Um disco indispensável: Turn Blue - The Black Keys (Nonesuch/Warner Music, 2014)

No final de abril de 2014, o duo The Black Keys, formado por Dan Auerbach e Patrick Carney botaram nas lojas o álbum novo tão esperado pelo público e também surpreendente, algo do que a gente já possa ter ouvido nos anteriores Attack And Relase (2008), Brothers (2010) e o insubestimável El Camino (2011), que rendeu muitos prêmios ao duo e também reconhecimento mundial, que a banda já estava ganhando com o passar dos anos em meio ao seu jeito de reviver algumas fases do rock e ter muitas influências de bandas garageiras e de grandes monstros do rock and roll, alguns com quem já pegaram estrada e abriram muitas turnês, dentre estes, os Rolling Stones, que sempre foram referência no som pesado, sujo e cru dos músicos de Akron, cidade americana do estado de Ohio, foram escalados para participar de um dos shows de 50 anos da banda em 2012. Mas tudo ainda iria ter mais sequência, desta vez, Danger Mouse que produziu gente como Norah Jones, Cee-lo Green (este, com quem formou o Gnarls Barkley) entre outros, seria o produtor responsável do disco, uma parceria que já rendeu muitos sucessos nos três discos anteriores e que resultaram-se em Grammys, só do El Camino foram três: Melhor Álbum de Rock, Melhor Performance de Rock e Melhor Música de Rock para "Lonely Boy" e após as comemorações, se trancaram nos estúdios Sunset Sound em Miami com Danger Mouse e dali sairiam ideias, solos de guitarra, arranjos de base e letras que acabaram se tornando em um disco com influências do blues de garagem e do som psicodélico dos anos 60, sem deixar as principais influências de lado, acrescentando um pouco mais de influências de bandas dos anos 1970. O disco também é marcado por muita melancolia nas músicas e prova disto é a separação do vocalista e guitarrista Dan Auerbach da sua ex-esposa Stephanie Gonis, porém segue com a guarda provisória de sua filha Sadie, e também teve como origem do nome em um slogan usado por Ghoulardi, o alter-ego de horror do apresentador televisivo de Ohio nos anos 60, Ernie Anderson (1923-1997), e de acordo com o baterista Patrick Carney "Nós gostamos da associação com Ghoulardi, este tipo de aberração estranha de Ohio do início dos anos 60 - que era uma frase que ele costumava usar, e o álbum foi liricamente melancólico, introspectivo e pessoal, foi muito azul. Eu acho que isso sentido.", disse também sobre o motivo para o clima desanimado que o título capturou para este disco, feito durante dias quentes de verão de 2013 em plena Miami e depois partiram para Benton Harbor e em seguida, Nashville, a capital da country music e dos rodeios, onde alguns nomes da música pop fazem shows por lá também nessa época. O próprio Danger Mouse decidiu não só participar da produção do disco, mas também colaborar como foi em El Camino, nas músicas do disco, já que ele é quase um terceiro integrante dos Black Keys e concebendo a verdadeira alquimia psicodélica e alucinante obra do duo lançado neste ano, que já tem conquistados os fãs de jeito desde que uma música foi lançada meses antes.
O disco começa com uma música cheia de viagem sonora de quase sete minutos, cheia de longos solos de guitarra e teclados que nos lembrem um pouco o rock progressivo, chamada Weight of Love, provando que a banda ainda tinha muita coisa pra tocar; enquanto em In Time, uma mistura de psicodelismo com blues-rock e muita porrada garageira, de uma atmosfera tranquila e doce, sem precisar reclamar dos Black Keys quando se trata em fazer apenas um som único e parecem que não estão se preocupando com muitas coisas dessa vida, na qual a maioria das pessoas se mostram com a mente muito preocupada; logo em Turn Blue, que traz referências ao tal ídolo Ghoulardi e com um solo de guitarra matador de Auerbach, que prova ser um verdadeiro ídolo da guitarra e traz um pouco de cada acorde Hendrix, Clapton, Peter Green, Jerry Garcia carregados de muito blues-rock; na sequência vem Fever, que é o tema que antecipou o disco, fala no refrão sobre como a febre traz a pessoa de volta a viver, também carrega uma levada de pop oitentista, mais pelo fato dos sintetizadores aparecerem na música, trazendo ares mais dançantes; já em Year In Review, que ainda mostra um Black Keys soando tanto como em Attack and Relase, quanto em Brothers ou em El Camino, sem mudar o rumo da sua forma de fazer música; enquanto Bullet In The Brain, que lembra um pouco a música Breathe, de Pink Floyd, pela introdução, mas que aos poucos, vai se diferenciando e ganhando mais peso, aliás, a música já tinha sido apresentada meses antes em shows e performances na televisão; logo em It's Up To You Now, onde o baterista Patrick Carney solta os batuques e Dan Auerbach faz sua parte nos acordes de guitara, fala sobre os motivos que leva uma pessoa a fazer coisas que gosta e depois saber porque amigos e/ou amores se vão; enquanto Waiting On Words, a pegada de soft-rock bem acústica não deixa passar batido, e também mostra a história de um fim de relacionamento, onde alguém espera as palavras do amor que se vai sem dizer nada, movido por vocais emblemáticos; o pop sintetizante dos 80 volta em 10 Lovers, mostra um pouco de desilusões amorosas que nos remetem sobre o fim do casamento de Auerbach e sobre a guarda da filha, que nos versos "The little girl no comprehend, she had another dream that mother's gone. She's alright, but you're all wrong" (A garotinha pode não compreender, ela teve outro sonho que a sua mãe foi embora. Ela está bem, mas está tudo errado  - tradução livre) é como se estivesse falando da filha Sadie se preocupando com a ida da mãe; logo em In Our Prime, com uma introdução de piano, na levada de balada mostra um teclado alucinante na metade da música e um solo psicodélico que nos remete a uma viagem sonora relaxante, que nos faz voltar a 1967 sem nenhuma pretensão, lembrando os anos dourados da psicodelia em versos e música; o final em Gotta Get Away, de pegada hard-rock e country, mostra que com um ar mais Nashville se pode encerrar um disco com estilo, que só os Black Keys tem, sem tentar mudar para inovar musicalmente e artisticamente.
Como se muito esperava das tais 11 faixas do álbum, é comum perceber que os Black Keys conseguiram se superar como sempre a cada disco, sempre nos levando a uma viagem sonora. Sem dúvidas, foi também um dos melhores discos que foram lançados neste 
ano, surpreendendo de vez os fãs de rock e do trabalho do duo, já prova que são uma das maiores surpresas que já aconteceu nos últimos quinze anos, e é claro, fazendo um som que poucas bandas fazem hoje.
Set do disco:
1 - Weight of Love (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
2 - In Time (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
3 - Turn Blue (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
4 - Fever (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
5 - Year In Review (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
6 - Bullet In the Brain (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
7 - It's Up To You Now (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
8 - Waiting On Words (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
9 - 10 Lovers (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
10 - In Our Prime (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)
11 - Gotta Get Away (Dan Auerbach/Patrick Carney/Danger Mouse)











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