Um disco indispensável: Songs for Young Lovers - Frank Sinatra (Capitol Records, 1954)

O jovem de família simples que se tornaria uma das maiores vozes da história da música têm conseguido fazer em mais de sessenta anos de carreira o que hoje pode ser considerado um fenômeno em termos de vendagem, de músicas no topo das paradas e também atuando em filmes. Vindo de uma família descendente de italianos - mais precisamente da Sicília, Francis Albert Sinatra nascido no dia 12 de dezembro de 1915 na cidade de Hoboken em New Jersey teve uma infância muito difícil, sofreu uma acne cística que deixou cicatrizes em seu pescoço e seu batismo foi adiado. Frank aprendeu música de ouvido, se juntou no meio da década de 1930 ao conjunto The Hoboken Four e dali iniciaria-se a trajetória da maior voz de todos os tempos, e brevemente, o dono dos melhores discos já feitos na história da música: supõe-se que 5 entre 10 discos importantes são dele e se for procurar melhor, ele não fez apenas o papel de dar a voz em canções numa uma época onde moças eram bem mais respeitadas, os namoros tinham controles rígidos dos pais. Em 1946, após vários compactos, era lançado um álbum - na verdade um conjunto de compactos, que seria basicamente o primeiro long-play, o primeiro disco completo na história e com Axel Stordahl regendo-o com uma orquestra, que rendeu mais alguns discos. Antes disto, Sinatra foi no final da década de 1930 um dos crooners da orquestra de Tommy Dorsey (1905-1956) na época enquanto contratado da Columbia. Mas fora do lado artista, o seu casamento com Nancy Barbato acabou indo por água abaixo, sua vida estava conturbada em meio a tanto sucesso e o cantor estava tendo um affair com uma das grandes musas do cinema, a atriz Ava Gardner e por pouco não viu o seu mundo (quase) desabar quando a imprensa colocava muito a respeito de seu caso e acabou que Frank se separou, deixando com que os filhos Frank Jr., Nancy e Tina ainda surpresos com tanta divulgação sobre o fim do casamento. Isso fez com que a sua carreira artística fosse parada no começo da década de 1950 mas ele conseguiu dar uma grande volta por cima. Como? Simples, assim como outros colegas da geração, ele se consagrou nas telas do cinema a partir desse período e ainda rendeu um prêmio Oscar na categoria de Melhor Ator Coadjuvante em 1953 pela sua atuação em A Um Passo da Eternidade, um dos filmes onde obteve grande destaque atuando. Mas, seu contrato com a gravadora Columbia já não estava dando mais para ele, quase parado como cantor, ele logo precisou trocar de gravadora e nesse mesmo ano ele troca pela Capitol Records, aonde ali ele gravara discos de grande sucesso que o imortalizaram na história da música e o seu álbum de estreia na nova casa naqueles tempos é o tema principal desta resenha.
Lançado originalmente em fevereiro de 1954, o álbum Songs For Young Lovers conseguiu fazer com que suas músicas voltassem com tudo ao topo das paradas e conseguindo levantar a moral do "Old Blue Eyes" sem dúvidas e aqui também inicia-se uma longa parceria com o maestro e arranjador Nelson Riddle (1921-1985), que viria a trabalhar em outros discos da Voz e que transformaria-se em um de seus eternos parceiros musicais tanto na Capitol quanto na Reprise, gravadora que o cantor fundaria em 1961 em sociedade com seus sócios do The Rat Pack, sociedade que fundou ao lado de Dean Martin e também Sammy Davis Jr., velhos conhecidos do cantor. Para que o disco tivesse um status poderoso aos ouvidos do público, o cantor lembrou de sua experiência cantando em boates de Las Vegas e convencer seu novo produtor Voyle Gilmore de poder cantar algumas músicas que interpretara em locais como o hotel/cassino Riviera e no Sands e decidira utilizar nos arranjos onze músicos, diferente dos shows onde eram apenas oito, indicando que a orquestração era reduzida em seus recitais. E a estratégia deu certo, para a alegria dos fãs, que se encantaram com belas e doces canções entoadas por uma das mais potentes vozes que já se ouviu falar ao longo dos anos. Para começar a avaliar as faixas, nós iniciamos aqui com My Funny Valentine, um clássico dos standards composta em 1937 para o musical Babes in Arms, com um arranjo genial e sem deixar o primor se perder e que colocou em uma das melhores interpretações ao lado das versões de Billie Holiday, Ella Fitzgerald e Chet Baker entre outros grandes nomes; a faixa seguinte é outra pérola dos standards, intitulada The Girl Next Door, uma história de amor sobre um homem que se apaixona por sua vizinha e seu maior arrependimento é de nunca tê-la conhecido pessoalmente, um drama que soa bom para um folhetim de cinema para quem tem um ar inspirativo; e musicalmente nós cruzamos o Velho Continente através dos versos de A Foggy Day, uma história triste onde o eu-lírico vê-se uma tristeza num dia nevoso na cidade de Londres e complementando o arranjo aqui que dá um tom mais puro e profundo; já outra das mais conhecidas do repertório deste disco é Like Someone in Love, que é impossível não pular de faixa logo nos primeiros segundos da música, por soar tão soberba - em termos de letra e música, ganha um destaque enorme no disco, e uma das tantas que já foram regravadas ao longo do tempo; de um dos compositores favoritos do mister Sinatra na época, gravou I Get a Kick Out Of You, na pegada totalmente de valsa mais lenta, também complementa todo esse bailado que esse disco tem; e tendo aqui na faixa seguinte os mesmos compositores de My Funny Valentine, a dupla Lorenz Hart e Richard Rodgers conseguiram manter a criatividade em alta e escreveram Little Girl Blue, uma peça essencial para o quebra-cabeça que compõe este disco; e outros compositores que também contribuíram para este disco foram os irmãos George e Ira Gershwin, com a belíssima They Can't Take That Away From Me, marcado por um sofisticado arranjo de cordas que nos deixa a encntar de vez nossos ouvidos; e para fechar este repertório, Violets For Your Furs traz a sensação de que o baile acabou, mas que o grande Frankie ainda tinha mais o que cantar por diante, sem perder o primor que sempre teve. Brevemente, o disco foi um pontapé inicial para ajudar a engrandecer os sucessos de outros discos seus da Capitol Records, dentre eles o grandioso In The Wee Small of Hours (1955), até porque mesmo depois de morto, a sua música segue viva e duradoura igual ao vinho: quanto mais maduro, melhor.
Set do disco:
1 - My Funny Valentine (Richard Rodgers/Lorenz Hart)
2 - The Girl Next Door (Hugh Martin/Ralph Blane)
3 - A Foggy Day (George Gershwin/Ira Gershwin)
4 - Like Someone in Love (James Van Heusen/Johnny Burke)
5 - I Get a Kick Out Of You (Cole Porter)
6 - Little Girl Blue (Richard Rodgers/Lorenz Hart)
7 - They Can't Take That Away From Me (George Gershwin/Ira Gershwin)
8 - Violets For Your Furs (Matt Dennis/Tom Adair)

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