Leaves That Are Green(Paul Simon)
3 - Blessed (Paul Simon)
4 - Kathy's Song (Paul Simon)
5 - Somewhere They Can't Find Me (Paul Simon)
6 - Anji (Davy Graham)
7 - Richard Cory (Paul Simon, musicado de um poema de Edwin Arlington Robinson)
8 - A Most Peculiar Man (Paul Simon)
9 - April Come She Will (Paul Simon)
10 - We've Got a Groovy Thing Goin' (Paul Simon)
11 - I Am a Rock (Paul Simon)

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