Um disco indispensável: WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? - Billie Eilish (Darkroom/Interscope Records/Universal Music, 2019)

A década de 2010 fechou com um belo impacto na música: se no início desta quem ditava as cartas era o canadense Justin Bieber, que, no ano de 2010, aconteceu quando tinha de 15 para 16 anos e tornou-se o fenômeno pop mundial com suas canções que tinham um clímax no estilo de Usher, Chris Brown e congêneres - e torna-se o centro das atenções do cenário musical e das revistas de celebridades. E, eis que em 2017, surge no cenário uma jovem de 15 anos, com a mesma força que seu ídolo Justin conseguiu atrair um público na internet anos antes, uma californiana de Los Angeles chamada Billie Eilish Pirate Baird O'Connell, ou simplesmente Billie Eilish - filha de conhecidos no meio do entretenimento, nascida no 18 de dezembro de 2001, irmã mais nova de Finneas - ambos sempre foram muito unidos e próximos e esse acercamento foi muito importante para o futuro de ambos, pois Billie sendo educada dentro de casa e criada como vegetariana (ela é vegana desde 2014), acaba mostrando-se uma menina talentosa com talento para o canto e ingressa no Coro Infantil de Los Angeles aos 8 anos de idade. Passou-se o tempo e ela descobriu o então fenômeno do teen pop Justin Bieber, uma de suas principais influências durante a nova jornada da vida, logo a adolescência, e com isso algumas passagens por experiências com depressão, e sua vida começa a tomar rumos diferentes e visões diferentes do mundo e da humanidade. Na década de 2010, podemos dizer que as herdeiras da geração que consagrou Britney, Christina, P!nk, Beyoncé, aclamou de vez as Gaga, Katy, Rihanna, Taylor e ainda deu espaço para que teenstars vinda de séries em canais infantojuvenis como Miley Cyrus, Demi Lovato, Selena Gomez e Ariana Grande - esta última, ao contrário das outras três vindas da Disney, surgiu na Nickelodeon. Eis que, em outubro de 2015, Billie decide gravar uma faixa do irmão que tinha uma banda, e isso é o pontapé para um salto no escuro de uma trajetória - Ocean Eyes foi compartilhada através do site de música Soundcloud em novembro do mesmo ano. E logo em seguida, vieram os outros trabalhos no decorrer de 2016 até que lança seu primeiro conjunto de canções - simples - um extended-play (EP) chamado Don't Smile At Me na qual tinha além de Ocean Eyes agora relançada, contendo também Bored - da série exclusiva da Netflix, 13 Reasons Why - que ajudou ainda mais a promover-se como artista. Em 2018, ela seguiu gravando singles em parceria com seu inseparável parceiro musical e irmão de sangue, biológico e de loucuradas sonoras, diga-se de passagem - e nesse meio-tempo, o seu nome já era visto como uma grande estrela do pop, mesmo com tanta desconfiança de uma moça com um penteado de cor diferente a cada momento, usando roupas largas e folgadas sempre extrovertidas - chegando a lembrar não tanto uma tal Lady Gaga na hora de sempre vestir looks diferentões. 2019 parecia prometer mesmo, depois do lançamento do álbum de Beyoncé com o amado JayZ ainda em meados do ano anterior, e Ariana Grande colhia seus benditos frutos com Sweetener, seu quarto álbum, seis meses antes de seu também brilhante thank u, next. A estreia solo de Camilla Cabello após a sua saída do Fifth Harmony com o emblemático single Havana, já Cardi B estava a acontecer total de vez após aparecer em Finesse com Bruno Mars e lançava seu Invasion of Privacy, acontecendo total com a consagração de melhor álbum do ano pela Rolling Stone e pela Time. E entre maio e dezembro deste 2018, na casa dos O'Connell em Highland Park, eles compunham, produziam e concebiam materiais sonoros para o que viria a se converter em um provável álbum logo de cara.
O pop ganhava mais uma nova bíblia, o mundo da música ganhava mais um álbum excelente e provavelmente importante para a história - com apenas os dois gravando os instrumentos, ou seja, um modus operandi familiar e independente, mesmo que com a mão de um selo importante da Universal Music, logo a Interscope mais a The Darkroom - o resultado que saiu em 29 de março acabou sendo surpreendente com o nome de WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO? (sim, tudo em maiúsculo) com um título fazendo uma metáfora do sono, se quando a gente dorme, onde a gente posa estar? Em um tipo de campo de distorção da realidade? um universo paralelo? nos nossos sonhos e pesadelos? isso, só Eilish sabe responder. Mas, logo na abertura, a canção !!! é uma vinheta de 14 segundos e um cartão de visita para o seu trabalho, com umas conversas entre ela e o irmão, eles dão uma espécie de deixa para o que vêm a seguir: baixo pulsante e marcante, bumbo que marca o ritmo = essa linha perfeita é a base que gera bad guy (sim, as canções levam os nomes em minúsculo) mostra a cantora vivenciando um namoro em que ela é o cara mau e não o seu parceiro amoroso, com um solo instrumental que lembra as comédias de terror estilo Os Monstros e A Família Addams, e que com um pop soturno, migra cerca dos 2:40 para uma atmosfera sonora de trap que arrepia cada acorde e sua voz suave e sussurrante fica um pouco mais insana com a parte final; em seguida, damos a bola da vez para xanny, na qual fala sobre um rolê entre amigos que bebiam mais e vomitavam e ela se definia como a fumante passiva bebendo uma Coca que não precisa de um xanny pra ficar melhor - o tal xanny é uma forma como chamam um remédio para tratar a ansiedade, o Xanax, também visto como uma droga recreativa - com um ambiente jazzy e uma batida profundíssima além de uma melodia que também marca; sem perdermos o rumo da viagem, continuamos com you should see me in a crown, criada após os irmãos assistirem ao episódio de nome The Reinchhenbech Fall, o terceiro e último episódio da segunda temporada da série Sherlock da qual o título desta foi retirada de uma frase dita por um personagem, e no refrão dá pra sentirmos que continua com um impulso no ego e um reconhecimento no novo status de celebridade - mas também sugere a metáfora de não ser totalmente sobre Eilish e sim sobre outra pessoa, e provavelmente com base total na perspectiva do personagem da série, o vocal e a base no começo dão a deixa para uma levada de hip hop potente no refrão que dá a prova de que é um grande destaque aqui; em diante, Eilish ainda nos presenteia com all the good girls go to hell, na qual faz mais outra metáfora, desta vez entre Deus e o Diabo olhando para o povo pensando o que nós estamos fazendo aqui, ainda traz referências sobre o aquecimento global e com uma energia rap-pop indescritível, novamente criação da dupla de irmãos insuperáveis e inseparáveis; das sensações pessoais da vida expressadas por Eilish como a de ficar com um amigo supostamente gay são notáveis em wish you were gay, tratando aqui sobre uma atração que não era totalmente recíproca, e após o lançamento desta, o rapaz assumiu, mas o que fica impresso é a atmosfera dark-trap que chega antes dos 40 segundos de música dá mais vida e corpo sonoro - se é que me entendem; depois disto, ainda sobra tempo para canções de atmosfera poética-sonora mais intimista, como no caso de when the party is over, que traz corais marcantes, e sua voz destacando-se mais do que o instrumental em uma narrativa em que distancia-se de sua parceira com um clima mais de raiva do que de tristeza, e o piano dá um toque perfeito à esta, e o disco se salva novamente com este hino; na oitava faixa do álbum de nome 8, uma espécie de canção de ninar onde aqui ela soa como uma criança cantando acompanhada de um ukulele e beats, a música originalmente chamava-se see through, mas aqui com uma versão bem diferente, e a letra traz a perspectiva de alguém que teria machucado - profundo mesmo; aproximando-se de uma estética mais pop possível, sem perder a atmosfera sombria, my strange addiction, que se destaca não só pela energia full pop, mas pelo uso de diálogos da série The Office, mais precisamente do episódio Threat Level Midnight com a devida permissão de Steve Carrell, B.J. Novak, John Krasinski e Mindy Kaling para o uso dos diálogos dos atores na faixa; em seguida, uma voz anunciava "Billie" dando a deixa para esta soltar a voz em bury a friend, composta a partir da perspectiva de um monstro em baixo da cama, e a sensação de explorar sobre o que esta criatura está a fazer ou a sentir - a batida flerta um tanto com o industrial quanto com o electro e a batida nervosa salva sempre aqui e a música fecha com a frase o nome deste álbum WHEN WE ALL FALL ASLEEP, WHERE DO WE GO?; em diante, Eilish explora através de um jogo do Xbox a questão de unir dois personagens localizados em extremidades de um quebra-cabeça, o ilomilo - tratando sobre o medo da separação e com referências à jogabilidade, com uma pegada electropop fofa que dá o tom exato para esta música; com um piano suavizante que mantêm o primor combinado à voz, listen before I go traz a perspectiva de alguém prestes a cometer suicídio e aqui não apresenta muitos caprichos a serem acrescentados, além de ruídos de rua e uma sirene presente no final - quase uma crônica reflexiva, que, se formos prestar atenção, ainda faz a ponte com i love you, que é parecida com a anterior, mas traz um violão e um sample de uma aeromoça começando a falar e um avião a decolar, mas é sobre como às vezes é um saco estar apaixonado, e a base ainda carrega essa sofisticação presente nas canções restantes; o final deste álbum fica por conta do que pode ser uma retrospectiva deste álbum, notada em goodbye, onde os vários versos das outras canções do álbum são entoados, de forma invertida, como se estivesse rebobinando uma fita, e é a sua despedida deste álbum.
Quando todos nós dormimos, para onde vamos depois de ouvir este trabalho? A um universo tão profundo, sombrio e noturno que parece não existir a luz do dia, onde Billie expõe suas confissões pessoais, suas jornadas pela vida e uma fantasia nada comum para uma adolescente de 17 anos (ela completou dezoito no 18 de dezembro recente) que nada tem muito a ver com as cartilhas exigidas pelo pop de costume: botar letras empoderadas, festivas, dramas pessoais romantizados com clipes superfaturados e produtores aclamados com receitas a nível de hit como Max Martin, Stargate, Shellback, Pharrell e por aí vai. É o pop artesanal dos irmãos O'Connell feito em casa da forma deles próprios sem mãos de outros terceiros que conquistou o mundo, ofuscando de vez lançamentos como o de Taylor Swift (Lover) e Ariana Grande (thank u, next) rendendo o 2° lugar dos melhores álbuns de 2019 pela Rolling Stone (o 1°ficou com Ariana mesmo) e em seguida levando cinco estatuetas Grammy: Melhor Artista Revelação, Álbum do Ano (justo este!), Melhor Álbum Vocal Pop, e bad guy ainda ajudou a vencer as categorias de Gravação do Ano e Canção do Ano - nada mal mesmo! Ela ainda pode dominar ainda mais no mundo da música, e, não se preocupem, que, o álbum segue sendo mais um registro importante da música no século XXI que jamais será esquecido pelas gerações posteriores.
Set do disco:
1 - !!! (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
2 - bad guy (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
3 - xanny (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
4 - you should see me in a crown (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
5 - all the good girls go to hell (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
6 - wish you were gay (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
7 - when the party is over (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
8 - (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
9 - my strange addiction (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
10 - bury a friend (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
11 - ilomilo (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
12 - listen before I go (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
13 - i love you (Billie Eilish/Finneas O'Connel)
14 - goodbye (Billie Eilish/Finneas O'Connel)

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