Um disco indispensável: O Terno - O Terno (Tratore, 2014)

O grupo paulista O Terno, ganhou os méritos de revelação da década depois que lançou o álbum de estreia 66 (2012) e teve o clipe da faixa que leva o nome do disco como um dos mais assistidos no YouTube entre 2012 e 2013 e ainda deu um tempo para seguir mostrando o som mais retrô, mais com origens nos anos 60 e referências mais psicodélicas e vanguardistas como sempre, e o álbum seguinte manteria-se com o mesmo foco de 66, sem deixar as principais influências de lado. Em 2013, o vocalista Tim Bernardes decidiu começar a trabalhar em suas letras durante este período e o começo do ano de 2014, quando a banda já apresentava suas músicas novas e acabaram impressionando críticos, fãs e amantes da música que seguem até hoje aplaudindo o grupo O Terno por onde passam, do Oiapoque ao Chuí sem deixar de seguirem fazendo o mesmo som de sempre. "A gente não quer ser visto como 'líder' de um movimento", disse o vocalista e guitarrista Tim Bernardes, quando se trata do fato de o grupo fazer rock and roll do jeito deles, sem deixar de lado o jeito mais aprimorado, sotisficado e ácido da banda e isso fez com que o ritmo da viagem sonora d'O Terno seguisse soando perfeito como nunca, e nesse novo disco gravado, mixado e produzido inteiramente pelo trio e pelo amigo Gui Jesus Toledo no estúdio Canoa, em São Paulo "Nesse trabalhos fomos além do tropicalismo e da jovem guarda, mas também se focamos no brega, no blues-rock e um pouco de música experimental", recorda Tim sobre as músicas e as influências, "Tivemos escutado Tame Impala, que é uma das bandas com a qual nos identificamos muito durante a elaboração do disco" e o resultado não é nada mais do que um ótimo álbum com as 12 faixas inteiramente compostas por Tim e todas estas, se sobressaíram em matéria de arranjos e letras. Se quiserem buscar conhecerem mais o trabalho deles, ouçam também o primeiro, 66 e o novo álbum deles, que recebeu muitos elogios pela VEJA, O Globo, Rolling Stone e todos os blogs e páginas sobre músicas. Os convidados deste álbum foram mais do que especiais, dentre eles o baiano Tom Zé, o cantor e músico Marcelo Jeneci apenas no órgão, Pedro Pelotas, da banda gaúcha Cachorro Grande, além do guitarrista Luiz Chagas, que deram um toque a mais neste disco.
O começo do disco nos leva a uma música estilo jovem guarda, com ares bregas dos anos 60 e 70, na qual se pode notar muito os órgãos e as levadas roqueiras sessentistas em Bote ao Contrário, que parece não ter sido gravada em 2014, mas em tempos de Jovem Guarda mesmo, como se nos remetesse aos tempos de 1965 a 1969; já em O Cinza, de atmosferas mais dramáticas e melódicas, com uma introdução que lembre um pouco Jimi Hendrix e Led Zeppelin com peso, partindo para uma viagem sonora alucinante e lenta, com peso no refrão; mas o romantismo em Ai, Ai, Como Eu Me Iludo é uma prova de que o amor estilo dor-de-cotovelo sempre cai bem numa canção bem mais cheia de melodismo, sem deixar o psicodelismo de lado,contando com Pedro Pelota; a viagem sonora ainda segue em Quando Estamos Todos Dormindo, onde em um ritmo de valsa, como se estivesse sonhando coisas e ainda encerra assumindo "E eu sou uma dessas almas penadas que disse a verdade de um sonho de um menino que agora canta", com a presença de Marcelo Jeneci no órgão; logo em Eu Confesso, o  guitarrista Tim põe pra fora suas revelações de gostar das meninas do bairro onde mora, num tom baladista e sem muita pieguice; o grupo se sobressai até em inglês na faixa Brazil, a única faixa de idioma diferente e também fazendo um uso do canto falado, na qual Tim fala do seu ponto de vista sobre o país como uma selva, um paraíso natural; o lirismo em Pela Metade já deixa um gosto de que o romantismo ainda segue com uma linguagem mais ácida, irônica e isso em menos de dois minutos; o fato do grupo ter influências da vanguarda paulista, o que originou a faixa Vanguarda? trouxe uma conclusão "Fomos muito rotulados  como 'Filhos da vanguarda' e confesso que acho isso muito besta", disse Tim Bernardes à Rolling Stone brasileira, na qual respondem aos que enquadravam o som da banda como "algo à frente de uma geração" e fez compreender o fato de compararem o grupo como os sucessores de uma geração que já dominou há tempos; Tim, mais o baixista Guilherme D'Almeida e o baterista Victor Chaves seguem se superando em temas que surpreendem de cara, é o caso de Quando Eu Me Aposentar, trazendo um pouco mais de dúvidas sobre o futuro e sobre o cotidiano; a presença de Tom Zé já deixou um gosto de convidado especial de alto nível, e a sua voz em Medo do Medo, uma viagem sonora que é imperdível; já em Eu Vou Ter Saudades, traz aquele lado mais melódico, de desilusões amorosas quando um amor logo nos deixa, de um jeito mais sentimental; o final fica por conta de Desaparecido, uma canção na qual Tim ao piano, conta uma história sobre alguém que desaparece de um jeito, soa como uma letra cinematográfica e puxada por um belo arranjo de piano que faz encerrar o disco de vez com chave de ouro.
O disco, para ser lançado, teve que ser realizado um multirão pelo site Catarse, uma rede social de financiamento coletivo na qual fãs, amigos, colaboradores ajudavam por internet a fazer os lucros de pagamento da banda para que pudessem pagar as prensagens do CD e do vinil, além da parte da arte do disco, na qual a capa é uma pintura feita por Renata de Bonis e parte das gravações e da masterização, feita em São Paulo no estúdio El Rocha. Enfim, o pagamento foi acima do esperado e bem quando encerrou-se as colaborações via Catarse, e ainda foi feito um documentário satírico aos da série Classic Albums, na qual comparavam o trabalho d'O Terno com o de gigantes, na qual até Ringo Starr, Pete Townshend, Stevie Wonder, David Gilmour em depoimentos originais da série e a presença de amigos como Tom Zé, Wandi Doriatiotto ("eu vou mostrar para moçada como fazer"... traz alguma lembrança da voz dele?), Gabriel Basile como filho do baterista Victor Chaves, Carneiro Sândalo em um curta de menos de oito minutos definindo um álbum "clássico", logo como uma prévia do disco. O que você espera do álbum do grupo O Terno é uma porrada psicodélica, com momentos suaves, cheio de sonoridades clássicas que você chega a pensar que esse disco não foi gravado mesmo em 2014, mas como há mais de quarenta anos atrás.
Set do disco:
1 - Bote ao Contrário (Tim Bernardes)
2 - O Cinza (Tim Bernardes)
3 - Ai, Ai, Como Eu Me Iludo (Tim Bernardes) 
4 - Quando Estamos Todos Dormindo (Tim Bernardes)
5 - Eu Confesso (Tim Bernardes)
6 - Brazil (Tim Bernardes)
7 - Pela Metade (Tim Bernardes)
8 - Vanguarda?/Filhos da Vanguarda (Ou Não) (Tim Bernardes)
9 - Quando Eu Me Aposentar (Tim Bernardes)
10 - Medo do Medo (Tim Bernardes)
11 - Eu Vou Sentir Saudades (Tim Bernardes)
12 - Desaparecido (Tim Bernardes)


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